Introdução ao Fenómeno Financeiro
Como aspecto da realidade e objecto científico das finanças, há que caracterizar, pois, o fenómeno financeiro. Ele representa, talvez do modo mais significativo e expressivo, o estado das relações económicas entre as pessoas e instituições sociais, por uma lado, e o Estado do outro, com o seu estudo contem a visão mais concreta e insofismável das tarefas e das funções que, com prioridade, o poder público concretamente desenvolve numa sociedade, por vezes bem diferente a das proclamações políticas, das conceções ideológicas e, até, de certas visões superficialmente cientificas.
Poucos campos melhor do que este são uns verdadeiros termómetros das relações concretas entre o poder e a sociedade que o íntegra, bem como das tarefas e funções que esta leva o poder a desempenhar, e do modo como os grupos, estratos ou classes sociais se situam perante o poder, beneficiando dos seus gastos ou suportando o respectivo custo.
A evolução do Fenómeno Financeiro
O conteúdo da teoria financeira encontra-se em processo de rápida transformação. Nos últimos 50 anos ocorreram mudanças notáveis na teoria e na prática das finanças empresariais. Nesse período, o ritmo acelerado da inovação na relação – teoria e prática – em finanças tornou-se mais dinâmico, sistemático e científico. Porém, todo esse arsenal teórico é o resultado da consolidação de estudos e pesquisas que vem evoluindo ao longo dos tempos, e contou com a colaboração dos pioneiros nos estudos e pesquisas financeiras desde o início das civilizações.
A Idade Antiga
Nos povos antigos, a preocupação com finanças surgiu em meio às reflexões filosóficas, que se ocupavam dos preceitos morais e religiosos e nas tarefas diárias.
A riqueza, a distribuição da renda, a posse de escravos e de bens, os recursos financeiros das famílias e dos governos, a atividade comercial, os empréstimos, a tributação, a cobrança de juros, a valoração das mercadorias para troca nos sistemas de escambo e na adoção de moedas, o fundamento dos preços, a interferência governamental no mercado e outras questões, impulsionaram o estudo de finanças.
Os registros daquela época relatam que a atividade financeira e comercial não era vista com “bons olhos” pela sociedade que, de um modo geral, condenava a riqueza individual, que era vista com desconfiança, pois acreditavam que o dinheiro servia para reforçar a divisão social e subverter a retidão moral dos indivíduos.
A religião controlava e determinava o comportamento coletivo, influenciava a ação dos governantes, impondo leis e regulamentos em todos os aspectos da sociedade, inclusive o financeiro.
Segundo (Prof. Dr. Alberto Borges Matias; Zípora de Campos Freitas), em meio a todas as civilizações que existiam na época, pode-se observar a preocupação com questões financeiras entre árabes, persas, japoneses, egípcios, como também:
- Os hindus, que criaram as leis que regulavam os preços, intervindo no mercado com o propósito de determinar um preço justo para cada bem. O pensador hindu Kautylia, 300 a.C. em sua obra Artaçastra, escrita em sânscrito, retrata o pensamento financeiro da época;
- Os judeus, que sofriam a regulamentação da religião sobre as finanças familiares.
- Os pensadores e os filósofos chineses acreditavam que a riqueza dos povos dependia do desenvolvimento individual, e o controle e a interferência governamental na sociedade, nos assuntos financeiros, levava ao empobrecimento.
- Os gregos, cujo desenvolvimento comercial interferiu na estrutura do poder em Atenas. Antes do desenvolvimento do comércio, o poder pertencia aos herdeiros nobres, que era adquirido através do nascimento ou da propriedade da terra.
Depois da evolução das relações comerciais, o poder passa a ser constituído assembléia formada por cidadãos. A atividade financeira daquela época foi cogitada por Xenofonte (430 ou 445-352 a. C), em seu trabalho sobre empréstimos e rendas de Atenas e de suas minas de prata. Além dele, outros pensadores discorreram sobre aspectos financeiros da Grécia como Aristóteles (384-322 a C), Plínio (62-120), Tácito (55-120), Cícero (107-42) entre outros;
A Idade Média
Na Idade Média, o cristianismo influenciou o comportamento humano e estabeleceu procedimentos em relação a Finanças.
A Igreja Católica, em seus mosteiros, desenvolveu estudos relacionados a assuntos financeiros, sendo a escassez das rendas patrimoniais dos príncipes, a tributação e a constituição do tesouro como reserva para os maus dias, alguns dos assuntos tratados nas obras do teólogo São Tomas de Aquino (1226-1274).
Mateo Palmieri (1405-1475) fez um estudo sobre empréstimos e proporcionalidade de tributos contra critérios progressivos; outros pensadores apresentaram em suas obras, fragmentos de estudo de finanças, como Antônio de Firenze (1389-1459) e Bernardino de Siena, que defendiam o acúmulo do tesouro.
A Igreja influenciava todas as decisões, mas com o crescimento das cidades estas passaram a adquirir autonomia, ocasionando a necessidade de se criar uma regulamentação nas transações comerciais. Surgiram então leis específicas que tratavam de contratos, instrumentos, operações e títulos financeiros, bem como, instituições de crédito e de leilões que propiciaram uma evolução nas transações financeiras.
A Era Moderna e de Renascença “Séc. XX”
No final do século XIX as obras europeias constituíam a fonte de teorias financeiras e se refletiam nas políticas, economias, e nas organizações.
Edwin Selegman (1861-1934) contribuiu influenciando o pensamento europeu com suas pesquisas financeiras. No início do século XX, o volume de obras, descrevendo a ciência de finanças, acumulava quantidade e complexidade de teorias que foram consolidadas ao longo do tempo e que, na visão de alguns pensadores da época, dificultavam o estudo de finanças.
De um lado, professores como Calkins e Bosland, afirmavam que os elementos analíticos não necessitavam de material descritivo para a tomada de decisão; defendiam que o estudo de finanças deveria dedicar-se apenas a orientar as funções do administrador financeiro.
Por outro lado, cientistas financeiros, acreditavam que se deveria desenvolver uma base teórica, dar ênfase aos instrumentos financeiros, sua utilização, não devendo o estudo restringir-se apenas à empresa e sim ao universo de estudo de todo o sistema financeiro composto por: instituições governamentais, instituições não financeiras, investidores e pelo comportamento de todos os elementos envolvidos nas questões financeiras de modo geral, além da empresa, e de outros aspectos não abordados pelo administrador financeiro.
A divisão do estudo fez com que a ciência das finanças, concentrasse seus estudos, a partir daí, nos aspectos operacionais, ou seja, na função financeira. Desde então, as universidades norte-americanas contribuíram imensamente para o progresso da teoria de finanças.
Tendências na Área de Finanças
As empresas estão se adequando às novas condições mercadológicas e precisam agir rapidamente, adotando estratégias com base numa visão global do mercado em vários aspectos. Para que isso ocorra, é necessário ter uma mentalidade global, sendo esse o maior desafio do administrador que terá que conquistar a confiança dos investidores, acionistas, governos, parceiros e consumidores, e principalmente atingir os resultados esperados na geração de valor.
A criação do valor é sem dúvida o principal objetivo das empresas e nesse aspecto dominar finanças torna-se primordial. O mundo financeiro vem se globalizando velozmente com a desregulamentação crescente do mercado financeiro. Hoje as riquezas são globais e a teoria de finanças, como sempre, buscará soluções práticas para questões financeiras.
Sendo assim, os agentes pretendem entender cada vez mais como funciona o mercado, buscando transparência nas relações mercadológicas, as quais dependem da harmonização dos padrões contábeis. (Prof. Dr. Alberto Borges Matias; Zípora de Campos Freitas) A teoria financeira tende a preocupar-se com os preços dos ativos, buscando analisar os fluxos de caixa futuro e fatores de desconto, uma vez que a observação apenas do fluxo de caixa pode refletir apenas instabilidades comuns e não uma integração.
Dessa forma, notamos que, as mudanças no mercado financeiro ocorrerão rapidamente, sendo que muitas questões serão levantadas em relação ao papel dos governos, as relações comerciais, as crises especulativas e a alavancagem financeira descolada da economia real.
Nesse contexto, certamente a teoria financeira surgirá como um instrumento facilitador da administração e alocação de recursos oferecendo soluções alternativas assim como vem ocorrendo desde o início das civilizações.