Função da substituição dos rebocos
Um complexo de humidade ascendente traz, rapidamente, consigo uma certa quantidade de sais solúveis, provenientes do terreno, transportados pela água para dentro da parede; estes são deixados para trás conforme essa água evapora e fica mais concentrada em certos sítios.
Alguns desses sais são higroscópicos, ou seja, são capazes de absorver água a partir do ambiente envolvente. Em resultado disso, os rebocos e as alvenarias afectados podem ficar humedecidos, mesmo que a origem da humidade que levou à acumulação desss sais tenha sido eliminada.
Torna-se evidente que qualquer edificação que tenha estado submetida a um complexo de humidade ascendente, durante um longo prazo, deve ter um certo grau de contaminação por sais nos rebocos e nas alvenarias subjacentes.
Esses sais podem, por si próprios, causar a degradação em certos tipos de decoração, mesmo que estejam presentes em relativamente baixas quantidades.
Na sequência da execução de uma barreira hidrofugante de tratamento, uma parede húmida pode levar meses para secar (Building Research Establishment Digest 163).
Além disso, devido às limitações das barreiras químicas hidrofugantes, é provável que a parede permaneça sempre húmida na base (esta é uma consideração importante quando se avalia a eficácia de uma barreira hidrofugante de tratamento).
Onde a contaminação com sais higroscópicos for muito pesada, a parede pode nunca secar adequadamente, em consequência da continua absorção de humidade a partir do ambiente envolvente.
Sob condições da humidade muito elevada, alguns desses sais podem tornar-se deliquescentes, ou seja, podem absorver tanta humidade que se tornam líquidos. Eles podem mesmo provocar o humedecimento da alvenaria.
A remoção das velhas decorações e dos estuques contaminados é essencial porque:
- Assim se remove a superfície contaminada que pode provocar degradações em quaisquer novas decorações.
- Para se evitar que as novas superfícies fiquem contaminadas e húmidas, o novo estuque tem uma função muito importante e específica. Que é a de evitar a passagem, por difusão, da humidade residual e dos sais contaminantes, a partir da parede subjacente, para a nova superfície e, assim, evitar futuras degradações. E existe a própria limitação de desempenho da barreira hidrofugante que, provavelmente, irá deixar a parte inferior da parede permanentemente húmida.
Estas funções e a importância do reboco de substituição estão descritos no “Building Research Establishment Defect Action Sheet 86”.
Nunca é demais sublinhar-se a importância deste reboco de substituição. De facto, ele deve ser considerado tão importante como a barreira hidrofugante injectada, se não mais importante. Tem sido muito discutido se um determinado problema com humidade é consequente do falhanço da barreira hidrofugante de tratamento ou de um reboco novo inadequado.
Nestes casos, o reboco deve ser examinado tal como a eficácia da barreira hidrofugante, já que é, geralmente, o mais dispendioso de executar entre os dois.
A obtenção das funções de projecto
Para se conseguirem as funções de projecto acima referidas, é essencial a utilização de:
- Uma mistura densa de areia/ cimento, de preferência incorporando um “hidrofugante” ou um “inibidor de sais”. O “hidrofugante integral” e os “inibidores de sais” especificados para serem incorporados nos rebocos baseados em cimento desempenham as mesmas funções – eles são usados para auxiliarem a restringir a passagem da humidade para a superfície decorativa. Os sais só podem mover-se ou espalhar-se em solução, pelo que a restrição do fluxo de água também restringe a passagem desses sais.
- Em alternativa, pode ser usado um dos “rebocos de renovação” especiais pré-doseados, estudados para serem usados nestas condições e, de preferência, que sejam portadores de um Certificado de Homologação.
A limitação da “ponte” através do reboco (mas não através de um acabamento com gesso) pode provocar não o falhanço de uma barreira hidrofugante de tratamento (ver acima). É certamente aconselhável deixar-se esse novo reboco cortado perto de qualquer pavimento maciço; isto vai reduzir alguns riscos de degradação, os quais são maiores na base das paredes, pelas razões já acima referidas. Em nenhuma circunstância devem ser usados estuques leves pré-doseados à base de gesso e cimentos leves ou outros revestimentos de elevada porosidade.
Nota sobre edifícios históricos ou classificados:
Embora a execução de uma barreira hidrofugante de tratamento possa controlar a humidade ascendente, é improvável que a consiga deter; no entanto, não faz mal nenhum que ela, pelo menos, reduza o fluxo de humidade no material (N.B. No entanto são necessárias algumas considerações antes da injecção de uma barreira hidrofugante nas construções com adobo : Trotman, P.M. – “Dampness in Cob Walls”, BRE, 1995).
O principal problema é encontrado onde ainda permanecerem rebocos antigos. Estes podem estar gravemente manchados, pesadamente contaminados com sais e degradados. Neste estado, eles demonstram claramente que houve um problema evidente, e não é provável que a substituição de tais materiais faça muito melhor a longo prazo!
Assim, removerem-se estes materiais e aplicarem-se novos rebocos de cal é muito provavelmente conduzir-se ao aparecimento de problemas semelhantes – os rebocos de cal são muito permeáveis (apesar de, aparentemente, não serem mais permeáveis ao vapor do que as misturas de areia/ cimento na ordem dos 1: 6) e, assim, é muito provável que se deixem atravessar pela humidade/ coloração/ sais já existentes no substrato.
Assim, podem acontecer degradações de novo, num curto período de tempo, e o reboco de cal é uma camada sacrificial muito dispendiosa!
Deve-se reparar, também, que a contaminação com sais, só por si, pode passar para o novo material permeável, a partir do substrato, sem que esteja presente qualquer água “livre”; isto pode acontecer quando esses sais se tornam “deliquescentes” (ou seja, quando se tornam líquidos e, portanto, móveis) sob condições de elevada humidade.
Não há nenhum problema com a situação anterior, desde que o proprietário esteja preparado para aceitar que isto se pode verificar mas, como anteriormente declarado, isto faz com que o reboco de cal seja um material “sacrificial” muito dispendioso, porque, conforme se vai degradando, tem que ser periodicamente substituído, caso esse proprietário pretenda uma superfície limpa e decorativa.
Existe sempre o argumento de que deve ser usado o reboco de cal, mas se ele permitisse às paredes “respirarem” (?), então, e antes do mais, nunca deveria ter existido nenhum problema!
Pode também surgir um problema com a utilização das mais fortes misturas de areia/ cimento, conforme acima descrito; para cumprirem com as suas funções de projecto especificadas, as misturas deste tipo podem ser demasiadamente fortes para os seus suportes.
Pode ser possível a utilização de uma rede de metal expandido para auxiliar à coesão mas, talvez a melhor prática, desde que seja aceitável, possa ser o emprego de uma técnica de revestimento seco, para se proporcionar uma superfície decorativa que não se degrade. No entanto, pode ser possível usar-se um estuque especializado “para renovações”, os quais são, geralmente, menos “fortes” do que as densas misturas tradicionais de areia/ cimento (ver a seguir).
A resposta às questões postas pela hidrofugação e da substituição dos rebocos pertence claramente ao Proprietário – quais são as suas expectativas e o que é que ele está disposto a aceitar.
Se ele pretende uma superfície decorativa limpa e que não se degrade, então deve ser encarada uma qualquer opção relativamente à substituição de rebocos / acabamentos, mas se ele se sentir suficientemente feliz com um certo grau de manchas / degradação, então deve ser tida em certa consideração a opção de se deixar o material velho, mas fincado-se ciente, em primeiro lugar, da causa que provocou a sua degradação.
MAS LEMBREMO-NOS – temos que nos assegurar que nem a madeira nem qualquer outro material biodegradável fica em contacto com qualquer forma de humidade – iria correr um elevado risco de se desenvolver a sua podridão!
Altura da substituição dos rebocos
A substituição dos rebocos deve ser executada até uma altura acima da ascensão máxima da humidade e da contaminação com sais. A humidade sobre, frequentemente, acima de 1 metro, sendo esta altura governada por numerosos factores, incluindo-se entre eles a estrutura dos poros e as taxas de evaporação.
Por exemplo, a restrição dos processos de evaporação faz com que a humidade atinja alturas maiores do que se a superfície for deixada bem ventilada.
Isto fica bem ilustrado nas paredes espessas em que a humidade tende a subir mais alto do que nas paredes mais finas, como consequência da sua menor relação entre superfície de evaporação e volume.
Por vezes, onde uma barreira hidrofugante de tratamento se revelar ineficaz, a humidade pode subir acima do novo reboco, em resultado de a baixa permeabilidade deste retardar a evaporação da água proveniente da alvenaria subjacente.
Isto tende a “encorajar” a humidade ascendente activa a subir mais alto. De forma semelhante, o novo reboco pode não ter sido executado até uma altura suficiente, deixando acima de si o velho reboco contaminado com sais.
Ambos os casos podem produzir um padrão de leituras num humidímetro eléctrico, ou seja, leituras muito altas logo acima da linha do novo reboco, mas, para se poder distinguir entre os dois problemas, podem ser necessárias análises para a determinação da humidade e dos sais.
Se estes problemas ocorrerem acima da linha do reboco novo, isso demonstra a eficácia da aplicação de um bom reboco no desempenho das suas funções de projecto desejadas.
Problemas de projecto e defeitos
Talvez o defeito mais vulgarmente encontrado na substituição de rebocos seja o uso de misturas de areia / cimento fracas. O Building Research Establishment Defect Action Sheet N.º 86 identifica que, onde forem usadas misturas de cimento / areia, estas devem ser de 1: 3 de cimento para areia ou, em alternativa, deve ser usado um reboco pré-doseado especificamente formulado para este efeito; estes últimos materiais são especialmente úteis sobre os fundos mais fracos.
AS BARREIRAS QUÍMICAS CONTRA A HUMIDADE 8 – 10
O uso de misturas muito mais fracas, ou seja, por vezes mais fracas que 1: 6 de cimento para areia, ou então onde foi adicionada cal (por ex. 1: 1: 6 de cimento, cal e areia), é muito provável que conduza a um reboco mais poroso, o qual não é provável que consiga cumprir com as requeridas funções de projecto.
As misturas de cal/ areia também podem sofrer do mesmo problema (ver acima).
O uso de uma areia mal graduada, contendo uma elevada proporção de finos, especialmente nas misturas fracas de cimento, também aumenta os problemas.
A imagem a seguir mostra o resultado da graduação de duas areias conforme o BS882:1992; a areia de baixo contém, de longe, muito mais “finos” e pode ser inadequada para ser usada a seguir aos trabalhos de instalação de um barreira hidrofugante.
A espessura insuficiente do reboco também pode auxiliar à aparente falha das suas especificadas funções de projecto. Nos casos anteriores, as misturas fracas de cimento não evitam a difusão dos sais e da humidade residual a partir da alvenaria subjacente, o que, potencialmente, pode danificar a nova superfície decorativa.
As misturas porosas de cimento/ areia também se tornam contaminadas pelos sulfatos solúveis que se espalham a partir das alvenarias subjacentes.
Entretanto, pode acontecer um ataque por sulfatos alcalinos, os quais provocam uma séria desintegração nos rebocos de cimento. Acontecem danos semelhantes onde tiverem sido aplicados rebocos de cimento sobre estuques de gesso (sulfato de cálcio), ou onde for adicionada uma certa proporção de estuque de gesso a uma mistura de cimento, para se obter uma presa rápida.
Neste último caso, por vezes, podem ser observados pequenos flocos de mica esfoliada sobre os materiais (vermiculite), parte constituinte dos estuques aligeirados. Também podem ser vistos bocados de gesso rosado ou acinzentado na mistura, se uma sua amostra for examinada de perto.
Onde for usado estuque de gesso para a fixação de ângulos de metal, pode ocorrer uma severa expansão e desintegração do reboco de cimento sobreposto ou adjacente; isto é provocado, novamente, por um ataque pelos sulfatos.
Um problema vulgar, associado com a prática da construção, é deixar-se um estuque, incluindo se o estuque de acabamento em gesso, por trás ou por baixo de uma membrana impermeável e do remate vertical da impermeabilização do pavimento.
Isto acontece quando a substituição do reboco é acabada antes da colocação de um novo pavimento maciço. Frequentemente, a borda da membrana impermeabilizante é cortada muito curta ou enrolada durante a execução do pavimento. Isto não só não cumpre com as recomendações descritas no BS CP102:1973, como também vai provocar outros problemas.
Tais casos resultam geralmente em humidades limitadas à proximidade do nível pavimento, ou imediatamente por cima dos rodapés e, também, em redor do perímetro desse pavimento maciço.
Finalmente, em situações onde foram usados papéis de parede de cor clara, especialmente papéis relativamente impermeáveis, podem aparecer áreas mais escuras espalhadas. Sob exame, estas demonstram terem sido provocadas pelo crescimento de bolores negros nas traseiras desse papel de parede.
A sua causa é devida à humidade na parede, a qual provoca uma humidade elevada por baixo do papel, e esta alimenta o crescimento do bolor. Encontram-se, por vezes, depois de trabalhos de hidrofugação, mas o bolor pode aparecer em quase todas as situações em que se encontrem humidades elevadas na alvenaria subjacente.
Deve-se ter cuidado, portanto, na selecção dos novos acabamentos decorativos; a decoração inicial deve ser encarada como sendo de natureza temporária, enquanto toma lugar o processo de secagem.