Apontamentos O Ofício do Estuque Ornamental

O Ofício do Estuque Ornamental

Oficinas Pessoais – Como os construtores e os arquitectos eram contratados por uma clientela em permanente crescimento, desenvolveram-se oficinas de estuque ornamental a partir das simples operações artesanais do século XVIII, até aos complexos estabelecimentos dos princípios do século XX.

As oficinas de estuque americanas empregavam emigrantes e, mais tarde, operários nativos. Existiam guildas de estucadores em Filadélfia desde os anos de 1790. Em 1894 foi organizado um sindicato de estucadores nos Estados Unidos, com membros vindos das Ilhas Britânicas, cujo trabalho aí tinha estado limitado a palácios e igrejas. Chegaram à América operários Britânicos e Europeus quando a procura da sua arte aumentou no virar da década, oferecendo-lhes a oportunidade sem paralelo de abrirem as suas próprias oficinas. Ao longo dos anos, os elementos em estuque tornaram-se tão populares na decoração dos espaços interiores, que se estabeleceu uma indústria de maior dimensão. Por volta de 1880, existiam catálogos a partir dos quais os proprietários podiam escolher a ornamentação para os seus novos e esplêndidos edifícios.

Métodos de Produção – Historicamente, o estuque ornamental era produzido por duas vias: podia ser corrido no local (ou sobre uma bancada) em obra; ou moldado em moldes numa oficina. Os moldes de estuque liso sem ornamentação superficial eram geralmente criados directamente sobre a parede, ou corridos sobre uma superfície plana, do tipo da bancada de estucador, e assentes na parede depois de terem feito presa. Os ornamentos tais como caixotões para tectos, centros para candeeiros de iluminação (medalhões), ramagens, lintéis ou colunas, eram moldados em moldes de cola animal (gelatina) ou de gesso, numa oficina fora da obra, frequentemente em mais do que uma peça, depois reunidos e instalados no edifício.

Formas decorativas em gesso – Molduras, medalhões, caixotões – Estas formas específicas de estuque decorativo – a moldura, o medalhão do tecto, e o tecto em caixotões – constituíam historicamente a maior parte do trabalho dos estucadores. Estas formas apareceram individualmente ou em combinação, desde o século XVIII até ao século XX, independentemente das suas alterações estilísticas.

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Por exemplo, a moldura elaborada de uma saleta consistia em moldes lisos feitos com gesso e cal, corridos sobre fasquias provisórias em madeira, em todo o redor da divisão. A ferramenta para correr molduras lisas incluía um perfil metálico da moldura montado num suporte em madeira. A operação era feita usando-se uma massa de gesso traçado com cal, com consistência de pasta, trabalhada com colherins de estucador nas juntas. Os “enriquecimentos” decorativos, tais como moldes de folhagens, óvulos e dados, e unidades de contas e rolos eram moldados na oficina e aplicados sobre os moldes corridos, usando-se estuque como cola. Seguiam-se pinturas, envernizamentos, e mesmo dourados. As casas grandes tinham por vezes molduras lisas nos andares superiores que não eram usados para receber visitas; as casas modestas também se gabavam de terem molduras trabalhadas, mas sem enriquecimentos moldados.

A operação de correr uma moldura lisa exigia uma grande perícia na utilização de um molde de correr.

Entre as mais dramáticas formas de estuque ornamental situa-se o medalhão no tecto da sala. As casas vernáculas usavam frequentemente círculos lisos concêntricos de onde pendiam candeeiros de iluminação, geralmente suspensos de um gancho em ferro forjado embebido no barrote central do tecto. Os medalhões mais elaborados eram compostos por peças moldadas em oficina, tais como folhagens de acanto, muitas vezes alternando com antémia ou outros motivos decorativos. Geralmente, os medalhões estavam estilisticamente relacionados com a ornamentação da moldura que se encontra em redor da divisão e podiam ser criados com ou sem uma moldura corrida lisa circundante. A planta de sala dupla, foi de especial importância para a arte do estuque decorativo em meados do século XIX. Os arquitectos especificavam frequentemente medalhões idênticos com proporções e ornamentação robustas. Mais tarde, na arquitectura Americana Colonial Revivalista do século XX, os arquitectos pediam medalhões de tecto em estilo Federal. Alguns dos mais bem sucedidos eram unidades inteiriças graciosas, utilizando motivos clássicos tais como grinaldas e plumas, e a sua simplicidade era reminiscente dos projectos de Adam nos anos 1760.

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Uma outra forma decorativa significativa era o tecto em caixotões. As unidades de tecto eram moldadas na oficina ou na obra, depois instaladas com arames de suspensão a partir do tecto. O desenho destes tectos variava de período para período no que respeita a profundidade, forma dos painéis e complexidade ornamental. Não sendo sempre lisos, os caixotões podem ser vistos por dentro de cúpulas e de abóbadas de canhão ou de arestas, ao longo do intradorso de arcadas e de outras coberturas. Existem geralmente rosetas centradas nos painéis e enriquecendo as intersecções estilisticamente elaboradas que emolduram os painéis. Os tectos de caixotões planos são geralmente idênticos formando planos simétricos; nos tectos em cúpula ou abóbada, os caixotões diferem de fiada para fiada por forma a que pareçam idênticos a partir de diferentes linhas de observação. O tratamento de acabamento de um tecto em caixotões exibe frequentemente a mais elevada qualidade do ofício da pintura.

Este medalhão de sala e os pendentes que se vêem numa casa de meados do século XIX em Annapolis, Maryland, foram encomendados originalmente a partir de um catálogo.

Entre os principais exemplos de tectos em caixotão podem ser incluídos o Capitólio dos Estados Unidos e a Union Station em Washington DC. Sendo uma forma decorativa popular com benefícios acústicos, o tecto em caixotões pode ser visto por todos os Estados Unidos em muitos grandes espaços públicos tais como teatros, tribunais, estações de caminho de ferro e hotéis.

Infelizmente, estas formas decorativas, supostamente duradouras, criadas pelo ofício do estuque decorativo estão sujeitas às devastações quer da natureza, quer do homem e, consequentemente, raramente permanecem conforme originalmente projectadas. As pequenas variações de gostos são, talvez, as menos graves para o estuque. Os mais consideráveis danos e degradações foram provocados por alterações radicais na utilização dos edifícios e por práticas de manutenção inadequadas. Felizmente, em muitos casos, a forma, a pormenorização e o acabamento do estuque ornamental histórico podem ser recapturados através de uma reparação e de um restauro cuidadosos.