Antecedentes:
Foi reclamada a existência de humidade num piso térreo pelo respectivo arrendatário. O seu Perito dizia que essa humidade provocava condensações na linha de junção do pavimento com as paredes. Ele defendia, também, que ainda estava activa nessas paredes alguma humidade ascendente após a execução de trabalhos de impermeabilização e que isso provocava humidade na atmosfera.
A investigação:
Na sala de estar, a parede exterior do fundo (construção sólida) estava distintamente húmida – o papel de parede estava claramente descolado das paredes e formavam-se gotas de água na superfície pintada por trás desse papel: era visível uma distinta “marca de maré” ao correr do estuque exposto na face da parede exterior do fundo, com cerca de 1000 a 1100 mm de altura. Esta “marca de maré” estendia-se para baixo até à parede lateral direita.
Notava-se muito pouco bolor nessa sala, mas tinha ocorrido um
crescimento considerável noutras divisões, especialmente nos cantos e noutras áreas com condições de ar estagnado.
As condições interiores eram de 24º C e 71 % de humidade relativa na altura da inspecção (pressão interior de vapor = 2,1
kPa, pressão exterior de vapor = 1,1 kPa).
Abaixo dos 1100 mm, a temperatura da superfície da parede do fundo estava mais fria que a temperatura do ponto de
orvalho; estava-se, portanto, a formar condensação activa na ocasião da inspecção.
Foram registadas medições elevadas da humidade superficial nessa parede do fundo. Mas na parede da frente (interior) o papel de parede aparecia são, embora registasse também uma humidade superficial elevada. Apesar disso, foram registadas leituras de humidade significativamente inferiores por baixo desse mesmo papel.
As análises de humidade mostravam que a parede por baixo do papel estava basicamente “seca”, ou seja, não havia virtualmente água livre (capilar), pelo que a humidade ascendente não podia estar activa. Notava-se uma ligeira “faixa salgada” aos 1200 mm, o que indicava que a humidade ascendente tinha, no passado, subido até esse nível: mas que ela já não estava activa.
As análises ao reboco
demonstraram que o material era de boa
qualidade, com 1 : 3 cimento/areia,
conforme estava especificado, e tinha uma
elevada resistência contra a água.
A habitação não tinha ventilação e
as suas janelas eram de dupla vidraça.
Reparar, por favor : foram
examinadas outras áreas da mesma
habitação pelos métodos acima referidos.
Conclusão:
A humidade ascendente já não estava activa, e as paredes examinadas estavam “secas”; a camada impermeabilizante injectada e o reboco que lhe estava associado eram muito eficientes no desempenho das suas funções.
A humidade e os danos na decoração eram devidos, apenas, a uma severa condensação localizada na parte inferior das frias paredes da sala – isto também tinha originado a “marca de maré” que era visualmente mal interpretada como sendo consequência de uma humidade ascendente. O elevado nível de vapor dentro da habitação era apenas consequente da produção interna de humidade durante o dia, pelas actividades normais, associada à quase ausência de uma apropriada ventilação.
A humidade na linha de junção pavimento/ parede era consequente de essa condensação escorrer pela parede – isto também era perfeitamente visível.
A parede da frente também demonstrou estar “seca”, sendo as elevadas medições de humidade na sua superfície consequentes de o papel de parede (à base de madeira) absorver a humidade a partir da elevada quantidade desta contida no ar.
A humidade era, portanto, devida à produção interna de água durante as actividades diárias, a qual condensava nas mais frias paredes exteriores; não era consequência de humidade ascendente, conforme os Peritos do arrendatário tinham afirmado.