Apontamentos Construção pombalina

Construção pombalina

A Baixa pombalina e suas zonas limítrofes, onde se localiza o núcleo mais importante da construção desta época, exemplo da filosofia urbanística e construtiva que dominou a construção da cidade do século XVIII, teve um comportamento muito irregular, que pareceu estranho numa primeira análise, obrigando a uma atenta análise dos arquivos municipais, de modo a tentar caracterizar correctamente este edificado, nomeadamente o que sofreu danos mais relevantes.

Verificou-se, por exemplo, que o conjunto do Terreiro do Paço/Praça do Comércio se comportou de forma quase irrepreensível, com excepção do Torreão Poente, que já tinha, aliás, denunciado problemas estruturais a que ainda não se tinha acudido de modo conveniente; pelo contrário, ocorreram colapsos extensos em alguns quarteirões, com uma distribuição aparentemente aleatória.

Após análise de toda a informação disponível, verificou-se que os maiores danos ocorreram, sistematicamente em edifícios e conjuntos em que tinham ocorrido (por vezes em data indeterminada) ampliações em altura com dois ou mais andares e, infelizmente com muita frequência, nos edifícios fragilizados por obras de alteração profunda afectando as estruturas de alvenaria do rés-do-chão.

Pelo contrário, edifícios pouco alterados, embora mal conservados, tiveram desempenho muito satisfatório, confirmando a excelência da solução pombalina original.

Alguns conjuntos, muito alterados, em que as estruturas originais foram totalmente suprimidas e substituídas por novas estruturas de betão tiveram, em geral, comportamento igualmente satisfatório, com relevo para os que sofreram obras a partir da década de 80 do século XX.

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Do que se observou e analisou pode concluir-se, por um lado, que este sismo constituiu o melhor teste para a qualificação da chamada construção pombalina e, por outro lado, ficaram confirmados os piores receios quanto à leviandade com que, durante mais de um século, se procedeu a sucessivas adulterações das estruturas originais, quase nunca se tendo procedido às operações de reforço que tais alterações deveriam ter comportado.