Apontamentos Decisões e Envolventes Financeiros

Decisões e Envolventes Financeiros

Decisões e Envolventes Financeiros

As decisões financeiras são classificadas de curto prazo, médio prazo e longo prazo.

  • Decisões financeiras de curto prazo centram-se na gestão do fundo de maneira e na gestão da tesouraria, a saber:
    • As gestões do activo circulante – as decisões a tomar centram-se na disponibilidade, no controlo de crédito concedido aos clientes, e controlo financeiro dos estoques e na aplicação dos excedentes temporários de tesouraria em depósito a prazo e em títulos negociados;
    • Gestão de débito a curto prazo- as decisões a tomar tem por domínio de actuação os créditos obtidos dos fornecedores e dos credores e cobertura dos défices temporários de tesouraria.
    • Decisões financeiras de médio e longo prazo, inserida na estratégia financeira da empresa, estão relacionadas com a política de investimento, de financiamento e a distribuição dos resultados.

Como dissemos, iremo-nos concentrar na análise de quatro decisões principais, quais sejam, investimento, financiamento, dividendos e capital de giro.

  • Decisão de capital de giro

Várias têm sido as definições de capital de giro, porém para o nosso objetivo entendemos capital de giro por ativo circulante, menos passivo circulante, sendo que nesse caso o conceito de circulante está ligado ao ciclo operacional da empresa e não à conceituação usual ou legal de 360 dias. Assim, capital de giro seria o montante de recursos necessários para a manuten- ção do ciclo operacional da empresa.

Pode-se generalizar dizendo que normalmente os ativos circulantes apresentam menores retornos que os demais ativos, com exceção das empresas comerciais, onde o negócio em si consiste na administração do ativo circulante. Sendo os retornos menores, deveríamos minimizar o seu investimento. O passivo circulante normalmente apresenta custos menores que as demais fontes e, assim sendo, o lógico seria maximizá-lo.

Se, por um lado, minimizamos ativos circulantes e maximizamos passivos circulantes, o capital de giro, que é a subtração dos dois, deveria ser nulo ou até mesmo negativo. A empresa não é levada em uma situação normal a operar nesse caso extremo, pois deve avaliar o risco da iliquidez. O risco da liquidez obriga a empresa a operar com uma margem de segurança e, portanto, com um capital de giro positivo.

Em um contexto inflacionário a análise precedente merece alguns reparos, em função de como a mesma afeta tanto ativos como passivos circulantes. Os ativos e passivos circulantes poderiam ser em um contexto inflacionário classificados como ativos e passivos monetários e reais.

Por ativos e passivos circulantes monetários entende-se aqueles itens que estão expressos em valores monetários constantes, como por exemplo caixa, duplicatas a receber, contas, fornecedores e empréstimos apagar desde que não indexados. Por ativos e passivos circulantes reais entende-se aqueles itens que em termos reais mantêm seu poder de compra, tais como estoques e empréstimos a pagar indexados.

Uma regra geral, razoavelmente lógica, é que em uma situação inflacionária toda empresa que opera com passivos circulantes monetários (PCM) maiores que ativos circulantes monetários (ACM) terá ganhos com a inflação, e perdas se o oposto for verdadeiro.

Isto poderia induzir a empresa a aumentar seu passivo circulante monetário, aumentando portanto seu nível de endividamento e em contrapartida investir ao máximo nos ativos circulantes reais, como estoques por exemplo. Essa forma simplista de ver o problema poderá ser apenas parcialmente correta. Alguns problemas que podem surgir desta política poderiam ser enumerados:

I. Maiores proporções de fundos a curto prazo podem aumentar substancialmente o risco da empresa, uma vez que a renovação de compromissos será feita com maiores dificuldades devido a restrições de crédito, bem como a taxa de juros será mais elevada, uma vez que a estrutura de taxa de juros se altera.

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II. Alguns dos ativos e passivos monetários já podem ter incorporado expectativas de inflação e assim sendo a vantagem apontada desaparece, permanecendo apenas as desvantagens.

III. Em uma situação inflacionária as necessidades de capital de giro crescem de forma exponencial, ou seja, uma inflação de 10070, sem apresentar nenhum crescimento real de vendas, poderá exigir que a empresa obtenha externamente 17% do seu volume de vendas de recursos para financiar seu giro. Com taxas maiores de inflação esse número cresce exponencialmente.

Do exposto pode-se concluir que “jogar” com a inflação na administração do capital de giro pode ser uma falácia, além de expor a empresa a riscos crescentes de liquidez que poderão levá-la até mesmo à insolvência.

Visto o problema do nível de capital de giro na sua forma mais abrangente, vamos agora nos concentrar em alguns dos seus componentes em particular, ou seja, caixa e quase caixa, duplicatas a receber e estoques.

Caixa

Caixa e quase caixa têm a função básica de prover a liquidez imediata da empresa. A definição do nível de caixa, entretanto, deve ser vista no contexto geral do nível de capital de giro, como visto anteriormente.

Como os retornos de recursos mantidos em caixa são nulos, o investimento nesse item deveria ser zero, sendo que o risco da liquidez obriga a empresa a manter um dado saldo para cobrir os motivos de precaução e transação. Por outro lado, modelos podem ser desenvolvidos para explicar, quando em situação de excesso de caixa, quanto deixar em caixa e quanto investir em aplicações a curto prazo que nesse caso chamamos de quase caixa.

Em uma situação inflacionária, a regra geral de se investir o mínimo possível em caixa torna-se mais verdadeira, sendo que nesse caso cria-se uma verdadeira aversão ao dinheiro, por ser esse um ativo circulante monetário.

Como conseqüência direta do crescimento exponencial das necessidades de capital de giro, dada à inflação, a pressão desses eventos acaba recaindo sobre o caixa. Este fato, aliado às dificuldades crescentes de obtenção de recursos, induz a uma administração de caixa mais prudente ou de maior liquidez.

Note-se, pois, que em uma situação inflacionária temos duas forças operando em sentido contrário, no que se refere à administração de caixa. A única solução para esse dilema é a montagem de previsões de caixa mais freqüentes e mais aperfeiçoadas com a incorporação de técnicas estatísticas de probabilidade e simulação. Não apenas a freqüência, o aperfeiçoamento das previsões, mas muito mais do que isso uma administração eficiente de caixa se impõe, administração essa que exige medidas para acelerar cobrança, e postergação de pagamentos, sem afetar obviamente a margem da empresa.

Contas a receber

O processo decisório de definição do nível ótimo de investimento em contas a receber é uma aplicação do conceito clássico de marginalidade.

Devemos investir em contas a receber sempre que os lucros marginais dos volumes incrementais forem superiores aos custos marginais envolvidos. Nesse caso deveremos cuidar essencialmente de três custos, quais sejam os custos marginais da administração de cobrança, os custos marginais com devedores duvidosos e finalmente com os custos marginais do investimento adicional em contas a receber. Este último é sem dúvida o componente mais crítico do processo decisório.

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Em um contexto inflacionário é possível incluir na taxa requerida de retorno dos investimentos marginais em contas a receber a inflação esperada. Assim, quando a inflação é esperada e o mercado o permitir, torna-se possível a inclusão no preço do custo da inflação devido ao financiamento concedido. Quando, entretanto, a inflação não é esperada, ou a sua magnitude é diferente da que foi projetada, investimentos em contas a receber, por ser um ativo circulante monetário, se traduzem em perdas reais. Como esse parece ser o caso mais comum, é preciso realizá-lo o mais depressa possível.

A prática tem indicado alguns procedimentos usuais para isso, como por exemplo:

a) redução dos prazos concedidos;

b) cobranças mais intensivas;

c) estabelecimento de crédito mais rigoroso;

d) uso intensivo de descontos financeiros para antecipação de pagamentos;

e) inclusão de cláusulas de reajuste de preço (correção monetária mais juros) nos contratos de vendas para eventuais atrasos nos pagamentos;

f) criação de financeiras cativas, quando possível, de tal forma a dissociar a função produção-venda de financiamento.

Estoques

Os níveis dos investimentos em estoques são influenciados por produção, ou demanda prevista, sazonalidade de vendas, confiança nas fontes de suprimento, eficiência nas compras, natureza do produto, etc. É, portanto, compreensível que existam várias-abordagens possíveis acerca de como otimizar essa decisão. Normalmente, todos esses modelos estão baseados na idéia de minimização de investimento e/ou custos, fazendo sempre que possível avaliações para incertezas de alguns elementos críticos do processo de compra e estocagem, previsões essas que dão origem ao chamado estoque de segurança. Um dos modelos mais comuns, apesar de possuir um número enorme de limitações, é o conhecido “lote econômico de compra”.

Sendo estoques um ativo circulante real, os investimentos aí efetuados têm a virtude de não perderem substância econômica com a inflação.

Existe assim um conceito generalizado de que investir em estoques é uma das boas políticas para se proteger da inflação. Esse conceito generalizado tem sua razão de ser. Entretanto, nessa conceituação deve-se observar alguns aspectos que consideramos importantes:

1. Mesmo em uma situação inflacionária existe a possibilidade de se aplicar modelos matemáticos que incorporem a inflação esperada como um parâmetro adicional. Com isso queremos frisar que existe um nível ótimo a partir do qual investimentos adicionais não são recomendáveis.

2. A pressão que a inflação causa sobre o nível geral do capital de giro pode causar sérios problemas de liquidez à empresa. Essa pressão por liquidez pode ser substancialmente agravada, caso a empresa resolva investir em estoques com uma proteção contra a inflação de forma desordenada.

3. É preciso contrabalançar a suposta proteção contra a inflação com os custos que a empresa será obrigada a pagar por ela.

4. A chamada proteção poderá diluir-se, caso a empresa, por fatores exógenos, como por exemplo controle  governamental, não consiga trabalhar com o conceito de custo de reposição.

Assim sendo, estoques, por serem um ativo circulante real, representam uma proteção contra a inflação. Esse investimento pode até mesmo ser o otimizado, ou seja, pode-se determinar seu nível ideal.

Investimentos desordenados ou especulação em estoques pode representar não só, mas principalmente um “jogo” muito perigoso e de custo muito elevado para a empresa.