Apontamentos Restauro Científico e Restauro Crítico

Restauro Científico e Restauro Crítico

Entre estes dois conceitos contrários, elaborou-se uma teoria intermédia, sustentada por C. Boito e G. Giovannoni, que propõe dar-se a maior importância ás obras de manutenção e de consolidação.

Mais do que com a unidade arquitectónica, preocupa-se com a salvaguarda do monumento, de todas as obras de todos os períodos que tenham um carácter de arte.

Depois de cinquenta anos de predomínio do método estilístico, afirma-se, na década de 1880 – 1890, o restauro histórico.

Este fundamenta-se nas conquistas da filologia e na convicção de que cada monumento é um facto distinto e completo.

Ao restaurador, definido como um artista recriador que procura confundir-se com o primitivo arquitecto, substitui-se o arquivista histórico, que fundamenta a sua acção exclusivamente em testemunhos seguros, desde os documentos de arquivo aos pintados, desde a análise aprofundada do monumento aos textos literários da sua época.

Em 1883, Camilo Boito tinha já enunciado os princípios fundamentais do restauro no seu sentido moderno:

  • Os monumentos valem não só para o estudo da arquitectura, mas como documentos da história dos povos e, por isso, devem ser respeitados.
  • Devem ser preferencialmente consolidados do que reparados, preferencialmente reparados do que restaurados, evitando-se adições e renovações.
  • As adições executadas em tempos diferentes devem ser consideradas como partes do monumento e mantidas.

Esta doutrina consolida-se, mas só se espalha muito lentamente, e só na Conferência Internacional de Atenas, em 1931, se recolhem os seus princípios, recomendando-se uma constante obra de manutenção e de consolidação dos monumentos antigos, admitindo-se o emprego dos meios técnicos e dos sistemas construtivos mais modernos.

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Em Itália, estes pontos foram retomados no mesmo ano pela Carta Italiana del Restauro, redigida por Gustavo Giovannoni, onde se evidencia a importância da aplicação destes mesmos princípios, quer nos restauros particulares, quer nos executados por entidades públicas, a começar pelas Soprintendenze dedicadas à conservação e à descoberta dos monumentos.

Em 1939 é institucionalizada a figura do restaurador. Até 1944 o restauro científico revela a sua inadequação quando se tem que enfrentar as consequÍncias das destruições provocadas pela guerra; acaba por ser substituído pelo restauro crítico, que sublinha como a primeira preocupação do restaurador deve ser necessariamente a que se dirige para a revelação no monumento da plena presença da sua qualidade artística.

Assim, o trabalho começa por uma acção estritamente crítica, que se exprime por um juízo baseado no critério de atribuição da prevalência absoluta ao valor artístico, em confronto com outros
aspectos e características do edifício, os quais lhe ficam subordinados e em plano secundário.