É importante para o edifício que ele seja bem observado, em primeiro lugar, e que as evidências e as localizações das suspeitas de danos consequentes da humidade sejam sistematicamente registadas, antes de se empreender qualquer trabalho de maiores dimensões destinado à correcção do problema.
Isto vai proporcionar uma linha de orientação a partir da qual podem ser verificadas todas as alterações de condição correlativas.
Quando os materiais ficam molhados, existem alterações específicas que podem ser detectadas e registadas num livro de registos ou em folhas de vigilância.
Sempre que haja uma chuva pesada, uma tempestade de neve, água na cave, ou rotura de um sistema mecânico, o proprietário ou o consultor deve anotar e registar a forma como a humidade se movimenta, a sua aparência, e quais variáveis podem ter contribuído para a sua causa.
Ficar de fora a observar o edifício à chuva pode responder a muitas perguntas e ajudar a traçar o movimento da água em direcção ao edifício.
Também devem ser anotadas as evidências da degradação de materiais que cubram danos consequentes da humidade mais sérios, mesmo se não for imediatamente claro o que está a provocar esses danos. (Por exemplo, as manchas de água nos tectos podem provir de canos rotos, de esgotos de ventilo convectores entupidos acima dos tectos, ou de humidade que penetrou pelo contorno de um peitoril de janela pouco inclinado no andar de cima.)
Não se deve saltar logo para as conclusões, mas usar uma abordagem sistemática que ajude a estabelecer uma teoria educada – ou uma hipótese – sobre o que está a provocar o problema consequente de humidade, ou sobre que áreas necessitam de mais investigação.
A observação dos danos consequentes da humidade deve ser sistemática, para que as alterações correlativas possam ser verificadas.
As ferramentas para esta investigação podem ser tão simples como um livro de apontamentos, esboços de projecto, binóculos, máquina fotográfica, folha de alumínio, lápis de carvão e lanterna eléctrica.
A abordagem sistemática implica a observação dos edifícios de alto a baixo, e do exterior ao interior. Devem ser usados fotografias, plantas dos pisos, planta de localização e alçados exteriores – mesmo simplesmente esboçados – para se indicarem todas as evidências de materiais húmidos ou danificados, com anotações das áreas húmidas e fracamente ventiladas.
Pode ser necessária alguma informação sobre as características e a permeabilidade dos materiais de construção e do terreno.
Devem ser verificados os padrões de drenagem exterior, sendo estas plantas básicas referidas a uma base regular, em diferentes estações e com diferentes tipos de tempo.
É melhor começar-se por um determinado método de documentação periódica e usar-se sempre este mesmo método, de todas as vezes.
Como a humidade é afectada pela própria humidade, muitos inspectores começam pelo telhado e pelo sistema de escoamento de águas pluviais, e prosseguem para baixo, pelas paredes exteriores.
Devem ser registadas todas as áreas óbvias de penetração de água, todas as superfícies danificadas ou todas as manchas.
Todos os padrões recorrentes de humidade ou de manchas, quer exteriores, quer interiores, também devem ser registados juntamente com um comentário sobre a temperatura, o tempo, e quaisquer outros factos que possam ser relevantes (escoamento das chuvas, solo saturado, humidade interior elevada, lavagem do edifício recente, presença de um sistema de rega de jardim, etc.).
O interior também deve ser registado, começando-se pelo sótão e prosseguindo-se em direcção à cave e à caixa de ar do pavimento inferior.
Pode ser necessário removerem-se os materiais danificados selectivamente para se conseguir traçar a passagem da humidade ou para se marcar uma origem, tal como um cano roto no tecto.
A utilização de um básico medidor de humidade por resistência, que está à venda em muitas lojas de ferragens, pode identificar os conteúdos de humidade dos materiais e demonstrar, com o correr do tempo, se todas as superfícies de paredes estão a secar ou a ficar mais húmidas.
Um lápis de carvão marca as infiltrações de água em redor das janelas ou desenha padrões nos espaços interiores.
Para se fazer um ensaio rápido destinado a determinar se uma cave húmida é provocada por paredes saturadas ou se é consequente de condensação, cola-se uma folha de alumínio sobre a superfície da alvenaria e verifica-se passado um dia ou dois; se se desenvolveu humidade por trás da folha, então é porque ela provém da alvenaria.
Se aparecer condensação na superfície exterior da folha, então a humidade provém do ar.
A comparação das condições actuais com as condições anteriores, com desenhos históricos, com fotografias ou com alterações conhecidas, também pode ajudar ao diagnóstico final.
Deve-se fazer um registo cronológico, mostrando-se o melhoramento ou o agravamento, que seja suportado por fotografias ou por anotações, tais como alterações no tamanho, condição ou características da degradação, e sobre como essas alterações têm sido afectadas pelas variáveis de temperatura e de queda de chuva.
Se uma condição poder ser relacionada, no tempo, com um acontecimento em particular, tal como uma eflorescência que se desenvolve numa lareira depois de o edifício deixar de ser aquecido, pode ser possível isolar-se uma causa, desenvolver-se uma hipótese, e depois testar-se essa hipótese (pela adição de algum aquecimento temporário), antes de se aplicar um tratamento curativo.
Se o proprietário tiver acesso a algum equipamento de vigilância e monitorização de humidade, por exemplo um medidor de humidade por resistência, um indicador de ponto de orvalho, um detector de sais, um sistema de termografia infravermelha, um psicrómetro, um boroscópio de fibra óptica ou uma câmaras de vídeo miniaturizada, pode ser incorporada uma quantidade de dados na observação.
Se for necessário despistar-se o humedecimento e a secagem das paredes durante um certo período de tempo, aplicam-se sondas profundamente instaladas nas paredes e no terreno ligadas por cabos de sinal a registadores de dados informatizados, ou fazem-se registos a longo prazo das leituras de hidrotermógrafos, que requerem interpretação por um especialista qualificado.
As câmaras miniaturizadas de vídeo e fibra óptica podem registar a condição das tubagens subterrâneas de drenagem, sem necessidade de escavação.
No entanto, deve se avisar que a instrumentação, embora extremamente útil, não consegue substituir a cuidadosa observação e a análise pessoal.
Confiar só na instrumentação raramente vai proporcionar ao proprietário toda a informação necessária para o completo diagnóstico de um problema de humidade.
Para se evitar saltar-se rapidamente para uma conclusão – potencialmente errónea – há uma série de perguntas que se devem fazer primeiro. Elas vão ajudar a estabelecer-se uma teoria ou uma hipótese que possa ser testada para se aumentarem as hipóteses de um tratamento curativo conseguir controlar ou gerir a humidade existente.
Como é feita a drenagem da água em redor do edifício e do terreno?
Qual é a eficiência das caleiras e dos tubos de queda? As inclinações e descaimentos em redor das fundações serão adequadas? Qual é a localização dos elementos enterrados, tais como poços, cisternas ou áreas de drenagem? Será que as tubagens enterradas de drenagem (ou as caixas de visita) estão ligadas aos ramais de evacuação e em bom estado de funcionamento? Será que o terreno retém a humidade ou permite que ela se escoe livremente? Onde está o lençol de água? Existem sumidouros que retenham bem a água da chuva? Qual é a velocidade de escoamento da drenagem em todo o terreno (pode ser ensaiada com uma torneira durante alguns minutos)? Será que a drenagem para temporais ligada à rua é suficiente para chuvadas intensas, ou será que a água reflui cronicamente para o local? Será que as construções novas vizinhas afectaram a drenagem do terreno ou os lençóis de água?
Como é que parece que a água/ humidade está a entrar no edifício? Foram avaliadas todas as cinco principais origens da humidade? Qual é a condição dos materiais de construção e existirão algumas áreas óbvias de degradação? Será que o edifício teve alguma ‘trincheira do construtor’ em redor das suas fundações, que possa estar a reter a água junto das paredes exteriores? Será que as paredes interiores portadoras de carga mostram evidência de humidade ascendente, da mesma forma que as paredes exteriores? Existe alguma evidência de pressão hidrostática sob o pavimento da cave, tal como água a percolar através de fendas? Existiram alguns danos consequentes da humidade, provenientes de algum bloqueio de gelo, durante os últimos meses? Existem danos localizados, situados apenas num dos lados do edifício, ou espalhados por uma grande área?
Quais são as principais dinâmicas da humidade? A condição da humidade é proveniente de origens líquidas ou de vapor? A humidade do sótão é resultado da difusão de vapor conforme o ar húmido sobe pela caixa de ar das paredes exteriores, provindo da caixa de ar do pavimento inferior, ou é consequente de pingos vindos do telhado? A humidade das paredes exteriores será proveniente da humidade ascendente com uma ‘marca de maré’, ou existem pontos dispersos de humidade pelo salpicar da água da chuva nas paredes de fundação, ou por outras condições de humidade existentes no terreno? Existe uma renovação de ar adequada no edifício, especialmente nas áreas húmidas, tais como a cave? A altura do lençol de água tem sido observado pela cravação dum tubo comprido no terreno, para se registarem os níveis da água?
Como é que o ambiente interior tem lidado com a humidade? Existem áreas do edifício que não pareçam estar a ser bem ventiladas e onde cresce o bolor? Existem elementos históricos que em tempos ajudavam o edifício a controlar o ar e a humidade, que possam ser reactivados, tais como clarabóias ou janelas manobráveis? No caso de existir frequentemente condensação nas janelas, será que está a ocorrer o ponto de orvalho por baixo das superfícies? Será que o edifício parece anormalmente húmido, ou que cheira de uma forma pouco habitual, sugerindo a necessidade de mais estudos? Existem evidências de térmitas, de formigas carpinteiras, ou de outros infestantes atraídos pelas condições de humidade? Estará algum desumidificador a manter o ar seco ou será que ele está, na realidade, a criar um ciclo em que origina que a humidade esteja a ser transportada através da parede de fundação?
O problema de humidade parece ser intermitente, crónico ou estar ligado a acontecimentos específicos?
As condições de humidade acontecem durante as duas horas de uma chuvada forte ou existe uma reacção atrasada? A ferrugem que aparece na maioria das cabeças de pregos no sótão indica um problema de condensação? O que são os padrões húmidos que aparecem nas paredes do edifício durante e depois de um aguaceiro? São localizados ou estão distribuídos por grandes áreas? Estes padrões de chuva podem estar relacionados com transbordos de caleiras, com falta de perfis de remate, ou com a saturação de materiais absorventes? Será que uma área que foi reparada se está a comportar bem ao longo do tempo, ou existem evidências de que a humidade está a regressar? Será que as leituras dos medidores de humidade nas paredes de caixa de ar indicam que elas estão húmidas, sugerindo roturas ou condensações dentro dessas paredes?
Uma vez que tenha sido desenvolvida uma hipótese, ou várias hipóteses, sobre as origens da humidade, a partir da observação e do registo de dados, é frequentemente útil provarem-se ou reprovarem-se estas hipóteses por tratamentos parcelares e, se necessário, pelo emprego de instrumentação adicional para se confirmarem as condições.
No caso de caves húmidas, o ensaio de soluções pode ajudar a se determinarem as causas. Por exemplo, as águas superficiais estagnadas em pontos baixos podem ser redireccionadas para longe da parede de fundação, por alteração da inclinação do terreno, para se verificar se a humidade da cave melhora.
Se ainda persistir um problema, verifica-se se as tubagens enterradas da drenagem, ou se os sumidouros de ferro fundido estão a funcionar correctamente.
Os tubos de queda podem ser desligados acima do nível do terreno e ligados a tubos flexíveis compridos direccionados para longe das fundações.
Se, depois de uma chuvada forte ou de uma simulação feita com uma mangueira de rega, não houver nenhuma melhoria, têm que se procurar outras possíveis origens da humidade no terreno, tais como lençóis de água, cisternas ocultas ou ramais de abastecimento de água rotos, que sejam a causa da humidade na cave.
Novos dados vão conduzir a novas hipóteses que devem ser testadas e verificadas.
O processo de eliminação pode ser frustrante, mas é necessário se pretendermos que um método sistemático de diagnóstico seja bem sucedido.