Introdução
A antropologia é uma ciência na qual não se esgotam campos de
actuação e aplicação do conhecimento. Nesta unidade temática
pretende-se que o estudante ao completar esta unidade, seja
capaz de:
Objectivos específicos
- Definir a antropologia.
- Conhecer as abordagens da antropologia.
- Caracterizar a antropologia cultural.
Desenvolvimento
A noção de cultura é das mais enganosas para o estudante de antropologia, devido ao facto de ter na antropologia, e nas ciências sociais em geral, um uso diferente da linguagem quotidiana.
Este associa cultura a determinados aspectos da vida social, como saber ler, saber música, ser pessoa de grande saber, ser culto, etc. Na linguagem corrente ter cultura significa ser instruído em termos literários, científicos, musicais e artísticos (GUSMÃO, 2008).
Refere-se ao modo de vida global em qualquer sociedade, e não simplesmente aos aspectos que cada sociedade considera superiores ou mais desejáveis.
Assim, cultura, quando aplicada ao nosso próprio modo de vida, não tem nada a ver com tocar piano ou ler Browning.
Para o cientista social, tais actividades são apenas elementos
pertencentes ao todo cultural (JORDÃO, 2004).
O qual inclui coisas tão mundanas como lavar pratos e guiar, as quais, em termos de estudo da cultura, valem o mesmo que as actividades “refinadas” da vida social. Daí que para os cientistas sociais não existam sociedades ou indivíduos incultos.
Para Maía (2000) cada sociedade tem uma cultura, por mais simples que ela possa ser, e todo o ser humano é nesse sentido um ser culto.
Para Spiro (1998) o paradigma da cultura é composto por um conjunto diversificado de escolas teóricas, orientações filosóficas ou pressupostos ideológicos.
A razão desta multiplicidade encontrasse no fato de que conhecer o universo da cultura tornou-se uma forma de contribuir para o entendimento da natureza humana, sem contar que através da compreensão do universo cultural é possível propor ou encontrar alternativas e soluções para os problemas sociais, planejar formas de promover o convívio harmonioso entre os grupos humanos e o desenvolvimento.
Na Antropologia segundo Gusmão (2008) e Jordão (2004) privilegiam-se os aspectos culturais do comportamento de grupos e comunidades.
Questões cruciais para o entendimento da vida em grupo, como alteridade, diversidade cultural, etnocentrismo, relativismo cultural são tratadas por essa ciência, que, em seus primórdios estudava povos e grupos geográfica e culturalmente distantes dos povos ocidentais.
Ao longo de seu desenvolvimento, os antropólogos passaram a analisar grupos sociais relativamente próximos, buscando transformar o exótico, o distante, em familiar.
Assim, Geertz (1973) afirma em sua história que, a Antropologia revelou estudos notáveissobre sociedades indígenas e sociedades camponesas, identificando suas diferentes visões de mundo, sistemas de parentesco, formas de classificação, cosmologias, linguagens etc.
Também desenvolveu uma série de estudos sobre grupos sociais urbanos, enfatizando a diferenciação entre seus indivíduos, com base em critérios de raça, cor, etnia, género, orientação sexual, nacionalidade, regionalidade, afiliação religiosa, ideologia política, sistemas de crenças e valores, estilos de vida etc.
1. “Culturas são sistemas (de padrões de comportamento socialmente transmitidos) que servem para adaptar as comunidades humanas aos seus embasamentos biológicos. Esse modo de vida das comunidades inclui tecnologias e modos de organização económica, padrões de estabelecimento, de agrupamento social e organização política, crenças e práticas religiosas, e assim por diante.”
2. “Mudança cultural é primariamente um processo de adaptação
equivalente à selecção natural.” “O homem é um animal e, como todos animais, deve manter uma relação adaptativa com o meio circundante para sobreviver. Embora ele consiga esta adaptação através da cultura, o processo é dirigido pelas mesmas regras de
selecção natural que governam a adaptação biológica.”
Para Jordão (2004) citando Geertz (1973) afirma que as teorias idealistas de cultura, que subdivide em três diferentes abordagens. A primeira delas é a dos que consideram cultura como sistema cognitivo, produto dos chamados “novos etnógrafos”.
Esta abordagem antropológica tem se distinguido pelo estudo dos sistemas de classificação de folk (Chamamos de sistemas de classificação de folk àqueles que são desenvolvidos pelos próprios membros da comunidade. Um exemplo disso entre nós é a classificação popular de alimentos fortes e fracos.), isto é, a análise dos modelos construídos pelos membros da comunidade a respeito de seu próprio universo.
Assim, cultura é um sistema de conhecimento: “consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade.” Keesing comenta que se cultura for assim concebida ela fica situada epistemologicamente no mesmo domínio da linguagem, como um evento observável.
Daí o fato de que a antropologia cognitiva (a praticada pelos “novos etnógrafos”) tem se apropriado dos métodos linguísticos, como por exemplo, a análise componencial.
A segunda abordagem é aquela que considera cultura como sistemas estruturais, ou seja, a perspectiva desenvolvida por Claude Lévi-Strauss, “que define cultura como um sistema simbólico que é uma criação acumulativa da mente humana. O seu trabalho tem sido o de descobrir na estruturação dos domínios culturais — mito, arte, parentesco e linguagem — os princípios da mente que geram essas elaborações culturais.”
Assim, os paralelismos culturais são por ele explicados pelo fato de que o pensamento humano está submetido a regras inconscientes, ou seja, um conjunto de princípios — tais como a lógica de contrastes binários, de relações e transformações — que controlam as manifestações empíricas de um dado grupo.
Jordão (2004) a última das três abordagens, entre as teorias idealistas, é a que considera cultura como sistemas simbólicos.
Esta posição foi desenvolvida nos Estados Unidos principalmente por dois antropólogos: o já conhecido Clifford Geertz e David Schneider.
O primeiro deles busca uma definição de homem baseada na definição de cultura. Para isto, refuta a ideia de uma forma ideal de homem, decorrente do iluminismo e da antropologia clássica, perto (a qual as demais eram distorções ou aproximações, e tenta resolver o paradoxo de uma imensa variedade cultural que contrasta com a unidade da espécie humana.
Jordão (2004) adianta que para isto, a cultura deve ser
considerada “não um complexo de comportamentos concretos, mas um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções (que os técnicos de computadores chamam programa) para governar o comportamento”.
Assim, todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o que chamamos de cultura.