O papel da cultura na luta de libertação nacional em Cabo Verde

O papel da cultura na luta de libertação nacional em Cabo Verde

“A luta de libertação nacional é, necessariamente, um acto de cultura e um factor cultural”. – Amílcar Cabral

A história do colonialismo demostra que o país colonizador para manter o seu domínio não só pratica a repressão das manifestações culturais do povo colonizado como também impõe a sua cultura, através da assimilação e da alienação cultural dos indígenas. A opressão cultural, revela-se, portanto, como um acto indispensável para a manutenção da dominação e da exploração.

Perante esse facto, Amílcar Cabral considera que “se o domínio imperialista tem como necessidade vital praticar a opressão cultural, a libertação nacional é, necessariamente, um acto de cultura”, porque é uma luta não apenas para a conquista da independência mas também de negação da cultura do opressor e pela preservação e afirmação dos valores culturais do povo. Assim, “uma sociedade que se liberta do jugo colonial retoma os caminhos ascendentes da sua própria cultura”.

Sobre o papel da cultura na luta de libertaçăo nacional, Cabral defende que a cultura é a verdadeira base do movimento de libertação nacional. Na opiniăo dele, é a partir do conhecimento concreto da realidade, principalmente da realidade cultural, que se torna possível escolher, estruturar e desenvolver os métodos mais adequados para a luta. Ele esclarece que a atitude e o comportamento dos indivíduos e dos grupos face à luta é influenciado pela cultura. Por isso,  a compreenssăo, a mudança e o desenvolvimento da cultura das populações constitui, desta forma, o ponto de partida e a garantia do sucesso para a luta de libertação nacional. Ele sublinha ainda, que a cultura é um factor de mobilizaçăo do grupo, sendo esta uma etapa importante para o desenvolvimento da luta.

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Encarada, de resto, como manifestação genuína da cultura e como acto de cultura, a luta de libertação nacional não só se fundamenta e se inspira na cultura como influencia esta última. Esta influência se reflete de forma mais ou menos evidente, quer na evolução do comportamento das categorias sociais e dos indivíduos, quer no desenrolar da própria luta. Tanto os dirigentes do movimento de libertação como as massas populares melhoram o seu nível cultural: maior conhecimento das realidades do país, libertação dos complexos e preconceitos de classe, destruição das barreiras étnicas, reforço da consciência política e da identidade cultural. Além disso, a luta contribui para o progresso cultural: eliminação dos valores culturais (costumes, crenças, mitos, tabus, etc.) que atrasam o avanço da luta e do progresso, resgate e desenvolvimento das manifestações culturais anteriormente marginalizadas, a alfabetizaçăo, a formaçăode quadros, entre outras modificações profundas que a luta opera na vida das populações. Demostra-se assim que “a luta de libertação nacional não é apenas um acto de cultura, é também um factor de cultura”.

Ainda no seio da sociedade colonizada, as influências culturais da luta refletem-se no desenvolvimento e/ou consolidação da consciência nacional: reforço do espirito de solidariedade e laços entre as classes, respeito mútuo dos grupos unidos e identificados na luta e num destino comum face ao domínio estrangeiro.

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Também a luta provoca uma mudança cultural na mentalidade metropolitana, que se traduz no reconhecimento de uma identidade e uma cultura próprias do povo colonizado e, portanto, do seu direito inalienável à autodeterminação e à independência. Desta forma, o povo colonizador acaba por libertar-se de um elemento negativo da sua cultura: o preconceito da supremacia da nação colonizadora sobre a nação colonizada.

A luta de libertação, que é mais complexa expressão do vigor cultural do povo, da sua identidade e da sua dignidade, enriquece a cultura e abre-lhe novas perspectivas de desenvolvimento.

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