As barreiras hidrofugantes químicas são constituídas para se controlar a passagem vertical da humidade, proveniente do terreno, e são instaladas em quase todas as edificações onde não existe uma camada hidrofugante ou onde esta se rompeu com o passar do tempo.
Instalação
As barreiras químicas hidrofugantes devem ser instaladas numa posição de acordo com a boa prática descrita no BS 6576:1985, “Code of Practice for the Instalation of Chemical Damp.proof Courses”.
Elas são instaladas nas paredes através de diferentes métodos, conforme cada sistema empregue em particular, mas os seus objectivos finais são proporcionarem um material hidrorepelente ou o bloqueio dos seus poros, numa faixa contínua horizontal da alvenaria, formando assim uma “barreira” contra a ascensão da água proveniente do terreno.
A única passagem contínua, através da qual a água pode subir dentro de uma parede, são os leitos de argamassa; para a água passar, digamos, de tijolo em tijolo, ela tem sempre que atravessar um leito de argamassa.
É, portanto, essencial que o material hidrofugante impregne as camadas de argamassa, já que estas formam a principal passagem para a ascensão da água dentro das paredes. Hidrofugarem-se apenas as unidades de alvenaria (por exemplo, os tijolos) tem muito pouco valor! Uma argamassa porosa e um tijolo impermeável ou hidrorepelente irão continuar a permitir a ocorrência da humidade ascendente.
No entanto, se os poros das linhas de argamassa forem tornadas hidrorepelentes ou forem bloqueados, então a água não pode subir, já que, para esse fim, não consegue atravessar os leitos de argamassa.
Na maior parte das edificações antigas a argamassa não é alcalina, portanto podem ser usadas formulações hidrorepelentes à base de resinas de silicones, de estearato de alumínio, ou de metil siliconato (metil siliconato de sódio ou de potássio).
No entanto, ocasionalmente, a argamassa pode ser alcalina, tal como nas paredes recentemente construídas (por exemplo, onde tiver sido omitida a camada impermeável). Isto irá impedir a utilização dos metil siliconatos já que as condições alcalinas verificadas, por exemplo, nas argamassas modernas impedem a formação da resina hidrorepelente.
Deve-se ter o cuidado de se garantir que a barreira hidrofugante não seja ultrapassada (N.T. – efeito de “ponte) por um nível mais elevado do terreno exterior, por caixas de ar bloqueadas ou por entulhos acumulados contra a parede; o nível do terreno deve ser rebaixado, as caixas de ar limpas ou a área abaixo da situação da barreira hidrofugante pode ser internamente impermeabilizada (N.T. – efeito de “tanque”) se estritamente necessário.
Nota: Podem aparecer “pontes” menores numa barreira hidrofugante eficiente, por exemplo, em consequência de um estuque moderadamente poroso mas, mesmo assim, é extremamente improvável que a humidade consiga continuar a subir até à sua altura original.
Se a barreira hidrofugante for eficiente, a passagem da humidade no interior da própria parede deve ficar limitada. Qualquer estuque poroso existente situa-se na superfície, na qual a evaporação vai restringir o fluxo da humidade pela sua acção.
Assim, é improvável que a humidade passe através desta relativamente estreita passagem numa quantidade suficiente para atingir a altura da sua ascensão antes da colocação da barreira hidrofugante, assumindo-se, claro, que a injecção desta foi moderadamente eficiente.
Este tipo de problemas, assim como os defeitos na construção da linha de junção pavimento/ parede, manifestam-se habitualmente na base das paredes.
Eficácia
De forma diferente de uma camada impermeável física, estas barreiras hidrofugantes injectadas não formam “um plano impermeável discreto”, mas sim “uma faixa difusa”.
Quando são injectados fluidos num substrato heterogéneo, como é o caso do tijolo/ argamassa, eles não preenchem totalmente a sua estrutura porosa, nem empurram completamente a água à frente do avanço da injecção do fluido, como frequentemente é afirmado.
Pelo contrário, o fluido tende a formar “dedos” no interior do substrato, num processo conhecido como “dedos viscosos”. Os “dedos” do material injectado formam-se quando o fluido toma as linhas de menor resistência, tais como os poros de maior dimensão e as fissuras. Infelizmente, tais passagens não são os elementos mais importantes na condução da água pela parede acima.
Além disso, quanto mais húmido estiver o substrato, mais provável será a formação destes “dedos”, especialmente nos sistemas baseados em solventes, já que estes não são miscíveis com a humidade residente. A formação dos “dedos” também é aumentada por uma injecção sob pressão elevada.
Consegue-se a redução deste fenómeno com injecções a baixa pressão ou, melhor ainda, pela difusão do fluido hidrofugante por gravidade.
O resultado da formação de “dedos” nos fluidos hidrofugantes é o aparecimento de “lagoas” não impregnadas dentro da parede, através das quais a água pode continuar a subir. No caso de barreira injectadas sob pressão, isto sugere que é improvável que a faixa difusa do agente hidrofugante tenha ficado totalmente completa.
A barreira química hidrofugante resultante pode, portanto, não deter a ascensão da humidade, por efeito de um corte imediato da subida da água acima dessa camada hidrofugada, tal como acontece no caso de uma camada impermeável física.
Pelo contrário, deve acontecer um declínio rápido no gradiente de humidade acima da barreira química introduzida, consequente do “controlo” exercido.
Assim, na prática, a água ascendente a partir do terreno deve ficar reduzida a uma quantidade tal que, conjuntamente com a execução de um reboco especializado, já não irá provocar danos ou degradação na decoração.
A eficácia dos sistemas hidrofugantes hidrorepelentes pode ficar afectada onde existirem detergentes (surfactantes) impregnados na parede consequentes, por exemplo, de antigas fugas em esgotos de lava-loiças.
Pode acontecer um problema semelhante quando as paredes foram esterilizadas, contra a infecção por podridão seca, com formulações biocidas contendo surfactantes.
A eficácia global de um tratamento por barreira hidrofugante pode ser investigada pelo exame da relação entre a distribuição da humidade livre (água consequente da humidade ascendente ou de outra fonte activa de entrada de água) e a distribuição dos sais contaminantes (cloretos e nitratos).
Quando a humidade ascendente ainda estiver activa, vai-se encontrar humidade capilar até à mesma altura que os sais. A ausência da humidade capilar com presença de sais, consequentes dessa humidade ascendente, indica que aconteceu uma secagem anterior e que a barreira é eficiente.
Encontram-se também estados intermédios que indicam diferentes graus de controlo sobre a humidade ascendente.
Se não forem encontrados cloretos e nitratos num perfil de amostragem, é possível que a entrada de humidade seja consequente de uma humidade ascendente recentemente desenvolvida ou, mais provavelmente, da penetração de água da chuva, da condensação, de defeitos na canalização ou de outras origens.
Quando se avalia a eficácia de tratamentos com barreiras hidrofugantes, deve-se tomar a precaução de não se interpretarem erradamente as leituras dos humidímetros eléctricos; a obtenção de leituras elevadas pode não indicar que a barreira hidrofugante falhou. Pode reflectir apenas uma gama de possibilidades, incluindo-se nelas um estuque contaminado ou inadequado.
Assim, só podemos ter uma avaliação rigorosa da eficiência de uma barreira hidrofugante pela obtenção de perfis completos de humidade, conjugados com análises sobre a contaminação por sais. É, também, muito importante tomar se em consideração o desempenho que se deve esperar e as limitações do sistema instalado, conforme acima descritas.
Nota: Está identificado no BS 6576:1985 que, onde forem encontrados pavimentos suspensos, a barreira deve ser injectada, onde possível, abaixo do nível dos barrotes; isto irá proteger a madeira embebida contra a humidade e contra o risco da sua degradação por fungos.
No entanto, dada a eficácia provável dos sistemas de injecção, os topos embebidos dos barrotes ainda irão permanecer em contacto com a alvenaria húmida, mesmo que se encontrem acima da barreira injectada, e podem, portanto, permanecer em risco de degradação por fungos.
Deve ser considerado como prudente que, em todos os casos em que uma barreira hidrofugante seja instalada perto de um pavimento suspenso em madeira, se tomem precauções para a protecção de todas as madeiras embebidas um pouco acima e, certamente, abaixo da barreira hidrofugante injectada, para se evitar a sua potencial degradação.