Introdução
Nesta unidade temática pretende-se que os estudantes tenham um grande aprofundamento sobre o senso comum e seus contornos evolucionistas do termo em função das dinâmicas sociais.
Objectivos específicos
- Aprofundar o senso comum.
- Conhecer a evolução do conceito.
- Identificar mecanismos de aplicação na vida social.
Desenvolvimento
É interessante observar que linguagem e pensamento são coisas indissociáveis, não se pode conceber uma sem a outra. Os conceitos nascem nos quotidianos (senso comum) são apropriados pelo meio científico e tornam-se científicos ao romperem com esse quotidiano, com esse senso comum. O vasto conjunto de concepções geralmente aceitas como verdadeiras em determinado meio social recebe o nome de senso comum.
Retomando a ideia de Francelin (2004) que as coisas por si só não têm sentido, sendo este atribuído a elas pelos homens, tratemos agora do senso comum, que é algum sentido dado colectivamente às coisas vividas. Para se orientar no mundo, o ser humano assume como certas e seguras diversas coisas, situações e relações entre factos, coisas e situações. Estabelece, assim, sistemas de discursos sobre o que tem vivido, isto é, sistemas de conhecimento.
Nem sempre o senso comum representa a realidade. Às vezes, conceitos erróneos são formulados e adoptados por colectividades.
É o caso do cidadão fumante que, respeitoso pelas regras de convívio, não fuma em ambientes em que haja outras pessoas, como um ônibus. Algo simples como observar coisas como esta contribuiu muito para que a humanidade estabelecesse mais uma diferença fundamental entre formas de pensamento humano, entre o senso comum e a ciência.
Nesse sentido, a ciência moderna “construiu-se contra o senso comum”, considerando-o “superficial, ilusório e falso” e a ciência pós-moderna vem para reconhecer os valores (“virtualidades”) do senso comum que enriquecem a “nossa relação com o mundo”, ou seja, o senso comum também produz conhecimento, mesmo que ele seja um “conhecimento mistificado e mistificador”. Mas, apesar disso e apesar de ser conservador, tem uma dimensão utópica e libertadora que pode ser ampliada através do diálogo com o conhecimento científico” (FRANCELIN , 2004).
A aproximação do conhecimento do senso comum ao conhecimento científico com a da descrição de algumas características do próprio senso comum, tais como causa e intenção; prática e pragmática; transparência e evidência; superficialidade e abrangência; espontaneidade; flexibilidade; persuasão.
Como boa parte dos pensadores pós-modernos, Santos (2000) não deixa de mencionar a influência exercida em sua obra pelo pensamento bachelardiano e, seguindo o pensamento deste último, diz que o conhecimento científico somente é possível mediante o rompimento com o conhecimento vulgar, com o senso comum.
A ciência, “a ciência constrói-se, pois, contra o senso comum, e para isso dispõe de três actos epistemológicos fundamentais: a ruptura, a construção e a constatação” (Santos, 2000, p.31).
De acordo com Francelin (2004) a caracterização do senso comum não passa, necessariamente, por critérios de verdade ou falsidade, mas sim pela “falta de fundamentação sistemática”, ou seja, recebem e emitem opiniões sem saber por que e o que significam.
São processos acríticos nos quais um indivíduo concebe um conjunto de informações como conhecimentos, sem saber realmente o que significam, e os utiliza na prática quotidiana como se fossem verdadeiros e definitivos, sendo estes últimos apenas “conhecimentos provisórios e parciais” (Francelin, 2004 citando Cotrim, 2002).
No meio científico, os conhecimentos também podem ser provisórios e parciais, podem dar lugar a novos conhecimentos que surgem ao longo do tempo através de novas pesquisas.
Francelin (2004) afirma que a grande diferença é que no meio científico deve haver plena consciência de que uma pesquisa que leva a um novo conhecimento não é definitiva.
O senso comum, portanto, descarta essa premissa, pois as opiniões obtidas podem ser emitidas como verdadeiras e definitivas. A ciência, aparentemente, busca por meio de seu rigor na pesquisa, no debate e crítica de opiniões, afastar-se do senso comum.