Administração de Recursos Humanos é uma área da qual todo mundo pensa entender, pois qualquer pessoa que pertença ou não a uma organização trabalha com ela. Na selecção de um trabalhador para o serviço doméstico, na
compra de café numa padaria, na educação dos filhos, em tudo isso está envolvida uma série de conteúdos afectos ao conhecimento administrativo.
Desde os primórdios das chamadas “teorias da administração”, entre os princípios de Henri Fayol, há o de pagar a cada um segundo a tarefa que realiza e o de tratar igual o que é igual e diferente o que é diferente, ambos entre as consideradas primeiras leis da Administração de Recursos Humanos. Mesmo representando conceitos derivados do senso comum, nenhum deles é tão aplicado quanto deveria actualmente, nem (ou principalmente) no sector da saúde.
A Administração de Recursos Humanos trata com e de pessoas; nesse campo, nada é fácil e, decididamente, pouco é objectivo. A ideia de tratar igual o que é igual para um administrador traz como premissa a discriminação adequada
entre o bom e o mau, o certo e o errado. No entanto, não existe qualquer garantia de que a percepção – pessoal – desse administrador seja partilhada por outrem, menos ainda por aqueles que estão sendo objecto dessa discriminação.
A Administração de Recursos Humanos tem um componente de “leis e normas” de carácter razoavelmente objectivo, mas, ao mesmo tempo, se assenta sobre relações interpessoais, que, em qualquer caso (e não apenas se e quando se
está numa organização), se baseiam em sensações e percepções. Em qualquer circunstância é difícil aceitar o grau emocional contido nas relações e reacções humanas. Isso se torna particularmente delicado quando se discute gestão, diante do conteúdo de conhecimento (mesmo que não científico) atribuído a essa área. Nos anos 90 o conceito de “inteligência emocional” busca fornecer conteúdo de conhecimento ao que antigamente se chamava pejorativamente de “emocional”.
O objecto da Administração de Recursos Humanos são as pessoas e suas relações dentro da organização. No entanto, certamente não é esse o seu objectivo. É sempre necessário identificar os objectivos de quem se está buscando. Aqui
está sendo considerado sempre, em média, o ponto de vista da organização, aqui entendida como a administração do município (e não os seus cidadãos).
Nessas condições, pode-se dizer que a Administração de Recursos Humanos serve para manter a organização produtiva, eficiente, eficaz, a partir da mobilização adequada das pessoas que ali trabalham. As pessoas que trabalham na organização representam seu recurso crítico, ou seja, aquele sem o qual ela não consegue realizar o seu trabalho. Isso é particularmente verdadeiro nas organizações de saúde, que, além de ser dependentes de tecnologia, não conseguem aplicar essa tecnologia sem contar com recursos humanos adequados.
A Administração de Recursos Humanos pode ser compreendida como um subsistema de uma organização. Afinal, são as pessoas que realizam o trabalho das organizações. Mesmo naqueles casos em que existe uma pesada substituição do elemento humano por máquinas, são as pessoas que recolhem o produto transformado pelas máquinas, ligam-nas, desligam-nas, decidem quando accioná-las… De certa forma, é por meio da utilização do modelo de teoria geral de sistemas que o termo “recurso humano” se torna aceitável. A figura 1 mostra a concepção da organização como sistema e a figura 2 apresenta uma modificação do mesmo modelo segundo áreas de preocupação do administrador.
Ao definir os recursos como objecto de interesse do administrador, tentando individualizá-los um pouco, verifica-se uma certa concessão de privilégios aos recursos materiais e os financeiros, que podem envolver, por um lado, o orçamento – às vezes até dinheiro – que será usado talvez na compra de mesas, cadeiras, aparelhos de ar condicionado, seringas, agulhas, vacinas, medicamentos, papéis e canetas, e, por outro, recursos tecnológicos. Aqui, começa a aparecer um aspecto não tão claro: como definir tecnologia? Na verdade, trata-se de conhecimento que pode estar incorporado a alguma máquina, planta física ou equipamento (e é esse o entendimento geral) ou simplesmente armazenado na cabeça de trabalhadores, que sabem, ou não, realizar determinados procedimentos.
Assim, começa-se a perceber que o factor humano ocupa um lugar de destaque no recurso tecnológico. Nos serviços de saúde, pode-se observar que quem sabe utilizar determinado equipamento ou quem foi preparado para
realizar algum procedimento específico pode não querer fazê-lo numa ou para uma dada organização, ao passo que em outra ou para outra o faz com prazer ou assume seu dever de fazê-lo.
O próximo passo consiste em perceber que a área física – o prédio –, a mesa e as cadeiras, a seringa e as agulhas, o ar-condicionado serão utilizados por pessoas, possivelmente trabalhadores daquela organização, na tentativa de atingir os objectivos da empresa. Pode-se notar ainda que parte importante dos recursos financeiros será empregada para pagar os salários dessas pessoas como retribuição pelos serviços prestados. Essas pessoas, que prestam serviços pelos quais serão remuneradas e se servem dos recursos materiais colocados à sua disposição, adquiridos e pagos por outras pessoas, podem ser entendidas como “recursos humanos”.
Conclui-se então que qualquer trabalho envolve pessoas. Pessoas têm percepções, emoções, preferências, susceptibilidades… O conceito de recurso humano assume um modelo que privilegia a produção, o produto, o resultado e não as relações e as percepções. A utilização de outros modelos explicativos levaria a outros juízos.