De seguida, indicam-se os sinais e as origens vulgares da degradação do adobe e algumas soluções comuns. Deve-se ter em atenção que, no entanto, a degradação do adobe é frequentemente o produto de mais do que um destes problemas.
A cura de apenas um deles não consegue necessariamente deter a degradação, se os restantes forem deixados por tratar.
Danos estruturais: existem diversos problemas estruturais comuns aos edifícios em adobe, e enquanto que os resultados destes problemas são fáceis de ser vistos, as suas causas não.
Muitos destes problemas têm origem num projecto ou numa construção de fraca qualidade, em fundações insuficientes, em materiais fracos ou inapropriados, ou nos efeitos de forças externas tais como o vento, a água, a neve ou os sismos. Em qualquer caso, podem ser necessários os serviços de um engenheiro de solos e/ou de um engenheiro estruturalista conhecedores da construção em adobe, para avaliarem estes problemas.
As respectivas soluções envolvem reparações das fundações, o realinhamento das paredes deformadas ou “barrigudas”, a construção de contrafortes nas paredes, a introdução de novos lintéis em portas e janelas, e a reparação de estruturas de coberturas gravemente degradadas.
Existem muitos sinais visíveis dos problemas estruturais nos edifícios em adobe, sendo os mais vulgares fendas nas paredes, nas fundações e nos telhados. No adobe, as fendas são geralmente bem visíveis, mas as suas causas podem ser difíceis de diagnosticar. É normal o aparecimento de alguma fissuração, tal como as pequenas fissuras capilares que são provocadas conforme o adobe vai retraindo e continua a secar.
Fendilhações mais extensas, no entanto, indicam geralmente problemas estruturais sérios. Em qualquer caso, as fissuras, tal como todos os problemas estruturais, devem ser examinadas por um profissional que possa fazer recomendações sobre a sua reparação.
Problemas relacionados com a água: Geralmente, os edifícios em adobe degradam-se por causa da humidade, quer ela provenha de chuva excessiva ou do solo. Uma estabilização e um restauro de sucesso, bem como a sobrevivência de um edifício em adobe dependem da forma como, efectivamente, um edifício descarta a água. A importância em se conservar um edifício em adobe livre de humidade excessiva não pode ser subestimada.
A acção erosiva da água da chuva e a subsequente secagem das coberturas, parapeitos e paredes em adobe pode provocar a formação de perfurações, fendas, fissuras profundas e superfícies desgastadas. O adobe saturado de chuva perde a sua resistência coesiva e deforma-se, formando cantos e parapeitos arredondados.
Se for deixado sem reparação, os danos pela água da chuva podem eventualmente destruir as paredes e as coberturas em adobe, provocando a sua continuada degradação e o seu colapso terminal. A água da chuva estacionária, que se acumula ao nível das fundações, e os salpicos da própria chuva podem provocar
“tunelamentos” (perfurações da parede imediatamente abaixo do nível do terreno).
A água no terreno (água abaixo do nível do solo) pode estar presente em qualquer um dos lados da parede, em consequência de uma nascente, de um nível freático elevado, de uma drenagem inadequada, de flutuações sazonais da água, de uma rega excessiva de plantações ou de alterações no nível do terreno. A água no terreno sobe pelas paredes, por acção da capilaridade, e provoca a erosão, o abaulamento e a escavação do adobe.
A escavação também pode ser provocada por delaminação, durante os ciclos de congelamento e descongelamento.
Conforme a água sobe pela parede a partir do terreno, a ligação entre as partículas da argila do adobe desfaz-se. Além disso, os minerais ou os sais dissolvidos, transportados pela água a partir do terreno, podem ficar depositados na superfície da parede ou perto desta, conforme a humidade evapora.
Se estes depósitos começarem a ficar demasiadamente concentrados, eles também podem degradar a parede em adobe. Conforme o adobe seca, aparecem, geralmente, fissuras por retracção, podendo-se destacar e cair secções dos tijolos de adobe e do “mud plaster”.
Uma cobertura bem vedada com a respectiva drenagem adequada é a melhor protecção contra a erosão pela água da chuva. As superfícies das paredes e das coberturas em adobe, adequadamente mantidas com telhas ou revestimentos superficiais tradicionais, resistem geralmente bem aos efeitos destrutivos da queda da chuva.
Os drenos da cobertura devem estar em bom estado de reparação e serem suficientes para transportarem expeditamente a água da chuva para fora da cobertura. Num esforço para deterem os efeitos destrutivos da queda da chuva, os construtores do século XIX capeavam frequentemente os parapeitos com tijolos cerâmicos.
Estes tijolos eram mais resistentes e mais adequados à exposição e à acção erosiva da água da chuva; no entanto, a adição de um capeamento em tijolo ao parapeito de uma parede já existente pode criar uma alteração drástica na aparência e na fábrica da edificação. É aconselhável a utilização de uma argamassa tradicional de cal com estes tijolos cerâmicos porque é mais impermeável e compatível com a maior resistência do tijolo.
A água da chuva que se acumula nas fundações em adobe deve ser desviada para longe do edifício. Isto pode ser feito por alterações na pendente do terreno, pela construção de trincheiras preenchidas com gravilha, de drenos em tijolo, telha ou pedra, ou por qualquer outra técnica que remova efectivamente a água estacionária da chuva. A alteração das pendentes é, talvez, a melhor solução porque drenos e trincheiras defeituosos podem, de facto, recolher e reter mais água na base da fundação da parede.
Quando se reparam “cavernosidades”, ou danos provocados pelo salpicar da chuva, devem ser empregues tijolos de adobe estabilizados com solo-cimento. Por outro lado, os remendos em cimento, o estuque de cimento e a execução de contrafortes em forma de arco sobre o “tunelamento” têm geralmente um efeito negativo porque a humidade pode ser atraída e retida atrás do cimento.
Os remendos em “stucco” e em cimento tem propensão para provocarem degradações no adobe relacionadas com a água. O coeficiente de expansão térmica do “stucco” é entre 3 a 10 vezes superior ao do adobe, o que resulta na fendilhação do adobe. As fissuras permitem a penetração da água e do vapor no adobe subjacente, e o “stucco” impede a secagem da parede.
Conforme o teor de humidade no adobe aumenta, chega-se a um ponto em que o adobe acaba por ficar macio como uma pasta. Assim que a parede fica totalmente saturada, a lama do adobe flúi como um líquido. Este fenómeno varia em função do conteúdo de areia, argila e silte no adobe.
Se o adobe ficar tão húmido que a argila atinge o seu limite de plasticidade, ou se o adobe ficar exposto à acção do gelo, podem aparecer danos muito sérios. Sob o peso do telhado, o adobe molhado deforma-se e cria barriga. Como a degradação fica invisível por baixo do “stucco”, os danos podem prosseguir sem serem detectados durante algum tempo.
Portanto, na reparação ou na reconstrução de partes das paredes devem ser usados as técnicas e os materiais tradicionais da construção em adobe.
Os efeitos destrutivos da humidade sobre os edifícios em adobe podem ser detidos com diversos procedimentos curativos.
- Os arbustos, as árvores e outra vegetação junto das fundações podem provocar danos físicos. As suas raízes podem crescer dentro do adobe e/ou pode ficar retida humidade excessiva nessas raízes, a qual é conduzida para as paredes. Deve-se considerar a remoção dessa vegetação para se deter este processo.
- O nível do terreno imediatamente adjacente às paredes pode ser causador de uma drenagem insuficiente. Deve ser considerada a correcção do nivelamento para que a inclinação fique direccionada para fora do edifício, eliminando-se os empoçamentos de água pluvial.
- Pode ser considerada a instalação de drenos na base das paredes. Abrem-se valas com cerca de 60 cm a 75 cm de largura, e um pouco mais de profundidade em redor do edifício em adobe, na base das paredes ou das fundações, caso existam. Se o solo for fraco, pode ser necessário inclinar os taludes dessas valas para se evitar o seu desabamento e os consequentes danos na parede. As paredes e o fundo da vala devem ser revestidos com uma barreira de vapor em polietileno para se evitar que a água recolhida sature o solo circundante e a parede em adobe. Aplica-se, então, no fundo da vala, um tubo em cerâmica ou em plástico que servirá para drenar a água para um poço de absorção ou para uma valeta aberta. Preenche-se a vala com brita até cerca de 15 cm da superfície. A escavação remanescente é preenchida, depois, com solo poroso até à superfície.
Uma palavra de prevenção: A remoção da vegetação, o reperfilamento do terreno ou a abertura de valas podem ser potencialmente destrutivos para os vestígios arqueológicos associados aos locais das construções em adobe. Qualquer perturbação do terreno deve, portanto, ser executada com prudência e planeamento cuidadosos.
Logo que uma destas soluções, ou todas elas, tenham minimizado eficazmente os problemas com a água ascendente do terreno, as “cavernosidades” e a degradação nas paredes podem ser corrigidas pela aplicação de remendos nas áreas afectadas, feitos com lama de adobe nova ou pela aplicação de revestimentos superficiais tradicionais.
No entanto, deve ser recordado que a menos que a acção da capilaridade seja efectivamente detida, esta condição erosiva irá certamente prosseguir.
Mais importante, os revestimentos superficiais e os remendos só reparam os efeitos da erosão pela água do terreno e pelo vento, mas não conseguem curar as suas causas.
Erosão pelo vento: A areia transportada pelo vento tem sido frequentemente citada como um factor contributivo para a erosão da fábrica em adobe. A evidência da erosão pelo vento é, por vezes, difícil de isolar porque provoca resultados semelhantes ao da erosão pela água; no entanto, as estrias provocadas pelo vento são, geralmente, mais óbvias na metade superior e nos cantos das paredes, enquanto que as “cavernosidades” consequentes da água salpicada ou proveniente do terreno situam-se, frequentemente, no terço inferior dessas paredes.
Uma boa manutenção é a solução para se mitigarem os efeitos destrutivos da erosão pelo vento. Os danos provocados pelo vento nas superfícies das paredes e das coberturas em adobe podem ser reparadas pela aplicação de lama de adobe nova.
Pode ser aplicado um revestimento superficial tradicional qualquer, para se ganhar protecção contra quaisquer futuros possíveis efeitos destrutivos. Se o vento forte for um problema continuado, deve ser construída uma barreira contra o vento, usando-se vedações de arbustos ou árvores. Deve-se ter o cuidado em se plantarem essas árvores suficientemente longe da estrutura para que as suas raízes não vão destruir a respectiva fundação ou reter a humidade.
Vegetação, insectos e bicharada: A vegetação e os infestantes são fenómenos naturais que podem acelerar a degradação do adobe. As sementes depositadas pelo vento ou por animais podem germinar nas paredes e coberturas em adobe tal como o fazem no solo.
A acção das raízes pode romper os tijolos em adobe ou provocar a retenção de humidade que vai danificar a estrutura. Animais, aves e insectos vivem frequentemente nas estruturas em adobe, abrindo e fazendo ninhos dentro das paredes ou das fundações. Estas infestantes minam e destroem a solidez estrutural da construção em adobe. Não deve ser minimizada a possibilidade de infestação por térmitas, já que estas podem viajar através das paredes em adobe tal como fazem no terreno natural.
Os elementos em madeira (lintéis, pavimentos, ombreiras de portas e janelas, e estrutura dos telhados) são todos vulneráveis ao ataque e destruição pelas térmitas.
É fundamental libertarem-se imediatamente as estruturas em adobe de todas as infestações por plantas, animais e insectos e tomarem-se medidas preventivas contra o seu regresso.
Os rebentos de plantas devem ser cuidadosamente removidos para que os seus sistemas radiculares não desloquem o material do adobe. Devem ser cuidadosamente estudados os sistemas de eliminação de infestantes que envolvam o uso de químicos, de forma a se compreenderem os efeitos imediatos e a longo termo desses químicos sobre a construção de adobe.
É importante o aconselhamento profissional nesta área, não só porque os químicos podem ser transportados para dentro das paredes, pela acção da capilaridade, e terem um efeito de degradação sobre a fábrica em adobe, mas também por razões de segurança das pessoas e ambiente.
Incompatibilidades de materiais: Como os edifícios em adobe estão a ser continuamente deformados e a retraírem, é provável que já tenham sido executados outros trabalhos de reparação, anteriormente, durante a sua vida. As filosofias de abordagem à conservação do adobe têm mudado, assim como as técnicas de restauro e de reabilitação.
As técnicas que eram aceitáveis apenas há 10 anos atrás já não são consideradas adequadas actualmente. Até há pouco tempo, reparavam-se as juntas entre tijolos de adobe com cimento Portland; os lintéis e portas em madeira degradados eram substituídos por outros em metal; e as paredes em adobe eram pintadas por projecção com revestimentos superficiais de plástico ou borracha.
A natureza naturalmente higroscópica do adobe torna estas técnicas ineficazes e, mais importante ainda, destrutivas. A elevada resistência das argamassas de cimento Portland e do “stucco” provocam a fissuração e a desagregação dos menos resistentes tijolos em adobe, durante a expansão diferencial destes materiais incompatíveis.
Os lintéis em aço são muito mais rígidos do que o adobe. Quando o edifício expande, as paredes em adobe deformam-se porque são mais flexíveis do que o aço. Os revestimentos plásticos ou de borracha para paredes, que eram usados para selarem as superfícies, impedem-nas de expandirem ao mesmo tempo que o resto do tijolo.
Em consequência, podem-se romper secções inteiras das paredes. Nalguns casos, os materiais incompatíveis podem ser retirados dos edifícios sem danos subsequentes na estrutura. Noutras vezes isso é impossível. Recomenda-se, portanto, o aconselhamento profissional.