A construção de muros em alvenaria seca tem quatro regras que são tão básicas que se podem aplicar a quaisquer situações. São as seguintes:
- Colocar as pedras maiores na base, excepto as pedras de travação e as pedras de capeamento.
- Desencontrar (quebrar) as juntas.
- Manter o interior preenchido.
- Compactar o muro, empregando o compactador correcto para cada tipo de pedra.
As técnicas de construção que se baseiam nestas regras são virtualmente as mesmas, quer o trabalho seja executado por uma pessoa, por um par ou por um grupo.
Mas o trabalho de um par ou de um grupo envolve algumas considerações adicionais conforme indicadas a seguir.
A sequência de trabalho abaixo aconselhada é descrita em pormenor nas secções que se seguem.
Por simplicidade, assume-se que o muro está ao nível do terreno e que as suas extremidades já estão constituídas nas cabeças.
Os problemas envolvidos na construção das cabeças e na construção em terreno inclinado serão discutidos mais tarde.
Para se construir um muro em alvenaria seca:
- Alinhar, sanear e cavar a totalidade da trincheira de fundação.
- Dispor o aprovsionamento de pedras ao longo da trincheira, deixando espaço para se trabalhar.
- Assentar as pedras de base (pedras de fundação) ao longo de toda a trincheira. Colocar o preenchimento entre elas ao mesmo tempo que se vai progredindo no trabalho.
- Assentar a mestra inclinada ou os barrotes suficientes para o dia de trabalho estimado. Colocar os cordéis de alinhamento a cerca de 300 mm acima do nível do terreno.
- Construir as fiadas até ao nível dos 300 mm, em conformidade com as quatro regras básicas de execução acima referidas.
- Subir os cordéis para a altura da base da primeira fiada de pedras de travação, habitualmente à volta dos 600 mm acima do nível do terreno, mas proporcionalmente mais baixa para um muro baixo, ou no caso de se terem previsto as três fiadas de travação.
- Construir as fiadas até aos cordéis, deixando-as niveladas pelo exterior para receberem as fiadas de travação. Seguir as regras básicas em todas as fiadas.
- Assentar a primeira fiada de travação.
- Se tiver sido planeada uma segunda fiada de travação, subir os cordéis de alinhamento até ao nível da base dessa fiada, geralmente a cerca de 1,00 m ou 1,20 m acima do nível do terreno. Se não tiver sido prevista, avançar para o passo 16.
- Se for necessário movimentarem-se mais pedras para onde possam ser facilmente alcançadas, agora é uma boa altura para o fazer. Mas devem ser deixadas à parte pedras adequadas para serem usadas mais tarde.
- Construir as fiadas até aos cordéis de alinhamento e nivelá-los para a segunda fiada de travação. Seguir as regras básicas em todas as fiadas.
- Assentar a segunda fiada de travação.
- Subir os cordéis de alinhamento até ao nível da base de terceira fiada de travação, se esta for para ser construída. Senão avançar para o passo 16.
- Assentar a terceira fiada de travação.
- Subir os cordéis para o nível da última fiada, ou seja para a altura do muro sem as pedras do capeamento.
- Construir as fiadas até aos cordéis e deixá-las niveladas para receberem as pedras do capeamento.
- Normalmente, as pedras do capeamento são colocadas depois de todo o muro ter sido levado até ao cimo, pelo que devem ser repetidos os passos 4 a 17 até isso ser feito. No entanto, se as peças do capeamento forem compridas ou quando o muro tiver que ser deixada por acabar durante algum tempo, vale a pena colocar-se o capeamento por troços mais curtos sobre as partes acabadas para se protegerem estas. O método usado vai depender do estilo das peças de capeamento.
- Limpar tudo no final do dia de trabalho, e transferir as pedras que não foram usadas para a secção de muro que vai ser construída a seguir. Deixar o extremo do muro com as fiadas formando degraus, a menos que se tenha acabado a secção numa cabeça, para que assim o trabalho do dia seguinte consiga ligar-se bem.
A Fundação
Um muro é tão bom quanto o for a sua fundação. Bases fracas são a origem dos colapsos mais graves, e nenhum cuidado na construção para cima, por maior que for, consegue corrigir os problemas da base. Uma fundação adequada:
- Proporciona uma base estável para o resto do muro. Com uma ou duas toneladas de pedra por cada metro de comprimento de muro, a fundação deve ser adequadamente larga, sólida e firme para resistir aos assentamentos diferenciais.
- Mantém o preenchimento firme no centro do muro. De outra forma ele tende a ser deslavado ou a assentar.
- Permite que a água drene para fora da base do muro, minimizando as perturbações consequentes do congelamento.
- Evita a erosão do terreno por baixo do muro em consequência do escorrimento da água proveniente das chuvas ou do degelo da neve, o que pode provocar subsidiência.
Alinhamento
Seguir este procedimento:
- Remover as plantas lenhosas, os tufos de vegetação e as pedras do alinhamento do futuro muro. Não é necessário incomodarmo-nos a tentar remover os pedregulhos solidamente assentes no terreno.
- Marcar uma das faces da futura trincheira da fundação. Esticar um cordel de alinhamento em nylon entre duas estacas ou varões de metal colocados nas extremidades.
- Esticar um segundo cordel de alinhamento paralelo ao primeiro, conforme a largura correcta para a futura trincheira. Esta deve ter cerca de 300 mm a mais do que a largura especificada para a fundação, de forma a garantir espaço de manobra a permitir ajustamentos.
4. Marcar o terreno ao correr das duas linhas. Para isso, ficamos de frente para a linha, segurando verticalmente uma pá de valador 9 com as costas da lâmina contra o cordel e paralelamente a este. Empurrar a pá a direito e para baixo até à profundidade estimada para a trincheira, usando o pé, se necessário. Fazer isto ao longo da linha toda.
5. Escavar a trincheira até ao subsolo firme ou até à rocha. Esta está geralmente a uma profundidade entre os 100 mm e os 310 mm, sendo a média 150 mm. As pedras da base, a menos que tenham que ser usadas pedras com grandes dimensões, devem aproximar-se mas não sobressair do nível do terreno. Devem-se cortar os lados da trincheira na vertical, de outra forma pode-se ter problemas com a colocação das pedras de base.
Aprovisionamento
Dispor o aprovisionamento de pedras para o trabalho de um dia ao longo da trincheira de fundação e a cerca de um metro de distância desta. Isto minimiza os percursos e os carregamentos mas, ao mesmo tempo, proporciona espaço para trabalharmos sem pedras debaixo dos pés.
Colocam-se algumas pedras adicionais um pouco mais longe, em vez de se empilharem, para que se possam observar e serem decididas as selecções entre as muitas pedras possíveis.
Colocam-se pedras para os muros e para os enchimentos de ambos os lados da trincheira, a menos que se prefira trabalhar apenas de um lado, caso em que se colocam as pedras todas do lado preferido.
Se a descarga e a arrumação forem feitas à mão, pode-se ir seleccionando grosseiramente as pedras conforme se vai trabalhando, tal como quando se desmonta um muro existente para ser reparado.
Neste caso, guardam-se as pedras de travamento e de capeamento de um lado e um pouco para trás das outras pedras.
Não se deve ter o incómodo de seleccionar pedras que já estão no chão, pelo que basta ter debaixo de olho as que irão dar bons travamentos ou capeamentos e evitar-se usá-las noutros sítios.
Colocação das pedras de base
- Usam-se as pedras maiores na fundação, excepto aquelas que irão dar bons travamentos ou capeamentos, ou que queremos reservar para os cunhais, para as passagens para ovelhas, etc.
Embora seja melhor usarem-se pedras que se aproximem mas que não ultrapassem o nível do terreno, se tivermos que usar pedras muito grandes, é preferível usá-las aqui do que a um nível
superior onde teriam que assentar em cima de pedras menores.
Se o fundo da trincheira da fundação for um leito rochoso irregular, constrói-se um leito regular para as pedras de base, usando pedras planas mais pequenas, apertadamente espaçadas.
Se o leito rochoso estiver a poucos centímetros abaixo do nível do terreno, não nos devemos preocupar em usar pedras de base grandes, mas assentar apenas a primeira fiada de pedras do muro directamente no leito preparado.
Neste caso o leito rochoso funciona como se fosse uma fundação.
- Assentar as pedras de base em duas linhas paralelas ao longo da trincheira de fundação, com os respectivos lados mais compridos virados para o interior do muro e nunca ao correr da face deste.
As pedras assim colocadas dificilmente se deslocam quando tiverem carga em cima, enquanto que as pedras colocadas ao correr do muro podem rodar facilmente para fora da sua posição.
No entanto, as pedras de base muito grandes podem ter que ser colocadas ao correr da face do muro para se evitar o alargamento da trincheira ou a sua interferência com as pedras de base do outro lado.
- Garantir que todas as pedras assentam sobre um bom leito ou uma boa pedra de base. Verificar a sua estabilidade. Elas não devem necessitar de serem faceadas, uma vez que algumas pedras faceadas podem-se inclinar ou escorregar facilmente quando muro assentar.
Devem-se evitar pedras de base arredondadas, uma vez que é difícil construir-se firmemente em cima delas.
Em cada pedra de base escolhe-se a face mais regular, ou aquela que faça mais aproximadamente ângulos rectos com o leito, para ser usada na face exterior.
Deve-se continuar a fazer o mesmo com as pedras de face, nas fiadas sucessivas. Uma face exterior regular tem boa aparência e desencoraja a escalada, tal como as faces interiores irregulares casam melhor com os enchimentos.
- Deixam-se, pelo menos, 25 mm entre as arestas interiores das pedras de base para se promover a drenagem através do muro.
Normalmente, este espaço fica um pouco maior por causa das irregularidades das pedras.
- Preenche-se o espaço entre as duas fiadas de pedras de base com enchimentos irregulares de drenagem livre.