Apontamentos Um recurso com um valor potencial a ser explorado

Um recurso com um valor potencial a ser explorado

Hoje em dia é, geralmente, considerado que o melhor método para se conservar o património edificado é mantê-lo em funções como um espaço vivo, no sentido ecológico da palavra, ou, por outras palavras, como um meio mais ou menos apropriado e acomodante para um uso complexo que se irá desenvolver ao longo do tempo.

No entanto, os vestígios arqueológicos, através da reutilização, perdem permanentemente a sua função original e, geralmente, algum valor.

Portanto, eles mantêm apenas valor estético, simbólico e cultural. De qualquer forma, este conceito, um pouco sentimental, é muito simplista.

Na verdade, os vestígios têm, acima de tudo, um valor científico para os arqueólogos, já que representam a sua fonte primária de investigação, e este valor é quase ilimitado face ao constante progresso dos métodos científicos e analíticos.

O valor de um objecto, em todas as suas partes constituintes, pode ser real ou potencial, mesmo em termos estritamente económicos. O mundo modifica-se, assim como se modificam as atitudes, os gostos e os costumes.

O que parece hoje estar obsoleto, pode muito bem encontrar um novo uso amanhã, por exemplo um uso turístico ou cultural. Falamos, portanto, de valor potencial ou, por outras palavras, do valor que um objecto pode vir a adquirir a curto ou a longo prazo.

No caso dos vestígios arqueológicos, este valor é particularmente difícil de avaliar por causa das incertezas sobre o seu possível uso no curto, no médio e no longo prazo.

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Será que o simples facto de se transmitir uma parte do património às gerações futuras pode ser considerado como uma fonte de valor, por si próprio? Por outro lado, deverá a conservação de todos os vestígios arqueológicos ser considerada como um objectivo, por si própria, justificando todos os sacrifícios?

Parece legítimo considerar-se que estão insuficientemente questionadas as razões motivadoras da decisão de se preservarem os vestígios e o uso que se lhes vai dar.

A valorização de um sítio arqueológico é parte de um processo controlado por regras e princípios distintos.

Sendo aceite como valor facial que o fundamento da pesquisa arqueológica é o aumento do conhecimento sobre o passado, trata-se de um problema bastante diferente, quando se trata de se escolherem e justificarem outros usos para esses vestígios.

A análise do seu potencial valor num contexto urbano demonstra ser da maior dificuldade porque depende de dois factores aparentemente antagónicos: por um lado, a cidade, viva, em constante alteração, e por outro, o sítio arqueológico, isolado, intemporal, que deve ser preservado de uma forma permanente.

A qualidade do uso que se vai dar a este património vai depender da capacidade para se compreenderem e equilibrarem estes factores.

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