A Educação em zonas libertadas no Processo de Luta Armada de Libertação (1964-1974)
O I Congresso da FRELIMO (Setembro de 1962) determinou a criação de escolas em zonas onde fosse possível. Foram definidas funções específicas para a educação: a escola devia satisfazer o conhecimento verdadeiro que se adquire através da descoberta da natureza, da sociedade e das leis que as regem; e fornecer soluções para os problemas que surgem na vida quotidiana da comunidade, aprendendo da comunidade, porque A escola que se fecha dentro de si mesma, ao negar sair das paredes que a limitam ou ao julgar-se detentora de todo o saber, mais cedo ou mais tarde será ultrapassada. É a natureza das relações que existem entre a escola e a comunidade que nos fornecerá informações necessárias para sabermos que a nossa educação está ou não a ser conduzida numa perspectiva revolucionária (FRELIMO, 1970, apudROBATE, 2006).
Começa, assim, a gênese e o desenvolvimento de um movimento educativo de ruptura com o sistema colonial: urgia vencer a alienação colonialista. Para promover cursos de formação de curta duração (seis meses) e aperfeiçoamento de professores, foi criado o Departamento de Educação e Cultura. Português, matemática, história, geografia, ciências naturais e respectivas metodologias de ensino a pedagogia e psicologia eram as disciplinas dos cursos ministrados. Foram criadas ZIPs (Zonas de Influência Pedagógica), para permitir que professores de diversas escolas e regiões tivessem seminários de aperfeiçoamento e encontros para planificarem colectivamente as aulas e produzirem material didáctico.
Enquanto o sistema educativo colonial se empenhou em legitimar a opressão e manipular ideologicamente os homens, para beneficiar da posse da terra e de seus recursos materiais e humanos, a escola criada nas zonas libertadas durante a luta de libertação – entre 1966 e 1967, cem escolas em Cabo Delgado, com dez mil alunos; e no Niassa dez professores para dois mil alunos – visavam romper com a ideologia opressora colonial. Nesse sentido, a escola empenhou-se na formação do homem moçambicano, na sua libertação da opressão e alienação coloniais, e buscou adequar a educação aos interesses sócio-culturais e económicos do povo.
Tornou-se imperioso que os objectivos da educação visassem o combate ao analfabetismo, à ignorância e, nessa sequência, também a superstição no seio das populações e dos diferentes grupos sociais.
Os responsáveis pelo ensino das crianças e também dos jovens e adultos enfrentavam, não só dificuldades várias, próprias do momento de luta, mas igualmente dificuldades particulares em suas práticas de ‘sala de aula’, em relação ao que sabiam e o que estava em processo de mudança, expresso nos programas de ensino vigentes. Essas dificuldades deviam-se ao baixo nível de sua escolaridade e por não terem formação para a tarefa inesperada, mas inadiável. Por isso, nesse leque de circunstâncias, as concepções sobre escola, ensino, língua e linguagem adquiridas das escolas coloniais dificilmente teriam mudado, muito embora a visão de si, como cidadão em constituição, e de mundo estivessem em movimento, em processo de transformação política nesses jovens apostados em criar um novo homem numa nação independente.