Introdução
Nesta unidade temática iremos nos concentrar em outras perspectivas classificatórias de antropologia como forma de ampliar o horizonte holístico desta temática. Por isso que o estudante ao completar esta unidade, você deverá ser capaz de:
Objectivos específicos
- Diferenciar a antropologia interpretativa da pós moderna.
- Conhecer os campos de aplicação dos princípios teóricos destas duas abordagens.
Desenvolvimento
De acordo com Jordão (2004) os primeiros sinais da abordagem
interpretativa na antropologia datam da década de 1960, e têm a ver com a influência dos estudos literários e da crítica literária. Um dos primeiros antropólogos a popularizar a ideia de que as culturas são como textos literários à espera de interpretação antropológica foi Clifford Geertz (1973).
Segundo ele, os antropólogos (ou melhor, os etnógrafos) são intérpretes selectivos que escolhem os aspectos que mais lhes interessam nas sociedades que estudam. São eles que tornam a cultura do “outro” acessível a um “público” ansioso por consumir a diferença, e a diferença é aquilo que esse público não encontra na sua própria cultura e que acha fascinante na cultura dos outros.
O antropólogo funciona como um intérprete que torna inteligíveis as coisas estranhas após o exercício da sua capacidade interpretativa, uma espécie de tradutor intercultural que só traduz as partes que acha capazes de cativar a sua audiência (Geertz 1973,Marcus &Fischer 1986).
Para muitos antropólogos a interpretação é o único objectivo que a antropologia pode prosseguir com sucesso.
Aos defensores da “antropologia interpretativa” opõem-se os defensores de uma “antropologia científica”, baseada em critérios de observação e análise semelhantes aos das ciências naturais.
Jordão (2004) citando William Haviland (1934) é um conhecido defensor da antropologia enquanto ciência, o que aliás se vê pela maneira como a antropologia é tratada no seu manual, sucessivamente re-editado ao longo das últimas três décadas.
A distinção entre antropologia interpretativa e antropologia pelo antropólogo francês.
De acordo com Jordão (2004) citando DanSperber (1985) ao afirmar que enquanto o objectivo da interpretação é tornar acessível o entendimento intuitivo emanado da própria cultura que está a ser objecto dessa interpretação, o objectivo de uma explicação é proporcionar um entendimento geral e universal, cuja validade não emana da própria cultura que é objecto dessa explicação.
Enquanto o intérprete lida com sentimentos e emoções, o cientista lida com causas cujo entendimento escapa aos próprios participantes (Batalha, 1998).
A interpretação e a explicação não se excluem mutuamente, podem antes ser abordagens complementares. Uma interpretação intuitiva descrita em termos causais e universais pode, quando cientificamente testada, gerar uma poderosa explicação.
O problema é definir como se testam intuições de modo a transformá-las em generalizações científicas.
Em certos âmbitos da antropologia interpretativa é inquestionável, por exemplo, a influência da teoria crítica da Escola de Frankfurt, da filosofia de Nietzsche, da semiótica de Charles SandersPeirce e do romantismo alemão, principalmente WillianDilthey e Max Weber, através de seus método compreensivo.
Como vimos, e de um modo geral, as alternativas proposta pelo movimento pós-moderno são basicamente textuais, referindo-se como encontrar uma nova maneira de escrever sobre culturas, uma maneira que incorpore no texto um pensamento e uma consciência sobre a tradição da antropologia.
A crítica feita pelos antropólogos pós-modernos, mostra que o rompimento com o modelo anterior é parcial, pois questiona-se o processo da interpretação, mas não rompe com a separação radical entre observador e observado e suas culturas no trabalho de campo.
Isto significa que o objecto de estudo não é mais a cultura do outro, mas a etnografia, o género literário como texto e, enfatiza, as novas alternativas de escrita etnográfica.
Clifford Geertz (1973) acredita que é possível conhecer e interpretar outras culturas, produzindo traduções de outros modos de vida para a nossa própria linguagem.
O autor acredita também que estas condições se transformaram em consequência da influência da escrita pós-moderna. Ao contrário da separação entre a autoridade da ciência como conhecimento ocidental e a autoria do texto etnográfico, o que ele sugere é a necessidade do pesquisador assumir maior responsabilidade pôr seu texto e pelas interpretações que produz (JORDÃO, 2004).
De acordo com o mesmo autor, a interpretação realizada pelos pós-modernos, está baseada sobre uma outra cultura entendida como diferente e estranha a do antropólogo, mas com possibilidades de compreensão e tradução mútua através da conversação respeitosa e não etnocêntrica, do diálogo que se caracteriza como uma actividade, não somente científica, mas de confraternização e solidariedade humana.
Para os antropólogos pós-modernos, em particular os autores do WritingCulture, a etnografia deve ser mais que uma interpretação sobre o outro.
Deve ser uma negociação com diálogos, uma expressão das trocas entre uma multiplicidade de vozes, onde fique evidente o outro no texto etnográfico e seu relacionamento com o antropólogo, além da própria voz deste último.
O importante nisto tudo é perceber que existe uma reflexão profunda no pensar e fazer antropológico, necessária no mundo contemporâneo, para uma reflexão da própria ciência como conhecimento absoluto da realidade.
Um mundo globalizado que muitas vezes demonstra uma tendência a homogeneização, mas que ao mesmo tempo, nunca foi tão abundante quando se trata do surgimento de nacionalidades localizadas.