Apontamentos Grécia e Roma Antigas

Grécia e Roma Antigas

Se virarmos a nossa atenção para a Grécia clássica, percebemos que o restauro era sentidosobretudo como uma funcionalidade espiritual e não exprimia nenhuma exigÍncia cultural ou documental.

A arte é da mesma natureza e o restauro serve para restabelecer no monumento uma relação simpatética com a natureza ou com a divindade.

Na Grécia não existe o restauro no sentido moderno: trata-se principalmente de uma reutilização, de uma recuperação dos objectos, não tanto pelas suas funções mas mais pela espiritualidade que representam.

Podemos dizer, de facto, que o restauro, neste período, tem um valor evolutivo e não crítico.

Os gregos, e ainda menos os romanos, não reconheciam a matéria como um elemento da autenticidade artística, tanto que é verdadeiro que em tais períodos uma cópia podia ser avaliada em medida igual à da obra original.

A conservação de um objecto era mais ditada por motivações económicas ou religiosas do que por preocupações de salvaguarda do original.

Na Roma antiga, a arte e a religião eram meios políticos de propaganda e de conquista; a arquitectura é especialmente importante pela sua utilização funcional, enquanto que a escultura assume sobretudo um valor celebrativo.

Restaurar significa reparar e refazer com formas mais grandiosas baseadas nas exigências do momento. O objectivo do restauro é perpetuar a memória e a glória do povo romano tornando-o imortal.

Os romanos e os gregos não tinham desenvolvido técnicas específicas para o restauro.

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Edificava-se sobrepondo-se novas construções às ruínas ou aos monumentos já existentes. Olhava-se principalmente à funcionalidade. A reutilização era feita em função das necessidades contingentes.

No sector da arquitectura, restaurar consistia na substituição dos elementos originais degradados por outros de fabricação nova. Em alguns casos procedia-se à substituição de materiais pobres por materiais mais nobres.

Fazer arte ou fazer restauro representava na Roma antiga, como de resto na Grécia clássica, uma actividade que não era tida em devida conta.

De resto, nota-se a radical hostilidade do pensamento filosófico grego na sua confrontação com o mundo manual, quase completamente dedicado aos escravos (consideradas por Aristóteles como máquinas animadas).

O mundo grego não era particularmente atraído pela técnica; existe neste período uma grande consideração pela vida liberal ocupada por ocupações estudiosas, enquanto que as actividades práticas tinham mesmo um valor negativo.

Na velha Roma, um monumento era mantido apenas se o poder o apreciava e queria que fosse mantido.

Uma alteração de poder significava mesmo a decadência dos monumentos erigidos pelo regime precedente, prática já amplamente experimentada pelos egípcios quando removeram os revestimentos calcários que recobriam as superfícies planas da pirâmide de Qeops para construírem outros edifícios, tradição esta que se perpetuou ainda até aos nossos dias, como foi demonstrado durante as recentes alterações de regimes na URSS e nos paÌses de leste.

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Durante os primeiros séculos da era cristã, verifica-se uma grande obra de destruição perpetuada sobre os monumentos clássicos, sendo estes considerados retalhos do mundo pagão.

Desta forma, as igrejas exibem mármores saqueados nos circos, sarcófagos historiados transformaram-se em pedra tumulares cristãs, os antigos monumentos transformaram-se em pedreiras.

Apenas alguns edifícios se salvaram por terem assumido um novo significado. Assim, os templos pagãos transformaram-se em igrejas: é o caso, por exemplo, do Panteão que foi consagrado à Virgem com o tÌtulo de Santa Maria ad Martyres.

Na Idade Média, decai a figura do artista-escravo e a arte torna-se na expressão de uma ideologia exclusivamente religiosa, centrada na exaltação da divindade cristã. Olha-se com desprezo e horror o mundo antigo, pagão e politeísta.

Os trabalhos de conservação eram muito esporádicos e destinavam-se exclusivamente a manterem vivas as lendas e as superstições, mais do que os valores históricos.