Como nação, temo-nos esquecido de muito, acerca da cal hidráulica, na nossa indústria da construção.
O renascimento do interesse pelas argamassas de cal aérea, que recebeu o seu principal estímulo pela conservação de edifícios e especialmente pelos projectos “West Front” em Gales e Exeter, nos anos 1970, não se generalizou às cales hidráulicas.
Privamo-nos largamente, durante 50 anos, de uma gama de cales de “presa” tradicional que foram, em tempos, a espinha dorsal da construção em alvenaria.
Todos os tratados sobre argamassas, desde o trabalho de John Smeaton em meados do século XVIII e até 1950, reconheciam a importância das cales hidráulicas no contexto das argamassas e dos estuques.
Para certos tipos de trabalhos, estas cales eram o material mais apropriado.
O estudo de textos anteriores à guerra, sobre cal e cimentos, é especialmente recomendado como antídoto para algumas das modernas atitudes de “tudo ou nada” acerca da cal e do cimento, especialmente quando suportado pela observação local, como forma de compreensão sobre a natureza e a utilização das cales hidráulicas.
A cal é o meio de ligação tradicional e ancestral para as alvenarias. Até ao advento dos cimentos artificiais, e especialmente do cimento Portland, a cal era usada quase exclusivamente e nunca desapareceu completamente.
Esta cal é denominada de acordo com a sua capacidade para fazer presa debaixo de água, e um sistema de classificação formal foi introduzida por Louis Vicat (um eminente engenheiro civil francês que pesquisou as cales hidráulicas e os cimentos durante a construção de pontes e estradas).
Em resultado do seu trabalho, que foi publicado entre 1830 e 1840, as cales que fazem presa debaixo de água são conhecidas como cales “hidráulicas”(anteriormente eram conhecidas como cales “aquáticas”).
A sua característica hidráulica é produzida por “impurezas” de sílica e de argila no calcário a partir do qual são fabricadas.
Quando são levados ao forno calcários que contenham sílica e argila, a argila decompõe-se entre os 400o C e os 600o C e combina-se com parte da cal entre os 950o C e os 1250o C (no topo superior das temperaturas de forno para a cal hidráulica: a sinterização toma lugar entre os 1300o C e os 1400o C), formando silicatos e aluminatos, especialmente silicato tricálcico e aluminato bicálcico.
A cal produzida consiste numa mistura de cal viva (ou “cal livre”), material cimentício e material inerte tal como sílica ou argila não combinada.
Tais cales necessitam de serem extintas com bastante água para converterem a cal viva em hidróxido de cálcio, mas não tanto que se dê início a uma presa química.
Os procedimentos de calcinação e de extinção são bastante mais complexos do que os associados à produção da cal a partir do cré ou de outros calcários “puros”, mas os materiais produzidos são muito mais versáteis.
Sob a classificação geral de “hidráulica” existem subdivisões sugeridas por Vicat e mais tarde adoptas por todos. Estas subdivisões são importantes, já que estão relacionadas com o desempenho de cada tipo.
As propriedades das cales hidráulicas dependem da sua composição e da especificação para a calcinação e para a extinção, e é essencial que, quando for usada uma cal hidráulica, se conheçam os factos.
Portanto, um fornecedor deve fazer conhecidas as análises químicas e os dados sobre a produção ou então dar garantias ao comprador contra as falhas, se esses dados não lhe forem pedidos.
As categorias de “fracamente”, “moderadamente” e “eminentemente” hidráulicas, que tiveram origem no século XIX, foram por vezes nomeadas de outra forma nos anos de 1930 para se porem de acordo com a sua reduzida disponibilidade e utilização. Assim, “fracamente hidráulica” tornou-se em “semi hidráulica” e “hidráulica” referia-se quase exclusivamente a uma cal Blue Lias, eminentemente hidráulica.