Formas de resistência contra a colonização portuguesa
Durante todo o seu passado de escravatura e dominação colonial, o povo cabo-verdiano nunca aceitou passivamente a sua condição de povo colonizado. Pelo contrário, desde sempre recorreu a diferentes formas para manifestar a sua resistência e repúdio contra a dominação colonial portuguesa. Conforme as possibilidades e as circunstâncias da época, os cabo-verdianos utilizaram diversos meios para enfrentar e combater os males do colonialismo português. A resistência, portanto, marcou todo o percurso do homem cabo-verdiano, como adiante veremos.
Já desde o século XV, registaram actos de resistência à colonização, como por exemplo, as frequentes fugas dos escravos para se libertarem dos horrores da escravidão a que eram submetidos pelos colonos portugueses. Porém, somente a partir do século XIX, é que registou-se um crescente movimento de resistência e revolta da população cabo-verdiana, um pouco por todo o país, contra o colonialismo português ou as suas práticas. Somente em Santiago, várias revoltas populares ocorreram nesse período: Revolta de Engenhos de 1822; Revolta de escravos de 1935; Revolta de Achada Falcão de 1841. No século seguinte, tiveram lugar outras revoltas tais como: Revolta de Ribeirão Manuel de 1910 e Revolta de Achada Portal de 1920, ambas em Santiago.
Essa resistência manifestou-se também em outros campos, nomeadamente a nível da emigração, das manifestações culturais, dos movimentos literários, grupos associativos, e não só.
No campo literário, a resistência à colonização foi particularmente notária e significativa. Os intelectuais cabo-verdianos, principalmente, a partir da criação da revista Claridade, em 1936, no Mindelo, utilizaram seus textos literários e artigos de imprensa para denunciar os problemas e a situação precária do arquipélago de Cabo Verde, apelando à uma consciencialização da população para a luta contra o colonialismo português e os seus efeitos nefastos sobre as Ilhas.
A nível cultural, a resistência verificou-se, de forma persistente e significativa, na própria vivência do povo cabo-verdiano. Se por um lado, muitos cabo-verdianos foram «desenraizados» da sua cultura através da política colonial de assimilação, levada a cabo por Portugal, por outro, grande parte da população demostrou uma notável resistência à dominação cultural do colonizador, mantendo-se, por conseguinte, ligada às suas manifestações culturais, que foram corajosamente praticadas e preservadas ao longo do tempo, apesar das proibições e repressões impostas. Destacam-se, como exemplos, o batuque, a tabanca, práticas e rituais ligados à feitiçaria e feitiçaria, entre outras.
Entretanto, a resistência da população cabo-verdiana contra o jugo colonial português veio a ganhar a sua máxima expressão a partir da década de 50, com a geração de Amílcar Cabral que, graças à sua consciência nacionalista, desencadeou a luta de libertação nacional e conduziu Cabo Verde à sua independência.