Estão a ficar populares, é barato, rápido e fácil. Sim, estamos a falar sobre microaspersões, nebulizações, sprays, tratamentos ULV – chamem-lhes lá o que quiserem. Então do que se trata?
Basicamente, o processo envolve a produção de uma nuvem de um imunizador para madeira e a sua introdução, por jacto, no espaço em que estão as madeiras, ou seja, caixas de ar sob pavimentos, tectos falsos, etc.
Este processo coloca gotículas do imunizador no ar, algumas das quais aterram na madeira proporcionando teoricamente, portanto, um revestimento protector adequado.
As suas vantagens são claras – não existem perturbações assinaláveis; as tábuas do pavimento, alcatifas, etc., não são levantadas, e o operário senta-se e espera. E parece ser rápido, simples e limpo.
Então qual é o problema?
Vamos começar por olhar para o método convencional para a erradicação por aspersão do caruncho vulgar da mobília (Anobium punctatum).
O processo envolve a aspersão de um certo volume de um fluido imunizador que contém um insecticida de contacto sobre a madeira. Usa-se um aspersor normal de baixa pressão para se garantir que, tanto quanto possível, todo o líquido aplicado atinge a madeira e não se espalha no ar.
O fluido penetra até 3 a 5 mm de profundidade para proporcionar um “embrulho” protector de imunizador ao redor da madeira. A função do insecticida de contacto é a de matar os adultos, quando estes emergem, e qualquer larva que tente penetrar a superfície tratada, caso tenham sido postos ovos.
Após 3 a 5 anos, a população está efectivamente extinta dentro da madeira, já que são evitadas quer a sua emergência, quer uma eventual reinfestação, ou seja, a infestação foi “erradicada”. Ou, pelo menos, é esta a teoria.
É muito importante conseguir-se a máxima penetração do imunizador, por forma a permitir uma protecção de longa duração e para se tentar chegar abaixo do nível que o vulgar caruncho da mobília consegue atingir, voltando a penetrar, pelos antigos furos de emergência e pelas fissuras e reentrâncias da madeira, para pôr ovos.
As investigações demonstraram com clareza que o caruncho da mobília põe, frequentemente, ovos nos antigos furos de saída, por vezes bastante abaixo da superfície. Se isto acontecer abaixo do “embrulho” tratado, as larvas sobrevivem e a infestação continua.
Para se conseguir a penetração dentro da madeira, é necessário algum volume, e quanto mais fluido, maior a penetração.
Imagine-se que a madeira é uma esponja – deita-se uma colher de chá de fluido nessa esponja e ela não vai muito longe; se for deitada uma chávena cheia, conseguir-se-á uma muito melhor distribuição.
A recomendação usual é de cerca de 1 litro de imunizador por cada 3 metros quadrados de superfície de madeira. Se não for aplicado o imunizador suficiente, a penetração fica limitada e ocorrem problemas, conforme acima descrito.
Além disso, como os 2 mm exteriores do insecticida de contacto desaparecem com o tempo, uma penetração inadequada fará com que a longevidade do tratamento seja encurtada; daí a importância de ser aplicado um volume suficiente de imunizador.
No entanto, a nebulização parece ser a antítese do normal tratamento por aspersão. Neste caso, introduz-se uma névoa de imunizador dentro de um espaço rodeado por madeira; esta névoa não é especialmente direccionada, e, basicamente, as gotículas tocam ou escorrem pela madeira.
A resultante aplicação de imunizador sobre a superfície da madeira é, certamente, muito ineficiente, nada que se compare com os 90 % de uma camada aplicada por aspersão próxima, a baixa pressão, que é direccionada directa e especificamente para a madeira.
Para se perceber este efeito, basta aplicar-se um aerossol num vidro, digamos, a 90 cm de distância – muito pouco “aterra”, a maior parte espalha-se; se tentarmos o mesmo exercício a 1,80 m, é muito improvável que se detecte mesmo qualquer vestígio.
Além disso, os depósitos sobre as faces viradas para baixo e sobre as faces verticais da madeira, conseguem ser ainda piores do que nas faces viradas para cima.
Nota-se, também, que o tamanho das gotículas de névoa é muito reduzido, que estas têm muito pouca energia e que são muito susceptíveis às correntes de ar, havendo muitas áreas em que é totalmente certo que estas irão transportar a névoa para longe da madeira.
Tudo o que se relacione com a distribuição deste imunizador vai ser muito errático e, muito provavelmente, em pequeníssima quantidade! Se não existir volume, não se consegue obter a penetração do fluido.
Fundamentalmente, uma nebulização é uma aspersão espacial, usada pela agricultura para o controlo de infestações de insectos rastejantes ou que comem a estrutura inteira (ou seja, as folhas); uma aspersão convencional tem que ser cuidadosamente projectada para colocar um elevado volume de fluido em contacto directo com a madeira.
O que é que sabemos sobre o desempenho?
Surpreendentemente, considerando a sua subida de popularidade, existem poucos dados sobre a nebulização. É verdade que são especificados teores de aplicação da ordem de 1 litro por cada 10 metros quadrados; isto é cerca de 3 vezes menos do que um tratamento por aspersão convencional! Algumas pessoas até anunciam que a nebulização faz poupar na quantidade de material usado!
A experiência na utilização de insecticidas pulverizados não direccionados (fumos) demonstrou que as taxas de aplicação deste género não podem ser determinadas em aplicações espaciais não direccionadas.
Geralmente, elas são expressas sob a forma de aplicação por volume – é quase trabalho de adivinhação saber-se qual a quantidade que atinge as diversas faces da madeira. E, claro, tais sistemas estão potencialmente abertos aos abusos.
Qualquer produto à base de permethrin/ cypermethrin nebulizado a 1 litro por 10 metros quadrados irá conduzir a grandes problemas no futuro – com estas taxas de aplicação, a penetração vai ser muito baixa e, assim, o material vai ficar sujeito a perdas significativas.
Lembram-se das recentes discussões sobre a utilização de 0,1 % de permethrin em vez de 0,2 %? Bem, aplicar-se permethrin nebulizado significa o mesmo que aplicar-se efectivamente entre 0,01 % e 0,05 %, sem se tomar em conta o muito importante factor da penetração. Não existe nenhuma evidência conhecida que sugira que níveis desta ordem, aplicados superficialmente, sejam eficientes na erradicação das infestações por caruncho das mobílias vulgar.
No entanto, as formulações de borato/ glicol parecem ser os materiais mais populares para serem nebulizados. Na prática corrente eles aparecem aplicados a baixos teores e, claro, não se consegue determinar a verdadeira taxa de aplicação sobre a madeira, em qualquer caso de aspersão espacial.
Os boratos podem ser classificados como “venenos para o estômago” – o insecto tem que comer a madeira impregnada para que eles sejam eficientes.
Assim, eles podem afectar potencialmente as larvas (se penetrarem até uma profundidade suficiente), a maioria das quais está abaixo da superfície da madeira – mas não vão afectar os adultos na sua capacidade de porem ovos.
Os fluidos tradicionalmente aplicados, que contêm insecticidas de contacto, só necessitam de um simples contacto com o insecto para o matarem; ao contrário dos boratos, quer os adultos, quer as larvas podem ser igualmente afectados; geralmente, os ovos não o são.
Felizmente, existem alguns dados sobre a eficácia de um tratamento por nebulização utilizando misturas de borato/ glicol.
O ensaio envolveu a nebulização de um pequeno tecto falso e foi conduzido usando-se blocos de madeira não afectados, os quais foram posteriormente desafiados com caruncho vulgar das mobílias para se determinar a postura de ovos e o desenvolvimento de larvas.
Os resultados mostraram claramente que, com a taxa de aplicação usada, o borato/ glicol não teve qualquer efeito na capacidade de postura de ovos pelos adultos, já que foram postos tantos ovos como sobre as superfícies não tratadas. No entanto, as larvas eclodidas desses ovos foram mortas – isto evitou claramente a infestação.
Este trabalho foi levado a cabo sobre madeira saudável, e não sobre madeira velha previamente infestada, com furos de emergência, fissuras, entalhes, etc.
Assim, enquanto que ficou claramente demonstrado que tais tratamentos podem proteger superfícies saudáveis contra a infestação, não se demonstrou que ele poderia evitar uma nova infestação em madeiras velhas, na qual os insectos podem pôr ovos rapidamente em velhos furos de saída, fendas, etc., os quais podem não ser afectados pela nebulização.
Além disso, a taxa de aplicação do imunizador de borato usada no ensaio foi de cerca de 1 litro por 1,25 metros cúbicos de espaço sobre o tecto; demorou cerca de 15 minutos a tratar os seis metros cúbicos usados para o ensaio.
Assumindo-se que toda a área superficial tenha sido tratada, obtém-se que a taxa de aplicação equivalente foi cerca de 1 litro para aproximadamente 4 metros quadrados, um número muito próximo da aplicação normal por aspersão – e foi muito superior à taxa aproximada de 1 litro por 10 metros quadrados recomendada para usos correntes! E, também, se o volume aplicado for igual à potencial penetração, 1 litro por 10 metros quadrados não é um volume!
As misturas de borato/ glicol não são seguramente baratas, e se foram aplicadas a uma taxa normal de 1 litro por alguns metros
quadrados, como foram para este ensaio, fazem com que este tipo de tratamento fique horrivelmente caro em material!
Também demorou 15 minutos a tratarem-se 6 metros cúbicos de espaço sobre o tecto. A este rendimento, levaria entre 2 a 3 horas a tratar-se um tecto corrente! Alguns relatórios demonstram que algumas aplicações práticas de nebulização levaram, literalmente, alguns minutos a serem executadas.
Tornaram-se, recentemente, populares os boratos “nebulizados” simplesmente dissolvidos em água, ou seja, soluções simples. Como com qualquer outro material aplicado em baixo volume, é muito improvável que estas soluções simples de boratos penetrem em qualquer profundidade; é mais provável que assentem na mais exterior superfície da madeira, onde o imunizador permanecerá sob a forma de um depósito cristalino.
Provavelmente, isto é menos eficiente até do que as misturas de borato/ glicol quando nebulizadas! Além disso, enquanto que os dados sobre a eficiência dos glicol/ boratos para a protecção da madeira saudável, contra o caruncho da madeira, acima referidos, estão relacionados com materiais de 20% octoborato/ glicol, alguns materiais agora à venda anunciam que 4 a 5 % de octoborato de sódio em solução aquosa conseguem erradicar o “bicho da madeira”.
Isto é cerca de 1⁄4 do nível reconhecido para oferecer uma simples protecção, quando aplicado à mesma taxa (1 litro por 4 metros quadrados)!
Motivo de maiores preocupações, é que esta concentração também é aconselhada para nebulização, pelo que as cargas de borato serão ainda substancialmente menores! Tais anúncios têm, provavelmente, muito pouco de qualquer fundamento. Assim, antes de se usar um material é essencial que estes anúncios de erradicação sejam validados e suportados por dados obtidos em ensaios.
E ainda há outra questão. Quando se executa um tratamento por nebulização com borato, não é invulgar que uma pessoa qualquer “experimente” a madeira para detectar a presença de boro e se pronuncie sobre esta ter sido “adequadamente tratada”. O que eles estão a fazer, na realidade, é a ensaiar a superfície da madeira com um reagente, curcumina, que indica a presença do borato sobre essa superfície – isso não reflecte que o tratamento tenha sido executado eficientemente!
A presença de um material não é sinónimo nem de níveis adequados, nem de eficácia! A curcumina é relativamente sensível ao boro e vai dar resultado “positivo”, mesmo se na presença de muito baixos níveis deste material e, em qualquer caso, pode-se esperar sempre que algum imunizador tenha mesmo atingido a madeira. É, ainda assim, puro trabalho de adivinhação saber que níveis atingiram efectivamente as superfícies.
O que é que se pode concluir?
Nesta fase, embora exista alguma evidência que demonstra que a nebulização com misturas de borato/ glicol consegue evitar a infestação da madeira saudável, quando aplicada em taxas similares às usadas num tratamento convencional por aspersão, parece não existir nenhuma evidência de suporte que demonstre que tais tratamentos, sejam de borato/ glicol, de simples soluções de boratos ou baseadas em permethrin, consigam erradicar efectivamente uma infestação por carunchos vulgares da mobília, especialmente com as taxas de aplicação actualmente registadas em aplicações in-situ.
Consequentemente, apenas podemos concluir que o nosso julgamento deve ficar onde está agora, especialmente onde forem usadas relativamente baixas concentrações de simples soluções de borato.
Só mais uma ideia final. Como é que se pode verificar o estado de um pavimento se não se levantarem algumas tábuas, etc. Se isto não for feito e se tiver sido feita uma nebulização contra os insectos e também estiver presente podridão, estamos, de certeza, em apuros. E no que respeita às nebulizações – são para esquecer.