Dentro dos objectivos de uma sociedade viva, a valorização dos vestígios arqueológicos pode ficar reduzida ao nível das acções mecânicas.
A transformação dos traços da actividade humana em património a ser valorizado não pode ser vista isoladamente da sociedade a que eles pertencem. Ela tem que ser compreendida como parte de uma obra social e cultural.
Tal obra serve para dar novo significado aos vestígios arqueológicos, num contexto em particular, e não apenas de uma forma especulativa e abstracta.
Ela motiva a reflexão sobre os objectivos científicos, sociais, culturais e económicos a serem procurados e sobre o relacionamento entre o passado e o futuro da cidade.
Esta obra é estratégica pela forma como coloca a arqueologia e a apresentação das suas descobertas num domínio sócio-cultural, conferindo-lhes um papel que pode vir a revelar-se importante.
A expressão “obra de acessibilidade” refere-se a todas as acções que, em conjunto com o progresso da investigação, tenham por objectivo conservar, integrar, valorizar, e explorar os vestígios arqueológicos do subsolo urbano, de uma forma sustentada, por forma a os tornar disponíveis para a população.
O significado que deve ser dado a “acessibilidade” é o acto de exibição destes vestígios que consiste em torná-los visíveis, atractivos e compreensíveis de uma maneira compatível com a sua preservação e com a sua utilidade para a investigação.
Nem todos os sítios arqueológicos abertos ao público são, necessariamente, o resultado de um projecto de acessibilidade.
Este é definido por uma forma inovadora de se conceber a valorização dos vestígios. Inclui o exame dos objectivos e dos métodos que vai ser necessário empregarem-se, para se tomarem decisões judiciosas em muitas áreas de intervenção.
É útil recordar-se que estas decisões devem auxiliar uma preocupação abrangente sobre o sítio, em termos de conservação preventiva e de investigação futura, sem a qual é provável que os resultados sejam desastrosos.
Esta última preocupação está longe de ser uma realidade: embora muitos dos princípios sobre a valorização do património arqueológico estejam estabelecidos há mais de vinte anos, os numerosos exemplos de sítios sujeitos a controvérsia demonstram que os seus métodos de aplicação ainda parecem necessitar de mais explicações.
A principal dificuldade a ser ultrapassada durante a implementação de uma obra de valorização está relacionada com o estabelecimento de uma linha de acção comum baseada na lógica e nas práticas – que são frequentemente dinamizadas para objectivos bastante diversos e não necessariamente compatíveis. Para se ultrapassar este obstáculo, a obra de acessibilidade concilia uma abordagem transversal e reconciliadora, estimulada por uma confrontação entre protagonistas.
Esta confrontação é crucial para se encontrarem áreas de acordo durante todas as partes do processo, ao mesmo tempo que se mantêm a independência e a integridade de todas as disciplinas.
A originalidade da obra de acessibilidade funda-se na conjunção destas duas forças, tendo numa mão uma reflexão abrangente que considera os elementos arqueológicos e urbanos, e na outra o desenvolvimento de uma abordagem verdadeiramente multidisciplinar.
Esta abordagem na exploração do património arqueológico das nossas cidades, mais do que qualquer outra, proporciona conjuntamente os principais trunfos para se criar uma obra urbana reconciliadora do património e do desenvolvimento sustentável de uma forma coerente.