Embora as obras fossem assumidamente de manutenção e conservação do existente, houve diferentes tipos de situações que obrigaram a opções que extravasaram o ambiente meramente técnico. Vejamos quais.
Em primeiro lugar, a substituição de elementos construtivos deteriorados.
Estas substituições obrigavam a uma escolha de um duplo ponto de vista, técnico e estético. Técnico, porque os novos elementos deveriam responder ás exigências e especificações de qualidade actuais para a sua função; e estético, porque deveriam também, como elementos novos, jogar com os antigos elementos não substituídos.
Tal foi o caso da escolha das tijoleiras para os pavimentos, do material da caixilharia dos envidraçados, da substituição de portadas de madeira por reixas, entre outras situações.
Estas opções implicavam alguma informação histórica porque os novos elementos, pelo seu caracter, acentuariam um ou outro dos antigos ambientes construídos.
As opções neste caso, em ambiente de permanente troca de impressões entre a entidade promotora e os técnicos, foram no sentido de preservar e reforçar o ambiente setecentista, monástico e simples.
A caixilharia continuou a ser de madeira, tendo sido abandonados os vidros coloridos das obras novecentistas, as reixas deram maior visibilidade para o exterior e as novas tijoleiras foram escolhidas de modo a serem próximas dos ladrilhos tradicionais.
Em segundo lugar, a introdução de novas soluções construtivas.
Os pequenos jardins interiores, com pavimento em terra, não asseguravam uma drenagem conveniente das águas. Os novos usos impunham um tipo de acabamento diferente, mais impermeável, e por isso a drenagem tinha que ser resolvida.
Isso obrigou a conceber um sistema que se procurou simples, utilizando as pendentes dos pavimentos, que ficaram em calçada tradicional, e pequenas grelhas.
Todo o sistema ficou a drenar, por meio de uma caixa, para um troço do antigo esgoto setecentista, esgoto que deu algum trabalho a encontrar.
Este esgoto não estava à vista e as obras novecentistas, aparentemente, não tinham resolvido a situação de forma satisfatória.
A história cruzou-se aqui, de novo, com as obras.
Em terceiro lugar a conservação, ou não, de soluções construtivas oriundas de antigas intervenções, mas com caracter precário ou inacabado.
Este contexto foi o mais complexo de tratar. Quer nas obras novecentistas, quer nas obras mais recentes, existiam algumas intervenções com caracter marcadamente precário e inacabado.
Das mais antigas, existia na sacristia um lanço, cortado e inoperativo, de uma antiga escada de madeira de acesso interior ao edifício.
Existia também, num vão de passagem do claustro para o jardim anexo à capela, exposta ás intempéries, uma porta de madeira com almofadas pintadas e com vestígios de ter sido queimada. Porta, como muitos outros elementos, seguramente trazida de outro lado.
Após troca de impressões e avaliação da situação com a Direcção do Instituto, manteve-se na sacristia o lanço de escada, como memória, e a antiga porta foi encostada a uma parede, e musealizada.
Este vão foi fechado com uma porta de vidro, permitindo manter uma visão entre os dois pátios interiores e a iluminação do claustro.
Das intervenções mais recentes, inacabadas, havia sido iniciado o rebaixamento do pavimento da cave do edifício e abertos dois vãos para o claustro. Havia também uma enorme escada metálica que garantia o acesso à cave, a partir do terraço superior.
Todas estas intervenções foram mantidas e acabadas. Um dos vãos ficou a funcionar como vão de sacada para o claustro e o outro, com três degraus, como zona de passagem.
Em quarto lugar a conservação, ou não, de elementos marcadamente pertencentes a um dos anteriores ambientes construtivos
Estavam neste caso uma fonte e um pequeno lago de tradição romântica, construídos em betão, a imitar folhagens e outros elementos vegetais, seguramente oriundos das obras novecentistas. Estavam bastante deteriorados.
A manutenção destes elementos implicava a reconstrução de todo o sistema de canalizações, que eram de chumbo, e o refazer em grande parte de bocados de betão desaparecidos.
Por outro lado estes elementos chocavam fortemente com o ambiente monástico, setecentista, que se pretendia reforçar.
Foi portanto decidido, com a mesma metodologia de consulta à Direcção do Instituto, pela sua não manutenção.
Mas aqui, uma vez mais, foi a relação com a história que determinou as opções, e não o ambiente técnico.