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Metodologia específica do trabalho (leitura arquitectónica e arqueológica, diagnóstico físico, social e cultural)

Do muito que foi escrito, há algo sempre subjacente: é inútil e penosamente destruidor intervir num conjunto edificado, ou num edifício isolado, sendo este classificado, inventariado, ou nenhum dos dois, sem o conhecer antecipadamente. Dever-se-á ter em atenção:

  • O seu construtor(es), arquitecto(s), ou ambos, que poderão ter sido inovadores como um novo desenho ou uma nova solução construtiva, quais os modelos que seguiram;
  • Os seus materiais de construção, a sua estrutura e como se comporta;
  • A época da construção e os motivos desta, como marco histórico, com uma função intrínseca, como motivo político, económico e/ou social;
  • Qual a sua função inicial e actual e o porquê dessa alteração;
  • As campanhas de obras que já sofreu e quais as intervenções realizadas;
  • A estrutura urbana, o lugar, a envolvente pois as malhas urbanas escrevem a história através da sua organização e dos elementos morfológicos que as compõem;
  • Estudar também as peças móveis que compreende, pois poderão revelar muito da sua história;
  • Entre outras tantas características fundamentais, que podemos ver descritas nas páginas 53 a 55 deste texto.

Assim é essencial, e a lei a tal o obriga, a que haja uma equipa pluridisciplinar numa intervenção deste tipo. Esta deverá conter especialistas nas áreas de:

  1. Conservação
  2. História
  3. História da arte
  4. Arquitectura
  5. Paisagismo
  6. Ordenamento do território e planeamento urbano
  7. Arqueologia, diversos campos da engenharia
  8. Geologia
  9. Mineralogia
  10. Química
  11. Decisão política

Porem, a visão terá de ser de conjunto, pois cada especialidade em particular nem tem capacidade de compreender a globalidade.

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Quando se trata de um processo de requalificação urbana, ou seja, quando a escala se altera, e começamos a trabalhar com um conjunto de edificações, os pontos referidos nos parágrafos anteriores serão tidos em conta adequadamente.

A equipa pluridisciplinar é mais importante que nunca, a caracterização e o diagnóstico do existente são fundamentais para um trabalho correcto e funcional.

Logo, podemos seguir os seguintes passos, para conhecimento do lugar:

1o ] Criar e estudar a informação de base em planeamento, ou seja, procedimentos de recolha e tratamento, fontes estatísticas e cartográficas.

  • Leitura sectorial, análise e síntese integrada: suporte físico, demografia, habitação, actividades económicas e emprego, estrutura funcional, sistema de circulação e transporte (acessibilidade e mobilidade na cidade), o estacionamento, equipamentos colectivos, redes de infra-estruturas, história e património (edificado e natural). O espaço público e o espaço construído

2o] Estudar os usos do solo urbano, portanto, as tipologias e a organização espacial:

  • Funções: habitação, trabalho, cultura, lazer.
  • Usos: espaços centrais, espaços consolidados, espaços de expansão urbana, áreas de reconversão e de renovação urbanas, áreas industriais, os espaços canais e interfaces de transporte, as grandes infra-estruturas de saneamento (ETAR’s, Reservatórios, ETA ́s…), os espaços de uso especial (defesa, lazer, turismo…), os espaços de equipamento da cidade.

Os espaços não urbanos de reserva, de protecção, de enquadramento…).

Conclusão, no início de cada processo, não poderá ser descorada uma leitura exaustiva da área em estudo: do que existiu, do que existe, e do que está planeado para existir.

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Podemos, então, resumir o processo em 3 grandes fases, seja ele relacionado com um edifício isolado ou com um conjunto urbano:

1o] A análise do existente [estudar a envolvente para alem do edifício(s), a concepção do espaço, o sistema construtivo, o sistema estrutural, os construtores, as alterações realizadas ao longo da história], a leitura aprofundada do imóvel, ou conjunto, baseada na exploração arqueológica e arquitectónica, e o diagnóstico do problema;

2o] A identificação e a delimitação das coordenadas para a intervenção;

3o] Por fim, a própria intervenção que não poderá nem desvirtuar nem inutilizar as preexistências [esta deverá explicar o conceito intervencionista, as recomendações e cartas seguidas, os materiais e opções construtivas e os exemplos estudados].

Para melhor compreensão deste ponto 7, passa-se a analisar uma proposta para um plano de urbanização. Foi escolhido um plano de urbanização, ou seja, um conjunto edificado, pois é mais abrangente e está directamente relacionado com a 2a parte deste estágio. Este plano nunca teve força de Lei, mas é exemplar pelo seu cuidado e atenção, pela sua representação facilitadora, pelos detalhes, pela organização.