Quando tiverem sido identificadas condições da superfície exterior que obriguem a uma remoção total da tinta, tais como tinta descascada, tinta estalada, ou “pele de cobra”, existem dois dispositivos – o fogão eléctrico e a pistola de ar quente – que provaram ser bastante bem sucedidos na sua utilização em diversos elementos de madeira nos edifícios históricos. Outro método térmico – o maçarico de chama – não é recomendado porque pode carbonizar a madeira e até incendiar o edifício!
Métodos térmicos recomendados
Fogão eléctrico: O fogão eléctrico 23 trabalha entre os 260o C e os 430o C (o que não chega para vaporizar a tinta
de chumbo), usando cerca de 15 Amp de energia eléctrica. O fogão é mantido perto da superfície exterior pintada até que as camadas de tinta comecem a amolecer e a empolar, sendo depois movido para uma posição adjacente na madeira enquanto a tinta amolecida é raspada com uma betumadeira (deve-se frisar que o fogão eléctrico é melhor sucedido quando a tinta é muito espessa). Com a prática, o operário consegue mover o fogão eléctrico regularmente ao longo de uma superfície plana, tal como um revestimento exterior de madeira, ou um peito de janela, ou uma porta, num movimento contínuo, diminuindo assim o risco de carbonização da madeira na tentativa de se reaquecer suficientemente a face da tinta para uma remoção eficaz.
Logo que a espiral do fogão eléctrico fica ao rubro, deve-se ter extrema precaução para se evitar pegar fogo ao vestuário ou queimar a pele. Se for usada uma extensão eléctrica, deve ser uma extensão industrial (com tomadas de 3 bornes ligadas à terra). Um fogão eléctrico pode sobrecarregar um circuito ou, ainda pior, provocar um incêndio; portanto, é recomendado que este dispositivo seja utilizado com um circuito próprio e que se tenha sempre à mão um extintor de fogo.
Pistola de ar quente: A pistola de ar quente 24 parece-se com um secador de cabelo manual com uma carcaça exterior metálica e resistente. Ela tem uma resistência eléctrica que aquece tipicamente entre os 260o C e os 400o C e, mais uma vez, usa cerca de 15 Amp de energia eléctrica que exige uma extensão eléctrica industrial. Existem algumas pistolas de ar quente que trabalham a temperaturas superiores, mas elas não devem ser usadas para a remoção das tintas antigas por causa do perigo de produção de vapores de chumbo. A temperatura é controlada por um abertura lateral de ventilação na pistola. Quando se fecha essa ventilação, a temperatura sobe. Uma ventoinha força uma corrente de ar quente contra a carpintaria pintada, provocando a formação de uma bolha. Neste ponto, a tinta amolecida pode ser raspada com uma betumadeira. Consegue-se tirar dela o melhor partido numa porta apainelada que foi originalmente envernizada e depois pintada uma quantidade de vezes.
Neste caso, a tinta vai sair bastante facilmente, frequentemente, deixando por baixo uma superfície envernizada quase impecável. Tal como o fogão eléctrico, a pistola trabalha melhor sobre uma grande acumulação de tintas. (No entanto, não é muito bem sucedida sobre apenas uma ou duas camadas de tinta ou em superfícies que tenham sido apenas envernizadas. O verniz só fica mais pegajoso e a madeira carboniza-se.) Apesar de a pistola ser mais pesada e mais cansativa de usar do que o fogão eléctrico, ela é especialmente eficiente para a remoção da tinta em trabalhos pormenorizados porque o seu bico pode ser dirigido para as superfícies curvas e intrincadas. Por isso a sua utilização é mais limitada do que a do fogão, mas muito bem sucedida se usada em conjunto com ele.
Por exemplo, leva cerca de duas a três horas a decapar-se uma porta apainelada com uma pistola de ar quente, mas se for usada em conjunto com um fogão eléctrico nas áreas lisas e planas da porta, este tempo costuma ser cortado ao meio. Apesar de a pistola de ar quente apenas muito raramente carbonizar a madeira, ela pode provocar fogos (tal como o maçarico) se for dirigida para as cavidades poeirentas existentes entre o tabuado do revestimento exterior das paredes e o fasquiado do estuque interior. Um fogo destes pode lavrar durante horas antes que as chamas rompam através da superfície. Por isso este equipamento é mais adequado para trabalhar sobre elementos decorativos maciços, tais como moldados, balaústres, grelhagens ou ornamentações eclécticas.
Não recomendados
Maçaricos de chama: Os maçaricos de chama 27 manuais, de gás propano ou butano, foram largamente usados no passado para a remoção da tinta porque não existiam outros equipamentos térmicos. Nesta técnica, a chama era directamente dirigida para a tinta até que esta começasse a borbulhar e se soltasse da superfície. Depois, a tinta era raspada com uma betumadeira. Apesar deste ser um processo relativamente rápido, a chama aberta com temperaturas entre os 1760o C e os 2100oC não só era capaz de queimar um operário descuidado, provocando-lhe graves danos nos olhos e na pele, como podia facilmente carbonizar ou inflamar a madeira.
Outro tipo de risco de incêndio era mais insidioso. Muitos edifícios estruturados a madeira têm uma caixa de ar entre o tabuado de revestimento exterior e o fasquiado do estuque interior. Esta cavidade está geralmente acumulada com poeiras que também são facilmente incendiadas pela chama aberta do maçarico. Finalmente, as tintas à base de chumbo vaporizam a temperaturas elevadas, libertando gases tóxicos que podem ser inalados inadvertidamente. Portanto, como o fogão eléctrico e a pistola de ar quente são geralmente mais seguros de utilizar – ou seja, os seus riscos são muito mais controláveis – o maçarico deve ser terminantemente evitado.