Apontamentos A noção clássica de categoria e os problemas que ela apresenta

A noção clássica de categoria e os problemas que ela apresenta

A categorização vem sendo estudada desde a Antiguidade. A noção clássica de categoria é atribuída ao filósofo grego Aristóteles.

De acordo com essa noção, as categorias são definidas em termos de um conjunto de traços necessários e suficientes, que uma determinada entidade deve apresentar para poder ser considerada membro dessa categoria.

Por exemplo, para que uma entidade X seja considerada um membro da categoria MENINO, as seguintes características são necessárias: X precisa ser humano; X precisa ser masculino; X precisa ser jovem. Conjuntamente, essas três características são suficientes para definir que X é membro da categoria MENINO.

Isso quer dizer que qualquer entidade no mundo que seja humano, masculino e jovem, tem que ser um menino! O conjunto dessas três características define, segundo a visão clássica, o conceito [MENINO].

Apesar de essa noção aristotélica de categoria ainda ser muito usada até hoje, ela apresenta algumas limitações, que têm sido consistentemente apontadas por filósofos, psicólogos e linguistas.

Uma delas é a de que categorias como MENINO, que podem, aparentemente, ser definidas por um conjunto limitado de condições necessárias e suficientes, não são muito numerosas.

Existem muitas categorias e conceitos de que nos valemos em nossa experiência cotidiana, que não podem ser entendidos por um conjunto de características necessárias e suficientes.

O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, analisando o conceito [JOGO], mostrou que é impossível fazer uma lista de características necessárias e suficientes para definir todos os jogos.

Vamos ver qual é o raciocínio de Wittgenstein. Poderíamos pensar,
inicialmente, que a categoria JOGO teria as seguintes características:

  1. Envolveria ganhar ou perder;
  2. Envolveria mais de uma pessoa;
  3. Teria regras claras e arbitrárias;
  4. Envolveria diversão.

Entretanto, basta pensarmos em alguns jogos que conhecemos, para ver que essas características não são satisfeitas conjuntamente por algumas atividades que chamamos jogo.

Por exemplo, jogos como o de amarelinha ou o de pular sela não envolvem ganhar ou perder. Um jogo de carta como paciência não
envolve mais do que uma pessoa.

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Alguns jogos, como brincar de roda, por exemplo, não têm regras claras: os participantes giram em roda, cantando uma cantiga, e quando ela acaba, caem todos no chão.

Por fim, muitos jogos, como os de futebol, tênis, basquete, etc., podem ser profissionais e não envolver apenas lazer e diversão.

Mesmo assim, todos reconhecemos um jogo quando vemos um, e sabemos perfeitamente que certas outras eventualidades não são jogos. Wittgenstein diz que o que permite que nós formemos o conceito [JOGO] é que, ao observar pessoas jogando, ou ao ter a experiência de jogar vários jogos diferentes, percebemos uma série de semelhanças entre eles, que ele chama de semelhanças de família.

É como quando vemos várias pessoas de uma mesma família. Em um primeiro momento, achamos que muitas delas não se parecem umas com as outras; aos poucos, nós vamos percebendo que o nariz de uma é parecido com o nariz de uma outra, cujos olhos se parecem com os olhos de uma terceira pessoa, que tem a boca parecida com a de uma quarta pessoa, e assim por diante. Essa rede de semelhanças faz com que categorizemos as pessoas como membros da mesma família.

Isso não acontece porque todos os membros da família têm as mesmas características: não existe nenhum conjunto fechado de características necessárias e suficientes. Basta que cada membro mostre algumas das características típicas da família, cada um do seu jeito. Da mesma maneira, percebemos que, entre os vários tipos de jogo, existem semelhanças que nos permitem agrupá-los todos dentro da categoria JOGO.

Um outro problema que a noção de categoria aristotélica apresenta é que ela implica limites bem definidos.

Entretanto, estudos mais recentes têm demonstrado que os limites das categorias naturais não são nada nítidos (dizemos que eles são fuzzy, usando um termo do inglês).

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Em um estudo famoso sobre cores, feito no final dos anos 1960 nos Estados Unidos, os pesquisadores Brent Berlin e Paul Kay mostravam uma cor para várias pessoas e pediam para elas dizerem que cor era aquela.

O estudo mostrou que a opinião das pessoas em relação aos exemplos de cores centrais (preto, branco, vermelho, amarelo, azul, verde) não variou muito de pessoa para pessoa, e se manteve constante, para uma mesma pessoa, em diferentes ocasiões.

Diferentemente, as opiniões sobre cores limítrofes, como laranja ou cor-de-rosa ou roxo, foram bastante divergentes.

Além disso, um mesmo informante, em diversas ocasiões, manifestou julgamentos diferentes em relação a essas cores.

Estudos desse tipo demonstram que certas categorias não têm limites bem definidos, e que nossas opiniões sobre o pertencimento de um membro a essas categorias variam de pessoa para pessoa.

Ainda um último problema relacionado à noção clássica de categoria diz respeito à idéia de que todos os membros de uma determinada categoria têm o mesmo estatuto.

Na visão aristotélica, uma vez que alguma entidade tenha sido considerada membro de uma categoria (porque ela manifesta todas as características necessárias e suficientes), ela vai ter um estatuto igual ao dos demais membros.

Entretanto, as pessoas intuitivamente sabem que existem diferenças entre os membros de uma mesma categoria. Alguns membros são melhores exemplos da categoria que outros! Esses membros são chamados centrais. Por exemplo, aqui no Brasil, quando consideramos a categoria FRUTA, em qual fruta pensamos?

Provavelmente, quase todos concordamos que pensamos em maçã, laranja ou banana. Certamente não pensamos em tâmara, tomate ou azeitona.

Em um país como o nosso, frutas como tâmara, tomate ou azeitona não são membros centrais da categoria FRUTA; frutas como maçã, laranja e banana são membros centrais da categoria.

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