Por volta da década de 1920 segundo afirma Gonçalves (2002) alguns antropólogos americanos interessaram-se pela relação entre a cultura e a personalidade.
A teoria psicanalítica de Sigmund Freud (1856-1939) foi uma das influências fundamentais nesse movimento da antropologia cultural norte-americana, que ficou para a história da antropologia como culturalismo ou, movimento de cultura-personalidade (LEPLATINE, 2003).
Desta forma de acordo com Eriksen e Nielsen (2007) as diferenças de comportamento entre homens e mulheres existentes em qualquer sociedade são um produto do treino social e da enculturação, e não das diferenças biológicas entre géneros.
A personalidade base resultaria sobretudo do treino e educação sociais recebidos na infância, da maneira como os adultos educam as crianças.
O conjunto de práticas culturais que davam forma à personalidade base era designado por instituições primárias. Santos (1969) afirma que uma vez formada a personalidade base, esta faria depois emergir um conjunto de instituições secundárias destinadas a satisfazer as necessidades e solucionar os conflitos originados pela estrutura da própria personalidade base.
Ainda de acordo com Santos (1969) a religião e o ritual eram exemplos de instituições secundárias decorrentes da personalidade base. As instituições primárias e as secundárias influenciavam-se assim mutuamente de forma circular, através da personalidade base.
O problema deste tipo de teorias é criarem explicações circulares das quais não se consegue sair, pois uma coisa explica a outra e vice-versa, e assim sucessivamente (BATALHA, 2004).
Assim, nas sociedades onde se pratica a agricultura o treino social enfatiza a obediência e a responsabilidade, enquanto nos caçadores-recolectores e pescadores enfatiza a independência e a confiança individual (LEPLATINE, 2003). Mas este tipo de generalização também não pode ser levado demasiado longe.
Por exemplo, a punição do comportamento agressivo infantil poderia levar ao desenvolvimento de adultos preocupados com a agressão, o que por sua vez poderia levar esses adultos a atribuírem à agressividade os estados de doença.
O maior problema com este tipo de teorias é o facto de elas muitas vezes procurarem generalizações demasiado amplas e para as quais não existe prova etnográfica suficiente (BATALHA, 2004).