Encontram-se frequentemente nas obras de restauro condições em que se têm que executar substituições ou integrações na cortina de alvenaria original – é importante, nestes casos, servirmo-nos de materiais absolutamente homogéneos com os preexistentes, possivelmente recuperados em demolições feitas no próprio edifício.
Demasiado facilmente, esta simples norma comportamental tem sido considerada fruto da personalidade e da extravagância operativa pela parte do projectista, agravada pelos custos acrescidos consequentes da recuperação dos materiais antigos relativamente à compra de tijolos modernos.
Pelo contrário, é uma série de exigências históricas, estéticas, mas sobretudo técnicas que está na sua base, e da qual se espalha lentamente o conhecimento entre os executantes.
Nas recomposições de alvenarias efectuadas pelo método do «cuci e scuci», por exemplo, é necessário utilizarem-se tijolos maciços que tenham as mesmas dimensões, para se evitar que a sobreposição em fiadas gere descontinuidades no aparelho e provoquem descolamentos estruturais entre as partes velhas e as novas; a presença de tijolos com compacidades diferentes e frequentemente com diferentes graus de absorção, pode gerar posteriores inconvenientes, como por exemplo respostas diferente à aplicação dos rebocos (efeito de “teia de aranha” – ragnatela), ou a subsequente formação de manchas localizadas, devidas à infiltração da humidade de condensação.
Pelo contrário, é prejudicial o emprego de materiais antigos demasiadamente deteriorados – os tijolos saturados de humidade podem, de facto, gerar extensas manchas de bolor e de sais sobre o reboco, e os tijolos fisicamente comprometidos não são fiáveis, quando inseridos em alvenarias de sustentação.
Na consolidação das estruturas portantes, por seu lado, a utilização de materiais e de tecnologias modernas deve ser estudada caso a caso; sucede frequentemente que a utilização do betão, para reforço de partes de fundações em tijolo, por exemplo, provoca novos motivos de ruína nas partes remanescentes, por causa das suas mais elevadas características de resistência.
A recuperação dos materiais deve poder ser efectuada de uma forma crítica, avaliando-se com atenção o tijolo reutilizável e descartando-se todos os que possam gerar problemas, especialmente os tijolos das fundações ou os que estiveram demasiadamente expostos à humidade – aspecto exterior, dimensões e cor proporcionarão indicações adicionais para a sua colocação definitiva.
Se o sentido do bom senso deve estar presente antes dos factores técnicos, do mesmo modo não podemos pretender ser completamente livres frente aos resultados estéticos, que nos casos mais importantes, estão ligados à própria natureza histórica do edifício.
Em geral, esta deve ser respeitada, deixando-se que os resultados das intervenções de restauro permitam transparecer a leitura dos trabalhos efectivamente desenvolvidos.
De facto, é importante considerar-se que uma qualquer estrutura arquitectónica é um organismo em evolução contínua, pelas diferentes funções a que é destinada ao longo do tempo, pela degradação natural das estruturas e dos materiais, os quais necessitam de uma manutenção contínua, e por uma multiplicidade de factores ocasionais.
Quem intervém nunca é o primeiro, como não será o último, e é importante que quem mais tarde lá trabalhar encontre vestígios do nosso trabalho, por forma a poder avaliar com precisão a natureza e a forma da intervenção seguinte.
Não deve prevalecer a tendência para a reposição integral, nem para a devolução dos elementos arquitectónicos importantes ao seu esplendor inicial, porque não se gera outra coisa que não seja uma falsidade; a uma pessoa que envelhece pode-se mudar a roupa, mas não se podem substituir partes do corpo para que rejuvenesça.