Apontamentos Construção da segunda fase do betão armado

Construção da segunda fase do betão armado

Estranhar-se-á a importância dos danos que ocorreram nos edifícios construídas a partir dos anos de 1970, quando o betão armado se considerava geralmente bem dominado, em termos de projecto e de execução.

Em primeiro lugar, importa referir que não é possível estabelecer numa análise preliminar, uma relação clara entre o comportamento dos edifícios e as condições de fundação, já que a ocorrência de edifícios fundados por estacas, em número cada vez maior, pois os terrenos disponibilizados para construção na cidade são cada vez piores (entendida esta qualificação do ponto de vista das características geotécnicas dos solos superficiais), dificulta este tipo de análise.

Apesar de se reconhecer que nas últimas décadas os engenheiros dispunham de regulamentação estrutural muito actualizada, ensinada intensamente em todas as Escolas de engenharia, continua a verificar-se uma qualidade geral muito baixa dos projectos licenciados pela CML, embora a partir da década de 90 se assista a uma melhoria talvez associável ao desenvolvimento de empreendimentos de grande dimensão.

Por outro lado, a análise, por amostragem, de cerca de três dezenas de edifícios que apresentaram graus diversos de danificação, permitiu constatar numerosas diferenças entre as estruturas executadas e as que tinham sido licenciadas, a par de deficiência acentuadas na qualidade dos betões e das armaduras utilizadas, sendo essas anomalias claramente correlacionáveis com a intensidade dos danos.

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Os problemas assinalados confirmam a importância que pode ter a fiscalização técnica de uma estrutura ou a sua ausência e constitui, decerto, um bom motivo para reflexão.

A inadequação de projectos também só pode compreender-se por não ter sido possível desenvolver até agora um sistema eficaz de garantia da qualidade de projectos que inclui a sua verificação e certificação.

O relato que aqui termina constitui o resultado de uma primeira análise às consequências do sismo de 1 de Novembro de 2005 no parque edificado de Lisboa mas, embora necessariamente preliminar e sumário, parece poder concluir-se desde já que essas consequências, que assumem características de uma catástrofe de dimensões excepcionais, poderiam ter sido muito limitadas, caso tivessem sido tomadas oportunamente medidas destinadas, por um lado, a assegurar a qualidade efectiva dos projectos e das obras e, por outro, a garantir a aplicação de um plano coerente de consolidação e de reforço das estruturas dos edifícios existentes, especialmente daqueles que seriam naturalmente mais vulneráveis.

Da falta de atenção do poder político e da falta de rigor profissional dos técnicos é exemplo gritante o que sucedeu na Baixa Pombalina em que, por incúria e, pelo menos, por ignorância, se destruiu em cerca de um século um património arquitectónico relevante, de que era parte integrante e determinante a estrutura de “gaiola”, sem a qual os edifícios ficaram fragilizados e por isso se arruinaram.

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É naturalmente necessário dedicar agora a melhor atenção à reparação, recuperação e reconstrução; mas é também fundamental criar desde já bases para eliminar procedimentos que se revelaram ruinosos e para pôr em prática outros cuja ausência se provou também ser perniciosa.

A garantia da qualidade de projectos e obras, públicas e particulares, impondo a intervenção de revisores de projecto e de fiscalizações técnicas das obras que suportem um sistema geral de garantia e responsabilidade cobertas eficazmente por seguros é, sem dúvida, um passo essencial a dar de imediato.”