Apontamentos O ensino superior e a questão da Responsabilidade Social

O ensino superior e a questão da Responsabilidade Social

O conceito de ética de responsabilidade social não faz menção somente ao contexto empresarial de produtivo, propriamente dito. Nos últimos tempos, fala-se, ademais de ética de responsabilidade social, ou simplesmente, responsabilidade social nas organizações educativas, especialmente as do ensino superior ou universidades. É, justamente nesse contexto em que a abordagem em torno da responsabilidade social pode ser declinada. Aliás, todo processo de gestão ética educacional implica, outrossim, políticas de responsabilidade social.

De facto, o desejo de um mundo melhor, possibilitado pela inclusão social e defendido pelas empresas, como vimos acima ao tratar sobre a ética de responsabilidade social empresarial, já era retórica nas instituições de ensino superior que, imersas nesse espírito de época, aprofundaram as discussões sobre a responsabilidade social, haja vista, a escola e, no caso da educação superior moçambicana, as faculdades, universida­des e centros universitários são espaços privilegiados de formação e investigação, como diria Brazão Mazula, citando Einstein e Habermas, onde “para Einstein, a escola é espaço e momento de investigação e educação colectiva, portadora de valores” (EINSTEIN, 1981: 29-30 apud MAZULA, 2006: 63). Enquanto, mais tarde Habermas, consideraria a escola como, “um dos sistemas de acção especializado na reprodução cultural, isto é, nos valores da sociedade, ao grau mais elevado, até porque a cultura é o armazém do saber de uma sociedade e que por isso, favorece a formação do homem” (HABERMAS, 1990: 96 apud MAZULA, 2006: 63). Portanto, se toma em consideração a escola nessa lógica dada por Einstein e Habermas, as instituições do ensino superior enquanto escolas, são também, responsáveis pelo processo de forma­ção e profissionalização das pessoas por meio da relação crítica e reflexiva com aspectos técnicos, teóricos, éticos e morais implicados na vida em sociedade, na qual a ética e a vida boa partilhada (Ricoeur, 2011), se assenta na solidariedade, justiça e responsabilidade.

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Ao explicitar que a educação superior é responsável por formar profissionais comprometidos com o meio social em que estão inseridos, apontamos também, para a responsabilidade social das instituições que a concretizam, uma vez que esse meio social extrapola o contexto das instituições do ensino superior e se estende para o conjunto de pessoas, recursos naturais e instrumentais, sejam eles tecnológicos ou não, que com­põem o espaço de vida e de acção dessas pessoas. Espaços onde os estudantes e os demais membros da comunidade acadêmica, orientados, teórica e metodologicamente, actuam na gestão e prática de projetos com vistas à promoção do outro e da sociedade, mas, também, de si mesmos nesse processo.

De facto, entendemos que a responsabilidade social universitária se refere a um conjunto de acções, inten­cionalmente planeadas e colectivamente discutidas, que são empreendidas na universidade, centro universitário ou facul­dade que: revelam preocupação e práticas favorecedoras do bem-estar do outro e de si, seja dentro da instituição ou fora dela; propõem mudanças contínuas nas rotinas inter­nas da instituição para melhoria das relações internas e ex­ternas; institucionalizam a solidariedade como finalidade e meio das acções empreendidas na instituição de ensino; intensificam e aprimoram os fluxos de comunicação dentro e fora das instituições do ensino superior; e, evidenciam preocupação e práticas ten­dentes à sustentabilidade, aliás, um dos objectivos da ética de responsabilidade social é o garante de sustentabilidade tanto das organizações, sejam elas, educativas, empresariais, quanto de toda sociedade, nas suas diversas manifestações, ou seja, o crescimento e o desenvolvimento das empresas e das organizações deve implicar, embora não necessariamente, o desenvolvimento da sociedade, uma vez que a responsabilidade social é esse “ar de vida” que as empresas, as instituições do ensino superior, as organizações, respiram que devem, outrossim, dar à sociedade. Da boa respiração das empresas e das instituições de ensino superior deve esperar-se a boa respiração da sociedade por via da responsabilidade social, um direito que aquelas devem tributar à esta.

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