Segue-se, então, um período que vai desde a primeira metade do século XIX até ao primeiro decénio do século XX, dominado por dois teóricos de tendências românticas opostas, Eugéne Viollet-Le-Duc e John Ruskin.
Com Viollet-Le-Duc chega-se ao considerado restauro estilístico, em que se convida o restaurador a penetrar na mentalidade do arquitecto original e a executar projectos que, talvez, o construtor medieval nunca tivesse concebido.
Viollet-Le-Duc desenvolve desenvolvidamente as suas ideias em 1858 no seu Dictionnaire raisonnè d’architecture em que se exprime dizendo “Restaurar um edifício não é, de facto, mantê-lo, repará-lo o refazé-lo, é o seu restabelecimento num estado completo que pode mesmo nunca ter existido num dado momento”.
Tais princípios levaram frequentemente a operações de restauro totalmente arbitrárias e à falsificação de numerosas obras de arte em que os seus elementos originais foram, por vezes, sacrificados sem quaisquer escrúpulos.
A igreja de Notre Dâme de Paris representa um exemplo gritante das intervenções de Viollet-Le-Duc em que, com as reparações, as complementações e as substituições foram destruídas as características específicas deste monumento.
Mesmo em Itália existiu neste período um fervor para a complementação de fachadas, de que são mais notáveis as de Santa Croce (1857-1863) e S. Maria del Fiore (1857-1887) em Florença e o Duomo em Arezzo (1891).
Pelo contrário, John Ruskin, testemunha do desenvolvimento da Inglaterra e das transformações da Europa na sequência da Revolução Industrial tinha grandes dificuldades em aceitar estas alterações e, no campo da arte, recusou todas as inovações que as novas descobertas científicas e tecnológicas poderiam trazer.
Ligado à mentalidade artesanal, enquanto expressão da criatividade humana, da sua individualidade e do seu equilíbrio com a natureza e com Deus, Ruskin opõe-se à produção industrial enquanto causas de alienação e de despersonalização.
Nesta óptica, Ruskin afirma que o monumento deve permanecer como está, não deve sofrer nenhuma intervenção a posteriori, nem deve ser tocado, deve ser deixado morrer serenamente mas procurando-se distanciar esse dia fatal por meio de uma contínua manutenção.
A posição de Ruskin responde a um culto místico pela natureza e pela liberdade.
O monumento, quando está em ruína, acaba por ter uma imagem finita e adquire uma dimensão infinita que se confunde com a natureza.
Para Ruskin, o restauro como conservação é uma mentira porque substituindo-se as pedras antigas destrói-se o monumento e obtém-se apenas um modelo do velho edifício.