Na unidade anterior, nós vimos que conceitos podem ser entendidos como um princípio de categorização.
Categorização é a habilidade que nós temos de identificar as semelhanças e diferenças que percebemos que existem entre certas entidades, ou entre certas eventualidades, ou entre certas relações, de modo a juntá-las em diferentes grupos.
A categorização é fundamental para entendermos a representação do conhecimento e o significado linguístico.
Se não tivéssemos essa capacidade de agrupar vários aspectos de nossa experiência em categorias estáveis, nossa experiência seria caótica, e nós não conseguiríamos aprender nada a partir dela.
É justamente porque somos capazes de agrupar elementos de nossa experiência em categorias, que nós podemos reconhecer que nós já os experimentamos alguma vez, e que nós podemos acessar nosso conhecimento a respeito deles.
Dizer que conceitos podem ser entendidos como um princípio de categorização significa dizer que a categorização dá origem a conceitos. Mas, ao mesmo tempo, a categorização depende dos conceitos. Vamos entender isso.
Por exemplo, quando vemos dois animais pela primeira vez e percebemos que eles são bastante semelhantes, criamos uma categoria para agrupar esses dois animais.
Ao criar a categoria, criamos também um conceito, ou seja, uma idéia que nos ajuda a reconhecer esses animais, e que nos ajuda a fazer uma distinção entre esses animais e outros animais diferentes deles.
Uma vez criada essa categoria e esse conceito, vamos incluir dentro dela todos os animais que têm alguma semelhança com os que vimos primeiro. Ou seja, uma vez criada a categoria e o conceito, vamos passar a categorizar certos animais como membros dessa categoria.
No curso de Introdução aos Estudos Linguísticos, vocês aprenderam que, para Saussure, a língua é um princípio de classificação. Isso equivale a dizer que a língua é um princípio de categorização. Por que a língua é um princípio de classificação?
Porque a língua, por meio dos conceitos associados a cada signo, ajuda o ser humano a categorizar o mundo, ou seja, a organizar sua experiência de uma certa maneira, agrupando as entidades, as situações, os eventos e as relações em várias diferentes categorias.
Vocês devem se lembrar de que algumas línguas têm dois signos diferentes para expressar o que nós, em português, expressamos com um signo só. Vocês viram, por exemplo, que, enquanto em português temos apenas o signo ‘porco’ para nos referir tanto ao animal quanto à sua carne, em inglês existem dois signos diferentes, um para o animal (pig), outro para a sua carne (pork).
Um outro exemplo que ilustra diferenças entre o português e o inglês é o do signo ‘dedo’ (do português) e dos signos finger e toe (do inglês). Em português, temos um único conceito, associado ao signo ‘dedo’, que engloba tanto os dedos das mãos, quanto os dedos dos pés. Isso significa que nós temos uma única categoria DEDO.
Dedos das mãos e dos pés são membros dessa categoria. Usamos a palavra “eventualidades” para significar tanto “eventos” como “situações”. Em inglês, há dois conceitos diferentes: o conceito [FINGER], associado aos dedos das mãos; e o conceito [TOE], associado aos dedos dos pés.
Os povos de língua inglesa têm, então, duas categorias: a categoria FINGER, que tem como membros os dedos das mãos; e a categoria TOE, que tem como membros os dedos dos pés. Isso mostra que os povos de língua inglesa organizam sua experiência de uma maneira diferente da maneira usada pelos povos de língua portuguesa, criando conceitos e categorias diferentes dos nossos.