Apontamentos Padrões de actuação

Padrões de actuação

Quando um arquitecto pretende intervir na cidade é sensato que este tenha em conta determinados ‘modelos’.

Estas acções chamadas de espontâneas, embora não o sejam por completo, oferecem uma interpretação mais orgânica e natural da evolução da cidade.

As técnicas de intervenção na cidade começam por reconhecer e precisar os limites de influência da operação em curso, incorporando os dados que definem a matriz estruturante da área a intervir.

Se:

  • Se adopta um compromisso com o meio urbano;
  • Se aceita o princípio de que todo o edifício é algo mais do que o volume me que se encerra;
  • Se segue um plano baseado no conhecimento das relações formais;

Então:

  • Pode-se falar em técnicas conceptuais que poderão conduzir a padrões de intervenção.

Cada padrão não define uma silhueta, propõe antes uma técnica de ordenamento relativa ás várias intervenções que se poderão idealizar, ou seja, os pontos chave a ter em conta.

1o padrão] Conformação do tecido urbano:

Se aceitamos que o tecido urbano é um sistemas de volumes construídos com espaços intermédios, ou de vazios organizados entre volumes, então sabemos que as operações farão nada mais nada menos do que reorganizar/ recompor este sistemas – reformulação espacial.

Neste padrão:

  • Deve considerar-se a possibilidade de dar forma ao espaço urbano desarticulado;
  • Dar um sentido lógico e coordenado entre a nova e a velha arquitectura.

2o padrão] Acção positiva a favor da caracterização volumétrica de um espaço urbano parcialmente indeterminado:

Não consiste, portanto, em obstruir o espaço como se de um líquido se tratasse, mas antes de fechar, delimitar mediante ocupação de certos espaços vazios, com volumes que adoptem uma metodologia respeitante ao espaço existente.

Os novos edifícios são utilizados para uma definição melhor, e mais precisa, ou mesmo reformulação do espaço urbano.

É necessário reconhecer de imediato quais os edifícios com papel activo na composição da realidade urbana espacial, dando lógica a um conjunto de massa construída.

Certos arquitectos trabalharam a relação entre edifício e espaço urbano através de muros, devido às suas características duplas. Por outro lado, muitos espaços urbanos são individualizados através de meros desníveis, de passeios, como na separação entre rua e passeio/ espaço automóvel – espaço do peão.

Asplund dizia – “É mais importante adoptar o ‘estilo’ do lugar, do que o estilo de uma época.”

3o padrão] Continuidade de imagem:

Este padrão reconhece principalmente a existência de trabalhos que incidem prioritariamente sobre aspectos plásticos da arquitectura, tratando de potencializar a relação visual que pode produzir-se entre uma nova intervenção e as preexistências.

Há tendência para enaltecer os aspectos figurativos, algo que tem sentido desde os pressupostos implícitos em noções de paisagem e imagem da cidade.

Dentro deste padrão, fundamentado na inter-relação dos aspectos figurativos, o recurso à continuidade estilística tem grande tradição como instrumento metodológico para assegurar a
homogeneidade estética do novo associado ao antigo.

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4o padrão] Recreação de formas tipológicas:

Isto é, princípio comparativo como fundamento de um hipotético método analógico. Portanto, as caracterizações tipológicas que recorrem a dados construtivos fieis ao lugar.

Há, então, um estudo profundo do lugar, uma análise formal e tipológica, seguida de uma reinterpretação. Também a procura e o uso de simbologias podem ser integradas a este nível.

5o padrão] Colisão de estruturas formais:

Há um criticismo arquitectónico que radicaliza a sua acção mediante a confrontação formal com o construído, logo, há uma expressão do contraste como legitima consequência da adopção do valor “ novidade” na sua fictícia autonomia cultural.

Esta colisão de estruturas formais como padrão consciente ou inconsciente de intervenção, ganhou importância com os movimentos vanguardistas já no séc. XX. Há então uma abstracção versus uma figuração tradicional.

Estas intervenções implantam-se no lugar com um ostentável radicalismo critico, adoptando um contraste formal bastante legível. Mas, em relação ao realismo só podem propor a abstracção.

Este padrão foi muito utilizado aquando do fascismo, ou mesmo de imposições e manifestações políticas de outra ordem.

Como exemplo significativo temos a Casa do Fascio, do Terragni (Itália), onde este defende que os edifícios novos e os antigos deviam ser colocados próximos uns dos outros, contrastando-se.

Facilmente se associa o que foi descrito com intervenções contemporâneas, ou do século passado.

As atitudes frente ao contexto

Podemos discriminar três. A ver:

1. Há quem defenda uma arquitectura moderna, orgulhosa da sua condição como tal e que devia, mediante a descontextualização, ser capaz de confirmar a confrontação do histórico com o moderno;
2. Há quem defenda uma arquitectura historicista, ainda que rotulada de anacrónica, que recorreria, total ou parcialmente, a significados nostálgicos mediante significações miméticas;
3. Há quem defenda a possibilidade de uma arquitectura que, com um desenho intencional, chegaria a superar a suposta impossibilidade original para se integrar em centros históricos sem renunciar à sua condição de modernidade. Arquitectura que aludiria a outras mas não as reproduziria.

Formas interventivas 

Isto é, atitudes projectuais de intervenção no construído.

a] Arquitectura descontextualizada:

Pode traduzir-se por:

  • Uma intervenção despreocupada especificamente para o problema que supõe construir no construído e, em termos gerais, culturalmente medíocre;
  • Com carência de significados contextuais;
  • Esteve em voga a partir da 2a Grande Guerra;
  • Arquitectura essa que não poderá ser confundida com atitudes propositadas de imagem de constaste;
  • Este contraste poderá ser formal e tecnológico, ou figurativo e visual.

b] Arquitectura de contraste:

Pode traduzir-se por:

  • As edificações não se inserem no conjunto, ou seja, fogem à continuidade;
  • Estas caracterizam-se antes pela afirmação de uma identidade e individualidade, mediante uma expressão formal e uma linguagem gráfica diferente;
  • Como exemplo por excelência, temos a difícil inserção de edifícios novos em núcleos históricos;
  • Poder-se-á tomar esta atitude para salientar o valor cultural da envolvente;
  • Assim, expressa-se a contemporaneidade como contraste, e a particularidade como expressão;
  • Estes ideais foram defendidos principalmente durante o Movimentos Moderno;
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c] Arquitectura historicista:

Pode traduzir-se por:

  • Adopção de uma consciência renovada de continuidade, expressa na persistência de traços figurativos dentro da cultura material do lugar;
  • Essa continuidade pode ser balizada entre margens conceptuais definidas pelas noções reprodução/ mimesis e reinterpretação  analogia;
  • Há, assim, obras historicistas que procuram, esconder, propositadamente, a data e época de construção do edifício antigo.

d] Arquitectura folclórica:

Pode traduzir-se por:

  • Reprodução de um certo regionalismo mediterrâneo e pseudo – rural realmente inexistente;
  • Reprodução de pautas antropológicas ligadas a âmbitos culturais pré – industriais.

e] Arquitectura de base tipológica:

Pode traduzir-se por:

  • A fundamentação tipológica de certos métodos de desenho, faz-nos reconhecer a existência de uma arquitectura capaz de aludir a estruturas consolidadas em experiências existentes, sem que sejam um mimetismo figurativo;
  • É possível identificar componentes construtivas como contemporâneas, sendo a matriz estruturante identificável com algum tipo arquitectónico reconhecível, seja como presença real através de objectos e como valor geral de uma experiência histórica sintetizada;
  • Características que permitem associar esta arquitectura com o contexto histórico são, fundamentalmente as seguintes:
    • Os princípios tipológicos de relação básica dos elementos;
    • A figura entendida como volume ou sólido capaz, incluindo relações de proporcionalidade;
    • Ao traçados geométricos necessários para definir quanto falta para uma concretização tipológica;
    • Outras características como cor, textura e orientação, não têm participação relevante.

f] Arquitectura do fragmento:

Pode traduzir-se por:

  • Acções baseadas no fragmento, bastante frequentes actualmente, estão teoricamente fundamentadas no reconhecimento do principio da multiplicidade;
  • É um dos instrumentos tipo do experimentalismo, consistindo na semblagem de elementos distintos tipológicamente, historicamente e ideologicamente;
  • Estas arquitecturas heterónimas não prolongam a ordem contextual porque não advertem, porque não assumem;
  • Estas acções estimulam uma nova relação debilmente estruturada;
  • Estas intervenções tendem a definir um microcosmos urbano particularizado;
  • Este tipo de intervenção não acentua nem prolonga a ordem existente, e também não cria outra nova. Alude antes à ordem aleatória da colagem, mas não representa o eclectismo.

g] Arquitectura contextual:

Pode traduzir-se por:

  • Ser aquela que, sem recorrer à mimesis superficial ou à analogia directa, estabelece uma simbiose com o contexto, prolongando-o ou revalorizando-o mediante um esforço de pesquisa formal orientado desde o mesmo conceito;
  • Tenta salvar o conflito entre a individualidade dos objectos e as leis estabelecidas na construção da cidade;
  • Falasse aqui de uma arquitectura ambientalmente integrada, mas reconhecível como pertencente ao seu momento histórico;
  • Esta esforça-se por estabelecer a continuidade entre o novo e o velho, mediante uma investigação particular do lugar;
  • Não é anti – tipológica, mas responde a impulsos culturais que superam a pequena cultura local;
  • Não é anti – historicista, mas evita reproduzir a história;
  • Não representa uma simples mimesis, mas pode favorecer as relações figurativas com a envolvente;
  • Apoia-se sempre numa reflexão intelectual e na observação das leis de formação da cidade.
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