Apontamentos Reparação e Manutenção dos Edifícios Históricos em Adobe

Reparação e Manutenção dos Edifícios Históricos em Adobe

Uma vez que seja reparada a degradação do adobe e qualquer dano estrutural resultante, o restauro do edifício em adobe pode prosseguir. Deve ser prestada uma atenção especial no que respeita à substituição, reparação e/ou reprodução de todos os materiais danificados por materiais tradicionais ou originais.

Remendos e reparações dos tijolos em adobe: Quando se remendam ou substituem tijolos em adobe, devem ser feitos todos os esforços razoáveis para se encontrar uma argila com textura e cor semelhantes às da fábrica original. Quando um tijolo individual em adobe estiver parcialmente desintegrado, ele pode ser remendado no seu lugar.

O material degradado deve ser escarificado e retirado, sendo substituído por uma lama de adobe apropriada. É frequente que fragmentos de tijolos originais em adobe sejam pulverizados, misturados com água e voltados a usar para se remendarem áreas erodidas.

No entanto, alguns profissionais são contra a reutilização de um material que tenha ficado delaminado porque contém, frequentemente, uma elevada concentração de sais.

Se tiver ficado destruída e delaminada uma quantidade substancial de tijolo, podem-se usar tijolos e meios-tijolos comercialmente fabricados, ou então podem ser produzidos novos tijolos em obra ou lá perto. Estes costumam ter geralmente entre 7,50 cm a 10,00 cm de espessura e, idealmente, são compostos por adobe não estabilizado (ou seja, sem quaisquer aditivos químicos).

Os tijolos em adobe degradados devem ser arrancados para se colocarem os novos. Se uma grande porção de um dado tijolo não estiver degradada, então a parte degradada pode ser substituída por meios-tijolos.

Pode ser necessário cortar-se fundo até às partes não degradadas dos tijolos para se conseguir um formar alojamento complanar para os novos meios-tijolos. Molha-se ligeiramente com água (mas não se ensopa) o tijolo novo e a área circundante para se facilitar uma melhor ligação.

A humidade em excesso pode provocar deformações. Usa-se sempre uma argamassa tradicional de lama de adobe. Quando se tem que substituir tijolos completos ou secções inteiras das paredes, deve-se ter o maior cuidado na compra de tijolos ‘prontos a usar’. Muitos deles são produzidos actualmente usando-se agentes estabilizadores (cimento Portland, cal ou asfalto emulsionado) na sua composição.

Enquanto que a inclusão destes agentes nos tijolos de adobe novos é um avanço técnico para a sua durabilidade, eles provam ser incompatíveis com a fábrica dos edifícios históricos em adobe.

Os blocos de cimento e de cinzas também são soluções tentadoramente semelhantes numa substituição extensa de tijolos em adobe; mas, tal como com os tijolos em adobe estabilizados comerciais, eles não são compatíveis com os mais antigos e mais instáveis tijolos em adobe. Apesar disso, têm sido usados com sucesso blocos de cimento em paredes divisórias interiores.

Reparação e substituição de argamassas: Na reparação de argamassas de adobe soltas e degradadas, deve-se ter em atenção o acerto do material, da cor e da textura originais. Mais importante, nunca se substitui uma argamassa de lama de adobe por uma argamassa de cal ou de cimento Portland.

É um erro vulgar assumir-se que a dureza ou a resistência da argamassa é uma medida da sua adequação à construção ou reparação em adobe. As argamassas compostas com cimento Portland ou cal não tem a mesma taxa de dilatação térmica que os tijolos em adobe. Com a expansão e a contracção térmicas continuadas dos tijolos em adobe, as argamassas de cimento Portland e de cal vão provocar a fractura dos tijolos – o material mais fraco – a sua desagregação e eventual desintegração.

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No entanto, reconhece-se que alguns edifícios históricos tardios sempre tiveram argamassas de cimento Portland e de cal na sua construção inicial. A remoção e substituição destas argamassas por argamassa de lama não são aconselhadas, porque essa remoção é, geralmente, destrutiva para os próprios tijolos em adobe.

Na reparação de fracturas no adobe, pode ser usado um procedimento semelhante ao da reparação das juntas em alvenaria. É necessário aprofundar-se as fracturas até uma profundidade 2 a 3 vezes superior à largura de uma junta vulgar em argamassa, para se obter uma boa “chave” (ligação mecânica) entre a argamassa nova e os tijolos em adobe. Usa-se uma colher de pedreiro ou uma pistola de mástique grande contendo a nova argamassa de lama de adobe para se preencherem as fracturas.

Reparação e substituição de membros em madeira: Os membros em madeira apodrecidos ou infestados com térmitas, tais como “vigas”, “savinos”, lintéis, contraventamentos das paredes, ou soalhos devem ser reparados ou substituídos. A madeira deve ser sempre substituída por madeira.

No entanto, no caso de cachorros esculpidos, podem ser usados consolidantes epoxi de baixa resistência, especialmente formulados, para se executarem reparações, salvando-se assim os trabalhados originais. Devem ser sempre feitos ensaios preliminares antes das reparações para se verificar se os resultados desejados são mesmo obtidos, já que, normalmente, eles não são reversíveis. Esta é uma área da reparação de edifícios que não deve ser tentada por amadores.

Reparação e substituição de revestimentos superficiais: Historicamente, praticamente todas as superfícies dos edifícios em adobe eram revestidas. Quando estes revestimentos se degradavam, tinham que ser substituídos. Devem-se empregar todos os esforços possíveis para se revestirem estas superfícies com o mesmo material que originalmente foi empregue.

Quando esse revestimento é em “mud plaster”, este processo exige que o “mud plaster” degradado seja escarificado e substituído com materiais e técnicas semelhantes, tentando-se, em todos os casos, acertar-se o trabalho de reparação o mais aproximadamente possível com o original. É sempre melhor recobrir-se o adobe com “mud plaster”, mesmo que esse “mud plaster” tenha que ser renovado mais frequentemente.

O processo não é assim tão simples quando estiverem envolvidos “stuccos” de cal ou de cimento Portland. Deve-se remover tanto quanto possível do revestimento superficial degradado sem se danificar a fábrica subjacente em tijolos de adobe. Nunca se deve aplicar uma nova camada de “stucco” de cal ou de cimento Portland sobre um revestimento superficial degradado. Se for verificada uma degradação superficial séria, é muito provável que exista uma ainda maior degradação nas camadas inferiores.

Geralmente, este problema está relacionado com a água, caso em que se deve consultar um profissional. Se forem necessárias aplicações extensas de “stucco” de cal ou de cimento Portland, o proprietário de um edifício em adobe pode considerar revestir todo o edifício com ripado sobre o qual será, depois, aplicado o revestimento, criando, assim, uma barreira de vapor. Deve-se remendar sempre com o mesmo material que está a ser substituído. Apesar de o “stucco” de cal ou de cimento Portland ser menos satisfatório como revestimento superficial, muitos edifícios em adobe sempre o tiveram como revestimento superficial. A sua remoção total não é aconselhável porque o processo pode provar ser mais danificador do que a degradação natural.

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Coberturas: As coberturas planas em adobe devem ser restauradas e mantidas com a sua forma e materiais originais; no entanto, pode não ser exequível ou prudente restaurar-se ou reconstruir-se uma cobertura plana em adobe num determinado edifício que, previamente, já tinha sido modificada para um telhado inclinado com folha metálica, telhas cerâmicas ou soletos de madeira.

Se for restaurada uma cobertura plana em adobe, com uma camada fresca de lama de adobe sobre a cobertura em adobe existente, deve-se ter o maior cuidado em se escorar temporariamente essa cobertura durante o trabalho, porque a lama de adobe é mais pesada enquanto molhada do que depois de ter curado. Se não for escorado, esse telhado pode ruir ou deformar-se.

Se for permitida a flexão dos suportes em madeira da cobertura durante os trabalhos, essa madeira pode ganhar uma deformação permanente, resultando numa drenagem inadequada e/ou no empoçamento da água nos pontos baixos.

Este empoçamento é especialmente danificador nas coberturas em adobe, já que a água estagnada pode, eventualmente, infiltrar-se através da lama e provocar o apodrecimento dos membros de madeira dessa cobertura.

Num edifício em adobe, não é aconselhável construir-se uma nova cobertura que seja mais pesada do que a cobertura que está a ser substituída. Se as paredes por baixo desta tiverem problemas com humidade que estejam por corrigir, o peso adicional da nova cobertura pode provocar o abaulamento dessas paredes (deformação provocada enquanto a lama de adobe estiver em estado plástico). Se as paredes estiverem secas, mas seriamente danificadas, o peso adicional pode provocar a sua fractura ou desmoronamento (ruína por compressão).

Pavimentos, janelas, portas, etc.: As janelas, as portas, os pavimentos e outros pormenores originais do velho edifício em adobe devem ser retidos, sempre que possível. É, no entanto, compreensível que as exigências da vida moderna tornem necessárias algumas alterações nestes elementos: janelas e portas com isolamento térmico, pavimentos de manutenção fácil, etc. mas devem ser empregues todos os esforços razoáveis para se reterem os pormenores interiores originais.

Manutenção

Uma boa manutenção cíclica foi sempre a chave para o sucesso da sobrevivência dos edifícios em adobe. Uma vez que sejam executadas obras de reabilitação ou de restauro, deve ser iniciado um programa de manutenção contínua.

As alterações no edifício devem ser cuidadosamente anotadas. Os estados iniciais de fissuração, deformação ou abaulamento nas paredes em adobe devem ser regularmente monitorizados.

Devem ser registados todos os danos por acção da água e remediados o mais cedo possível. Os danos consequentes de plantas, animais e insectos devem ser detidos antes que se tornem substanciais.

A cobertura deve ser inspeccionada periodicamente. Os revestimentos superficiais devem ser inspeccionados frequentemente e reparados ou substituídos, conforme necessário.

Os sistemas mecânicos devem ser monitorizados para se evitarem as avarias. Por exemplo, os canos de água com fugas e a condensação podem ser potencialmente mais danificadores para um edifício em adobe do que para uma estrutura em tijolo, pedra ou madeira.

A observação das subtis alterações de um edifício em adobe e a execução de uma manutenção regular são uma política que nunca é demais enfatizar-se. É da natureza dos edifícios em adobe degradarem-se, mas uma manutenção cíclica pode deter substancialmente este processo, produzindo-se assim um edifico histórico em adobe relativamente estável.

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