Introdução
A conservação e restauro de monumentos e zonas históricas urbanas ou rurais são disciplinas que exigem uma formação específica.
O rápido desenvolvimento dos materiais e técnicas de construção, que se afastaram da prática tradicional, e as descobertas científicas, que colocam novos métodos à disposição de todos aqueles envolvidos na defesa do património, são aspectos decisivos na divisão entre a arte da construção e a ciência da conservação e restauro.
Estes aspectos introduzem na conservação do património uma dimensão e carácter próprios, sendo extraordinariamente difícil respeitar o património sem formação e conhecimento específicos.
O conhecimento e formação cobrem uma variedade muito abrangente de áreas, muitas das quais não estão incluídas na formação tradicional oferecida a engenheiros civis e arquitectos, os profissionais usualmente mais envolvidos na conservação do património.
Estas áreas incluem a arqueologia, a história da arquitectura e do urbanismo, o planeamento urbano, a forma estrutural da arquitectura e a utilização dos materiais tradicionais, o estudo dos seus mecanismos de deterioração e os métodos de consolidação ou substituição, e, finalmente, a história da filosofia e ética da conservação.
A qualidade de uma intervenção assenta na integração dos conceitos descritos pelo coordenador da intervenção, que deverá possuir qualificações generalistas nas áreas descritas e a capacidade para se rodear de especialistas adequados nos casos em que tal for necessário.
Após a realização dos trabalhos e a decisão da intervenção apropriada ao caso em estudo, resulta essencial o planeamento adequado da intervenção que, necessariamente, se irá reflectir sobre o projecto e sobre as condições técnicas do caderno de encargos.
A qualidade destes dois elementos baliza de imediato a qualidade da intervenção, sendo, infelizmente, corrente que os problemas de execução sejam resolvidos em obra, por indivíduos com preparação técnica menos adequada.
A ideia que as construções que sobreviveram durante séculos sem danos ou com danos menores já demonstraram a sua segurança parece receber uma aceitação generalizada.
No entanto, existem inúmeras situações em que este raciocínio é inválido porque a capacidade resistente da construção pode-se reduzir ao longo do tempo por diversas razões, entre as quais se salientam:
- A deterioração natural dos materiais;
- Os danos sucessivos introduzidos por sismos anteriores, movimentos das fundações e acções de carácter repetitivo como o vento e as variações de temperatura;
- As modificações na estrutura e materiais de construção tais como a adição de novos corpos nos conjuntos monumentais, a ampliação de corpos existentes em planta e altura, a ligação de construções anteriormente independentes e a substituição de coberturas leves em madeira por coberturas com peso elevado.
Adicionalmente, é um facto bem conhecido que os sistemas estruturais do património arquitectónico se foram desenvolvendo, ao longo dos tempos, tendo em vista soluções cada vez mais eficientes para resistir à acção do peso da estrutura, mediante um processo de aprendizagem baseado essencialmente nas lições dos erros anteriores.
Esta aprendizagem não ocorreu necessariamente no que respeita às acções eventuais e à segurança sísmica.
Em países onde a ocorrência de sismos é frequente, como no Japão, as lições fornecidas pelos danos dos sismos traduzem-se directamente em modificações da prática construtiva, que incorpora aspectos dirigidos a aumentar a resistência a estes eventos.
Nos casos em que a existência de sismos destrutivos é esporádica, a modificação da prática construtiva é menos evidente ou duradoura.
Este é o caso de Portugal continental, em que os sismos fortes ocorrem cada dois séculos ou mais, e no intervalo entre estes grandes acontecimentos raras vezes acontecem sismos significativos.
Em particular, a lição do terramoto de 1755 e a técnica construtiva anti sísmica que se seguiu (construção pombalina) foram quase completamente esquecidos antes de volvido um século sobre este desastre.
A análise e o reforço de estruturas antigas representam, efectivamente, grandes desafios devido à sua complexidade geométrica intrínseca, à heterogeneidade e variabilidade das propriedades dos materiais tradicionais, ao escasso conhecimento sobre as técnicas construtivas originais, à difícil caracterização das acções e à quase inexistência de normas ou instruções específicas que salvaguardem os técnicos responsáveis.
Adicionalmente, as restrições à inspecção e remoção de amostras em edifícios de elevado valor histórico, bem como, os custos elevados das tarefas de inspecção e diagnóstico, conduzem frequentemente a informação muito reduzida sobre a composição construtiva interna dos elementos estruturais e sobre as propriedades dos materiais existentes.
Apesar disso, nos últimos anos têm-se verificado investimentos consideráveis nesta área, os quais têm resultado num desenvolvimento técnico-científico notável no âmbito da inspecção, das técnicas de ensaios não-destrutivos, da monitorização e da análise estrutural.
O estudo das construções históricas deve ser desenvolvido com base na utilização adequada das modernas tecnologias, sendo o especialista responsável por escolher e gerir os meios técnicos e financeiros disponíveis para alcançar os elementos necessários e suficientes para o conhecimento sobre a construção, o seu comportamento estrutural e as suas necessidades reais de reparação.
Neste artigo apresentam-se alguns estudos sobre o património arquitectónico que demonstram algumas das possibilidades dos meios actuais de análise.