A luta de libertação nacional em Cabo Verde

A luta de libertação nacional em Cabo Verde

A luta de libertação nacional Cabo-Verdiana

Em Cabo Verde, a luta de libertação nacional só teve início com a emergência de uma consciência nacionalista no seio dos intelectuais cabo-verdianos que, a partir da década de 1950, passam a contestar abertamente o colonialismo português e a reivindicar a independência de Cabo Verde.

Essa tomada de consciência para a luta de independência nacional ocorreu-se graças a vários factores, entre os quais destacam-se: a fome dos anos 1930 e 40; o êxodo para S. Tomé e Príncipe, a criação da ONU; os vários movimentos de afirmação do homem negro e os ecos de independência de uma série de países africanos e asiáticos e, sobretudo, o convívio em Portugal de estudantes cabo-verdianos com outros colegas africanos na Casa dos Estudantes do Império (CEI).

Durante o período em que permaneceram na CEI, os estudantes africanos dedicaram-se ao estudo, debate e reflexão sobre a grave situação de exploração e de dominação dos povos africanos. Daí tomaram consciência da necessidade de lutar contra o colonialismo português e libertar os seus países. Desse grupo fazia parte a elite intelectual cabo-verdiana: Amílcar Cabral, Aguinaldo Fonseca, Gabriel Mariano, José Leitão da graça, Onésimo Silveira, entre outros. É justamente com essa geração de Amílcar Cabral que surge no seio do povo cabo-verdiano o espírito nacionalista que conduziu a luta de libertação nacional.

Todavia, a ideia de luta pela independência só ganhou força e expressão a partir de 1956 com a criação do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (P.A.I.G.C.), em Bissau, por iniciativa de um grupo de nacionalistas cabo-verdianos e guineenses, nomeadamente: Amílcar Cabral, Aristides Pereira, Fernando Fortes, Júlio Almeida, Rafael Barbosa e Elisé Turpin. A criação do Partido visava essencialmente a conquista imediata da independência da Guiné e Cabo Verde, a democratização e a emancipação das populações guineenses e cabo-verdianas, secularmente exploradas pelo colonialismo português e a realização de um rápido progresso económico e social dos povos da Guiné e de Cabo Verde.

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Após tentativas fracassadas de negociações diplomáticas com Portugal, o PAIGC desencadeou a luta armada de libertação, travada durante duas décadas e que culminou com a independência de Guiné e Cabo Verde, entre 1974 e 1975.

Fundamentos e objectivos da luta de libertação

A luta de libertação nacional tinha como finalidade a libertação do povo cabo-verdiano do jugo colonizador e a conquista da sua autonomia. Segundo Cabral, o fundamento da libertação nacional reside no direito inalienável de cada povo ter a sua própria história; o fundamento no direito comum a todos os povos, de dispor livremente do seu destino e à sua autodeterminação, isto é, o direito de governar o seu próprio país, formar o seu Estado e exercer a sua Soberania Nacional.

Entretanto, como defendeu Cabral, o objectivo supremo da luta era a construção progressiva de uma sociedade desenvolvida, justa, pacífica e liberta da exploração do homem pelo homem”. Sobre isso Cabral escreveu: “Nós estamos a lutar para o progresso da nossa terra, temos que fazer todos os sacrifícios para conseguirmos o progresso da nossa terra. Temos que acabar com todos as injustiças, todas as misérias, todos os sofrimentos”. Ainda acrescenta o seguinte: “A nossa luta é para o nosso povo, porque o seu objectivo, o seu fim é satisfazer as aspirações, os sonhos, os desejos do nosso povo, ter uma vida digna, decente, ter paz para construir o progresso na sua terra”.

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A “reafricanização dos espíritos”

Após uma análise científica do colonialismo português, Cabral defendeu que a política de assimilação e alienação imposta por Portugal tinha levado a população cabo-verdiana, principalmente a “pequena burguesia”, culturalmente desenraizada, alienada ou mais ou menos assimilada, a renegar a sua herança cultural africana e a desenvolver um certo complexo em relação à sua origem negra. Além disso, a classe assimilada passou a manifestar uma atitude de distanciamento e desprezo em relação à cultura das massas populares. Perante tal realidade, tornava-se necessário libertar a população assimilada desse complexo e levá-la a tomar consciência da dimensão africana da sua cultura e assumir esta sua africanidade. Para isso acontecer, era primordial um “regresso às origens”, que Cabral designou de “reafricanização dos espíritos”, que consistia na negação da cultura assimilada da potência dominante e, por conseguinte, na busca e valorização dos traços culturais de origem africana que caracterizam o homem cabo-verdiano. Somente através dessa atitude, seria possível levar o povo a tomar consciência plena da sua origem e da sua identidade cultural e, a partir daí, a aderir à luta de libertação nacional. Na óptica de Cabral, sem essa “reafricanização dos espíritos” não poderia ocorrer uma libertação total do homem cabo-verdiano da dominação colonial.

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