O aço macio e as modernas técnicas de soldadura por arco eléctrico suplantaram largamente os trabalhos tradicionais em ferro forjado.
Chris Topp, um ferreiro tradicional, aborda o desenvolvimento histórico deste material e a necessidade da sua utilização sistemática nos trabalhos de conservação actuais.
Antes da chegada dos Romanos, os Bretões eram reconhecidos pela sua joalharia em ferro; era um metal caro em palavras literais, pelo tempo e trabalhos gastos a conseguir-se tornar regular a mais pequena brasa deste material.
O ferro forjado primitivo era feito ao fogo, a partir de minério e de carvão de madeira. O calor era suficiente para o carvão reduzir o óxido de ferro a metal, mas não para fundir este.
Consequentemente, ficavam incluídas escórias de silicatos, não sendo refinadas e removidas como hoje fazemos, mas entranhadas na estrutura fibrosa do material. Por esta razão, os ferros antigos duraram séculos. O ferro pode ser corroído, mas nunca o seu revestimento de escórias de silicatos.
A porta do Séc. XII na Igreja de Stillingfleet (esquerda) e a sua substituição feita por Chris Topp and Co (direita).
No entanto, muito pouco dele sobreviveu porque o ferro forjado podia ser repetidamente reciclado e beneficiava ao ser novamente trabalhado. A sucata podia ser junta, aquecida até brilhar ao rubro branco, e forjada de novo ao martelo até formar uma massa sólida, para produzir um ferro de qualidade superior.
Os artigos de ferro arquitectónico mais antigos que sobreviveram no Reino Unido são provavelmente Normandos, tais como o gradeamento, “ex solido ferro” no Castelo de Raby, e as janelas gradeadas do tesouro na catedral de Canterbury.
As portas eram muitas vezes robustecidas com ferro, frequentemente de natureza decorativa, tal como o famoso exemplo da Igreja de Stillingfleet, acima ilustrado. Datando de cerca de 1145, só recentemente foi renovada.
A original está conservada na segurança interior da Igreja.
Desde a requintada precisão do artista fabricante de fechaduras 1 e do armeiro 2, até ao prosaico trabalho do afiador de arados 3 e do ferrador de cavalos 4, a arte do ferreiro desenvolveu-se. Pouco deste trabalho arquitectural em ferro primitivo é típico.
O ferrolho de uma porta ou a tranca de uma janela por exemplo, eram mais ou menos ornamentadas conforme a inspiração do ferreiro e, tal como hoje, conforme o orçamento disponível.
Emergiram tipos familiares, tais como o fecho 5 de Suffolk e diversas formas de dobradiças. Frequentemente inventivas, muitas vezes rudes, mas sempre afeiçoados em conformidade com a natureza do ferro.
Com a introdução das forjas de fole no Séc. XV, a disponibilidade em ferro forjado aumentou. Os artesãos atingiram novas alturas no período Great English Ironwork que teve início em 1690 ou, aproximadamente, com a chegada de um Belga, Jean Tijou.
Alguns dos melhores exemplos deste período incluem o trabalho daquele, como os gradeamentos em Hampton Court, e o trabalho dos seus discípulos, como a armação de jardim de Thomas Bakewell conhecida como a “gaiola de pássaros” em Melbourne Hall (1707 – 1711), os portões de William Edney em St. Mary Redcliffe (cerca de 1710), e os portões dos Irmãos Davies no Castelo de Chirk (1715 – 1721).
A mudança foi no sentido de uma mais livre utilização de ornamentação em folha metálica batida aplicada nos varões para formar folhagens barrocas, festões, máscaras e todos os tipos de embelezamentos. As técnicas eram, sem dúvida, derivadas das da armaria.
O material era soberbo, não só pela sua capacidade em acomodar trabalhos de “repoussé” profundo, feito a frio, mas também pela sua persistência, pelo que o que nós hoje podemos ver já esteve exposto ao clima durante cerca de 300 anos.
Para se reproduzirem minuciosamente os artigos do passado, devemos, mesmo actualmente, usar materiais e métodos semelhantes aos que então foram usados. O trabalho de desenhador de projectos é uma coisa da idade moderna, tal como o são as obsessões com dimensões, simetrias e ângulos rectos.
O delicado trabalho rendilhado dos Portões Dourados em Chatsworth não é prejudicado pela ausência de uma linha recta ou de um canto à esquadria.
Construídos sem quaisquer desenhos, unidos por milhares de pequenos rebites rectangulares, de diferentes tamanhos, aplicados, sem margem para dúvidas, por uma equipa de aprendizes lamuriosos. Não sendo fácil de restaurar, tornou-se infinitamente mais difícil pelas atenções de um soldador a arco dos nossos tempos, no interesse dum anterior conceito de “restauro”.
O ferro deste período é actualmente chamado de “charcoal iron”, uma forma altamente carbonatada de ferro que era obtida pelo trabalhado constante ao fogo.
Era susceptível de ser uniformemente endurecido, ao contrário dos ferros pudelados do Séc. XIX, e não tem substituto.
Só muito recentemente é que este ferro voltou a ser produzido, com destino à indústria da conservação. Encontra-se à venda sob a forma de chapas.
A arte de ferreiro Inglesa seguiu o seu curso durante o Séc. XVIII, desde o Barroco até ao Rococo, e até uma mais austera época de mecanização.