Apontamentos Ética de Responsabilidade Social das Organizações Educativas

Ética de Responsabilidade Social das Organizações Educativas

Percebe-se por cidadania, uma condição social que se manifesta na capacidade do indivíduo em participar plenamente da vida política, econômica e cultural de uma sociedade, isto é, trata-se de uma condição social que permite ao indivíduo desfrutar das oportunidades que a vida social propicia (RIVAS, 2007: 153).

A responsabilidade social deve ser um conceito compreendido a partir de sua prática, e esta caracterizada pela busca da promoção do desenvolvimento sustentável, da cidadania e do combate às desigualdades sociais, a escola, especialmente as universidades teriam uma importância estrutural na constituição e disseminação desse novo modelo de consciência cidadã. Mas, podíamos questionar, até que ponto nossas escolas e universidades primam pela formação de uma cultura que não privilegie somente o que o mercado deseja? Será que nosso modelo educacional esqueceu a formação universal? E se rendeu às necessidades e exigência de um mercado caracterizado pela volatilidade e transitoriedade de seus desejos?

Cremos que a escola, as organizações educativas, em especial aquelas do ensino superior assumem na contemporaneidade uma missão institucional ainda mais relevante, tendo em vista aspectos que assolam a sociedade na qual elas fazem parte, como a redefinição do papel do Estado e do próprio mercado. O que nos parece é que muitas instituições de ensino continuam ainda a cair na armadilha de reverter sua responsabilidade com a sociedade em forma de filantropia, da assistência pontual, do dar, do prover, sem preocupação maior com a sustentabilidade e o desenvolvimento de quem recebe um dado benefício, bem como em priorizar uma formação focada estritamente no mercado.

A nosso ver, a universidade seja ela de cunho privado ou público deve se modular por um compromisso estrito com a sociedade que lhe confia a formação de seus filhos. Nesse aspecto, a ética de responsabilidade social de cada instituição deve assumir um campo mais vasto do que, por exemplo, a acção do mercado. Sua missão institucional é a de formar pessoas, sob dimensões várias. Nesse sentido, sua excelência passa primeiro por essa formação, concretizada no ensino, na pesquisa, na relação com a comunidade, e segundo, na devolução à sociedade de profissionais formados com capacidade para compreender de forma mais sofisticada o mundo em que vivem e de oferecer-lhes novos meios que concorra para uma ética que privilegie o colectivo, a preservação da vida em todos os seus sentidos.

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Seguindo esta lógica do pensamento, o mercado como espaço de convivência dos cidadãos deve ser influenciado directamente pelos valores que cabem às Instituições de Educação Superior e fortalecido como prática de responsabilidade social que corroboram para uma ambiência em que as diferenças sejam vistas como mecanismos essenciais à promoção das pessoas e nunca como objecto de discriminação ou preconceito, espaço em que o colectivo possa ser o alvo das acções de cidadania. Compreenda-se aqui, cidadania no seu sentido mais lato, não como o conjunto de direitos e deveres que cada pessoa tem num Estado civil, mas, além disso, como constituição do colectivo, de práticas que ultrapassem o campo do eu, do indivíduo, que se prolongue ao ser coletivo, da sociabilidade de cada grupo. Da mesma forma, as empresas como sujeito do mercado estão a buscar assumir um novo papel, que deve privilegiar a melhoria da vida das pessoas que em torno dela sobrevivem, mas também formando cidadãos, mais estritamente seus funcionários, numa nova ética, que seja capaz de não simplesmente obter lucro, mas cumprido seu papel social que a sociedade contemporânea mais exigente lhe impinge. Especialmente no que concerne ao papel das Instituições de Ensino Superior, o tema responsabilidade social e cidadania vem merecendo elevado destaque nos últimos anos, entretanto, não deter-nos-emos aqui falando de cidadania. O que queremos mostrar é que pode ser responsabilidade concreta das instituições do ensino superior, ou universidades, a construção e a consolidação da cidadania. A cidadania aparece aqui como uma das componentes de responsabilidade social, que as instituições educativas do ensino superior podem construir. Porém, há mais tarefas no âmbito de ética de responsabilidade social que essas instituições podiam se engajar em construir, desenvolver, consolidar ou mesmo promover. Como diria Mazula (2005), “É papel da universidade desenvolver a ciência com consciência, (expressão de Edgar Morin), e responsabilidade ética. Dai a urgência de reformar o nosso pensamento, os nossos valores, os pontos de referências, as atitudes e as próprias crenças. Neste caso, a universidade e as unidades de investigação têm a obrigação de promover a cultura de paz” (MAZULA, 2006: 76).

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Isto me parece constituir a forte missão das instituições do ensino superior, produzir um saber que possa não somente contribuir, mas que se efetive numa prática cotidiana de responsabilidade com a sociedade, com o meio ambiente, com a vida. Constitui-se, portanto, um enorme desafio à educação, e de modo particular às instituições de ensino superior, conciliar uma formação técnica que privilegie componentes de racionalidade mercadológica, com a responsabilidade ética social de promover um modelo de educação que não oprima o homem, mas que o dignifique não apenas sob o olhar do indivíduo, mas da colectividade, em que os profissionais possam constituir-se enquanto cidadãos no seu sentido mais lato, responsáveis eticamente pela civilização que constroem. Para terminar, podemos ainda citar Mazula na sua tenaz forma de responsabilizar os agentes das instituições do ensino superior, consciente das suas tarefas, “nós docentes, investigadores e estudantes universitários somos chamados a mudar o mundo, ou seja, a situação de pobreza da sociedade. Para isso, é preciso disciplina pessoal e colectiva, convicção, responsabilidade, determinação e amor pátrio, sem fanatismos” (MAZULA, 2006: 77). Simplesmente, comentando, a responsabilidade social das empresas, das organizações educativas, sobretudo as do ensino, deve contribuir para mudar o mundo.