A um Giambologna já velho foi encomendado, depois do enorme sucesso do monumento equestre a Cosimo I, um monumento análogo celebrativo do grão duque Ferdinando I.
Para o artista flamengo tratou-se de uma das últimas realizações; já em fase de projecto, o seu melhor aprendiz Pietro Tacca (posteriormente herdeiro e sucessor na oficina em Borgo Pinti) participou activamente na concepção do monumento e acompanhou directamente todas as fases da sua execução, desde a modelação até à fusão.
O monumento, para além da glorificação do grão duque, tinha o objectivo de celebrar a ordem equestre iniciada por Cosimo I: os Cavaleiros de Santo Stefano.
A oportunidade surgiu com o cerco vitorioso de Bona em 1607 operado pelos cavaleiros; o grão duque Ferdinando é representado no monumento em trajes de Grão Mestre da Ordem de Santo Stefano, e na correia da sela a inscrição dos metais arrebatados durante os repetidos recontros contra os piratas sarracenos.
A colocação do monumento é consequência da preferência que Ferdinando mostrava pela contemplação da Igreja de S. Annunziata a qual frequentava assiduamente, assim como pela sugestiva posição assumida pelo monumento equestre no eixo urbanístico entre a Catedral e o Santuário de S. Annunziata; quase uma confirmação da primeira vocação de servidor da Igreja, como Cardeal, do Grão Duque.
Pietro Tacca participará em todas as operações, desde o primeiro modelo em escala pequena, até ao modelo de 1602 em escala real, seguidamente fundido em bronze no outono do mesmo ano.
A obra foi concluída apenas em 1607, e finalmente encontrou a sua exibição na praça de S. Annunziata em Outubro de 1608 como parte integrante da decoração da cidade, por ocasião das núpcias do príncipe Cosimo com Maria Madalena de Áustria.
As cartelas no pedestal, obras do Tacca, são de 1640; de notável efeito, a cartela virada para a Annunziata com uma abelha rainha e abelhas dispostas concentricamente ao redor, e a legenda MAEISTATE TANTUM.
O monumento apresentava-se, no momento do restauro, com uma patina heterogénea, em que uma poeira verde azulada caracterizava grande parte da cromia superficial do grupo equestre, fenómeno consequente do deslavamento pela chuva.
Esta condição foi considerada determinante porque não favoreceu a formação, na quase totalidade da superfície, daquelas concreções de espessura variada que por vezes se encontram nas zonas mais protegidas, e que se apresentam como uma patina negra acastanhada, pelo que o estado de conservação pode ser definido como óptimo (barriga do cavalo, roupagens, painéis).
O grupo de bronze e os painéis estavam, pelo contrário, recobertos por abundantes quantidades de sedimentos de todos os géneros, tanto que algumas zonas do modelado apareciam ilegíveis e algumas esquadrias modificadas, na sua identidade escultórica em baixo relevo.
Iniciou-se pelo grupo escultórico com uma lavagem a jacto de água desionizada, com o objectivo de se remover a parte dos depósitos mais facilmente destacável, tal como os pós de guano abundantemente presentes nas zonas mais protegidas.
A limpeza de tipo mecânico foi efectuada com escovas rotativas de fio de aço fino, montadas em micro motores de baixa velocidade.
O emprego dos meios mecânicos na limpeza permitiu obterem-se resultados consideráveis no que respeita à conservação das patinas estáveis mais aderentes ao metal, já que consentiu obter-se um controlo contínuo e gradual por parte do operário.
As técnicas específicas do restauro deste monumento foram ligeiramente diferenciadas, até porque, como já foi dito, as características de conservação eram muito diversificadas.
Concluída toda a operação, foram seleccionadas zonas individualizadas e atentamente avaliadas no que respeita à consistência das incrustações e da espessura destas.
No que respeita às zonas não expostas ao deslavamento pela chuva,a limpeza necessitou de um empenho diferente por causa das incrustações, com espessuras consideráveis, sendo nestas usado principalmente o método do martelo vibratório a ar comprimido, cujas ferramentas eram constituídas por um metal muito brando (ferro macio). Nas zonas em que não era possível utilizar-se este método, foram usados instrumentos de ultra-sons.
Os painéis apresentavam vestígios de douradura sobre as letras e sobre as abelhas; neste caso a limpeza foi conseguida por método químico, aplicando-se sobre a superfície um emplastro constituído por sais de Rochelle a 33 % em água desionizada, suportado por Aerosil 2000, durante cerca de 20 minutos, seguindo-se uma lavagem com água desionizada.
Os cloretos de cobre foram eliminados com escalpelos metálicos e lavagens repetidas com água desionizada até se obter um pH neutro e um Cloroteste negativo.
Acabada a operação de limpeza, enxaguamento e secagem, foram integradas as lacunas amplamente presentes no grupo equestre.
A espada de Ferdinando, que mostrava uma vistosa explosão do bronze, provocada pela oxidação da barra interior em ferro, foi limpa da ferrugem formada com Er Ebresif, de seguida tratada com um conversor de ferrugem e, depois de colocada em tracção, integrada com resina epoxídica.
Como as duas cartelas do pedestal não eram simétricas, não foi possível executar-se um molde para se reproduzir o panejamento da cartela posterior respeitante à simbologia das abelhas, pelo que se ficou limitado a intervir sobre as margens fracturadas por um simples preenchimento.
No final das operações de restauro, a superfície foi protegida com cera microcristalina.
Apesar das observações referidas, o estado de conservação do bronze era bastante heterogéneo, já que nas zonas expostas ao deslavamento pela chuva e aos agentes atmosféricos não foi possível a formação daquela patina castanha que por vezes se encontra nas zonas mais resguardadas.
Para se obviar a este problema, teve que se recorrer ao emprego de patinas artificiais, numa intervenção em nítido contraste com a filosofia de conservação que tinha sido adoptada.
A limpeza da superfície da pedra, depois de uma série de ensaios executados sobre as crostas negras e sobre as zonas de coloração verde, começou pela aplicação, sobre a parte alta do pedestal, de um emplastro em polpa de papel (Arbocel 1000), embebida com uma solução da carbonato de amónio dissolvido em água desionizada e com a adição de um desinfectante com acção detergente (Neo Desogen).
Depois de executado um abundante enxaguamento e da secagem, apareceram na superfície numerosas manchas de coloração azul produzidas pela reacção do carbonato de amónio com os sais de cobre.
Tornou-se então necessária a aplicação sucessiva de emplastros repetidos a breves intervalos de tempo, para fazer com que a veloz reacção que conduz à formação da coloração azul fosse rapidamente interrompida pelo enxaguamento, para se evitar a reacção inversa.
A velocidade da reacção era, por outro lado, ampliada pela degradação do mármore, o qual apresentava uma avançada desagregação com evidente abertura dos poros, de tal forma que a superfície aparecia esponjosa e altamente absorvente.
Em certas zonas de coloração particularmente acentuada, a solução de água e carbonato de amónio foi suportada por sepiolite, para se acelerar a absorção e, portanto, a migração dos sais para a superfície.
A limpeza sobre o pedestal continuou procedendo-se por estes dois métodos aplicados alternadamente conforme as zonas mais ou menos interessadas pela degradação, e ainda continua em curso.
Nas porções de mármore com crostas negras de espessuras variáveis, em especial na localizações por baixo da moldura da cimalha e nas cornijas por baixo, foram aplicadas séries de emplastros com uma duração de cerca de 24 horas; após o que se procedeu à escovagem da superfície com escovas de dimensões diversas, seguindo-se um enxaguamento abundante com água, para se eliminarem todos os resíduos de sujidade.
Por este método removeram-se cerca de 90% de todas as crostas negras presentes.
As restantes foram retiradas mecanicamente. Na parte alta do pedestal foram retirados duas barras de ferro chumbadas, em precário estado de conservação, parcialmente destacadas e completamente recobertas com ferrugem.
A avançada degradação do mármore conjugada a uma vasta difusão dos sais de cobre dissolvidos, quer em profundidade quer em área, causou problemas assinaláveis no que respeita à aplicação dos emplastros, os quais se tornaram numerosos e com reduzidos tempos de aplicação, com o objectivo de se evitar a reabsorção dos sais.
Em muitas zonas, a coloração verde azulada atenuou-se muito ou desapareceu mesmo. Por outro lado foi notavelmente “desvanecida” a escrita deturpante presente no lado direito da parte baixa do basamento, por forma mecânica, mediante abrasão com ar.
Nos dois painéis laterais em granito vermelho, executou-se uma limpeza com “água saturada” (água desionizada + carbonato de amónio), seguida por enxaguamento abundante.
No final da limpeza ficaram ainda algumas manchas verde cobre por causa da elevada porosidade do mármore e da consequente penetração dos sais no seu interior.
Na parte alta do basamento, onde se apoiam as patas do cavalo, foram substituídos as velhas barras de ferro situados nos ângulos, na altura quase completamente destacadas dos seus alojamentos originais e totalmente cheias de ferrugem.
Foram aplicadas três barras em aço inox, fixadas com resina epoxídica. Previamente, foram aprofundados os respectivos furos para se aumentar a aderência.
Foi ainda executada uma estucagem para se selarem as novas barras, com uma argamassa composta por cal em pasta, pó de mármore (na dosagem de 1:3), Primal AC33 a 10 % e aditivada com terras inertes para se conseguir a cromia original.
As estucagens prosseguiram em toda a superfície, depois de ter sido demolida a estucagem antiga, parcialmente ou totalmente destacada. Nalguns pontos (ângulos, molduras, arestas) foram reconstruídas porções de mármore em correspondência com faltas e lacunas.
Nas zonas onde por vezes estavam presentes, em número elevado, micro fracturas, empolamentos e destacamentos da superfície da pedra, depois de ter sido executada uma consolidação com o elastómero AKEOGARD CO, aplicado a pincel por embebimento, foram executadas estucagens, em seguida, com AKEOGARD suportado por pó de mármore aditivado com terras inertes para lhe dar cromia.
Além de terem sido estucadas perimetralmente, também foram estucadas as duas lápides de granito vermelho; foi executada ainda, na parte alta esquerda (ângulo), onde tinha aparecido uma fractura com abaixamento e deslocamento relativo das porções de granito destacado, uma estucagem com AKEOGARD e terras inertes policromas para afinação com o original, reconstituindo-se todos os planos e porções destacadas do granito.