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Santuário de São Torcato

O Santuário de S. Torcato situa-se no vale central da freguesia, desenvolvendo-se à sua volta todo o edificado da povoação.

O templo de estilo híbrido, com elementos clássicos, góticos, renascentista e românticos, é todo construído em cantaria de pedra de granito da região.

O gosto ecléctico, surge dentro do contexto da época, com predomínio de elementos decorativos neo-românicos.

As suas dimensões, na globalidade, são consideráveis: nave  central com 57.5 17.5 m2 e com uma altura até aos telhados de 26.5 m; transepto com 37.1 ⋅ 11.4 m2; e torres sineiras com 7.5 6.3 m2 e aproximadamente 50.0 m de altura.

A fachada simétrica é constituída por duas torres esbeltas e um corpo central. Em planta, o templo tem a forma típica da cruz latina.

A nave central é constituída por abóbadas de arco perfeito, que se são apoiadas nas paredes laterais e em arcos transversais que, por sua vez, descarregam para as colunas laterais.

Em 1871, foi iniciada a parte esquerda do transepto até à altura das portas, seguindo-se as paredes laterais e torres até ao nível das portas interiores das mesmas.

Mais tarde, em 1910, a nave do templo encontrava-se praticamente acabada, faltando ainda levantar as torres sineiras e completar o transepto, o que viria a ocorrer nas décadas de 50 e 60.

A construção do Templo esteve parada mais de 50 anos. As obras foram retomadas em 1982, encontrando-se em construção a cobertura da capela-mor, que se erguerá 18 m acima do nível  do telhado do Templo, prevendo-se também a construção de uma cúpula sobre o altar principal, constituída por gomos pré-fabricados de betão armado.  

Desta forma, a construção, iniciada em 1868, atravessou todo o século XX e vai prosseguir para o novo século. Com mais de século de existência, a estrutura do templo apresenta um número considerável de anomalias, ver Lourenço e Ramos (1999). 

Para representar as características de resistência e de deformabilidade do solo de fundação procedeu-se à realização de uma prospecção geotécnica, Martins (1999), que incluiu  trinta e um ensaios com penetrómetros dinâmicos pesados (PDP), quatro sondagens contínuas, através da introdução no terreno de tubos metálicos com cerca de 1 m de comprimento contendo no interior tubos plásticos para a recolha de amostras, e dois poços de  reconhecimento, junto de cada torre.

A combinação dos ensaios PDP e das sondagens  contínuas permitiu representar os perfis geotécnicos do solo.

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Na proximidade das torres identificou-se a presença de camadas de aterro e solo vegetal, com valores muito baixos de resistência mecânica. 

A estrutura apresenta uma série de fendas com dimensões significativas na fachada, coro e nos arcos das capelas. Não é possível saber a data do seu aparecimento, sendo razoável  admitir que se trata de um fenómeno que tem ocorrido de forma diferida.

As fendas foram todas registadas e classificadas em diversos desenhos.

Na fachada principal pode-se observar uma grande fenda que, em alguns locais do seu desenvolvimento, atinge uma abertura  superior a 50 mm.

A fenda tem origem no arco da porta principal, desenvolvendo-se na vertical para a rosácea, continuando depois na direcção oblíqua e atravessando a galeria exterior.

Dentro da galeria observa-se também um conjunto de cinco fendas, todas verticais, situadas da parte esquerda da mesma, com aberturas máximas.

Recorrendo a um teodolito óptico foi possível medir os deslocamentos das torres sineiras e dos arcos da nave, verificando-se que ambas as torres têm deslocamentos transversais na mesma direcção, com inclinações da ordem dos 10-4 rad.

Os arcos da nave central apresentam todos eles  deslocamentos consideráveis, apresentando um desnível, entre os pontos mais elevados de 0.20 m. Também se verifica que, ao nível da base esquerda dos arcos, existe um desnível de 0.10 m.

Este desnível foi comprovado com um levantamento do pavimento da nave e transepto recorrendo a uma estação total.

Desde Maio de 1998 que a estrutura do santuário se encontra monitorizada. 

Inicialmente, foram colocados tentos de gesso para determinar as fendas activas, tendo sido seleccionadas catorze fendas activas, com abertura significativa e presentes em locais de acesso conveniente.

Nestas fendas foi colada uma estação de leitura, formada por um conjunto de placas que, através de um medidor de fendas, permite determinar a variação da sua abertura na direcção normal e transversal.

Para além da variação da dimensão da fenda, é ainda registada a temperatura da estrutura no local da fendas. As torres sineiras encontram-se monitorizadas através da aplicação de dois pêndulos, um em cada torre. 

A monitorização efectuada da estrutura é insuficiente para permitir uma análise completa dos resultados mas parece ser razoável afirmar que os valores máximos de abertura de fendas encontrados são da ordem dos 0.1 mm/ano.

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Os valores medidos nos pêndulos parecem comprovar o afastamento das torres e o aumento da inclinação para o exterior.

Tendo em vista a correcta análise e justificação das patologias apresentadas pela  estrutura, recorreu-se a uma modelação tridimensional de toda a nave, tendo-se admitido  comportamento não-linear dos materiais. A estrutura foi sujeita apenas a acções verticais  (peso próprio da estrutura,), sendo considerada a interacção solo-estrutura.  

Os resultados finais permitem concluir que: (a) a fendilhação prevista no modelo, está de acordo com a fendilhação observada na estrutura.

Comprova-se a fendilhação generalizada da estrutura, ocorrendo as fendas mais importantes ao nível da abóbada e arcos da nave, bem como da fachada frontal.

São ainda visíveis fendas ao nível das  paredes laterais e da abóbada do coro; (b) os valores máximos das tensões principais mínimas (compressão) ocorrem ao nível dos arcos da nave, particularmente ao nível do 3º arco.

O valor de 7.0 MPa obtido é razoavelmente elevado, sendo provável que exista risco de início de esmagamento deste arco; (c) verifica-se o princípio da formação de um mecanismo de colapso com duas “rótulas” (linhas de rotura) na abóbada da nave; (d) os assentamentos da estrutura são muito substanciais, atingindo um máximo de 0.19 m sob a torre direita, e aumentando gradualmente ao longo da nave, no sentido do transepto para as torres.

A diferença entre a  base do 1º arco (do lado das torres) e a base do 4º arco (do lado do transepto) é de 0.08 m. Este valor é próximo do valor obtido com recurso a meios topográficos; (e) em oposição ao verificado na estrutura, a fendilhação obtida no cálculo não ocorre ao nível da chave dos arcos.

A razão para esta diferença não é clara, mas é possível que a fenda longitudinal da nave, se tenha iniciado imediatamente após a construção da nave, enquanto que os assentamentos seriam progressivos; (f) a análise indica que ambas as torres as torres se encontram inclinadas para a esquerda da estrutura, sendo o efeito mais grave na torre esquerda (1.5 10-3 rad) do que na torre direita (1.2 10-3 rad).

Estes valores são próximos dos  medidos na estrutura. 

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