Como vimos anteriormente, as noções de hiponímia e hiperonímia são usadas para tratar da relação entre dois conceitos: um mais elaborado (ou específico), outro mais esquemático (ou genérico).
Assim, por exemplo, os conceitos de [LARANJA], [MAÇÃ], [MAMÃO], [MELANCIA] são conceitos bem elaborados quando comparados ao conceito de [FRUTA]. Dizemos, então, que [LARANJA], [MAÇÃ], [MAMÃO], [MELANCIA] são hipônimos de [FRUTA], e dizemos que [FRUTA] é hiperônimo de [LARANJA], [MAÇÃ], [MAMÃO], [MELANCIA].
Como já visto, os membros de uma categoria hipônima são também membros da categoria hiperônima. Ou seja, podemos dizer que as categorias hipônimas (MAÇÃ, MELANCIA) estão contidas dentro da categoria hiperônima (FRUTA).
Isso faz sentido intuitivamente, porque sabemos que há mais frutas no mundo do que melancias e maçãs. As frutas incluem as melancias e maçãs e ainda todas as bananas, jacas e abacates!
A categoria FRUTA é maior, mais inclusiva, justamente porque o conceito [FRUTA] é mais genérico, menos restritivo. Em outras palavras, é mais difícil ser uma banana do que ser uma fruta (porque uma banana tem mais atributos).
Mas se os conceitos [MAÇÃ]. [BANANA] e [MELANCIA] são conceitos mais elaborados (mais específicos) do que o conceito [FRUTA], isso acontece em parte porque eles incluem o conceito [FRUTA] entre seus atributos.
Vejam que o conceito [FRUTA] é uma das propriedades que define os conceitos de [MAÇÃ], [MELANCIA], etc.:
- [FRUTA] {vegetal, comestível, doce, contém sementes … }
- [MAÇÃ] {[FRUTA], redonda, do tamanho do punho, meio ácida…
- [MELANCIA] {[FRUTA], oblongo, verde por fora, aguado por dentro … }
Resumindo: a categoria FRUTA (a categoria hiperônima) inclui a categoria MAÇA (a categoria hipônima); o conceito [MAÇÃ] (o conceito hipônimo) inclui o conceito [FRUTA] (o conceito hiperônimo).
Vamos ver agora como as noções de hiperonímia e hiponímia podem ser usadas entre sentenças. Vamos começar com o seguinte par de sentenças:
A. O João deu uma rosa para a Maria.
B. O João deu uma flor para a Maria.
Notem que, na sentença A, temos a palavra ‘rosa’, e na sentença B, temos a palavra ‘flor’. Uma rosa é uma flor, não é? (Ou em outras palavras, ‘rosa’ é um hipônimo de ‘flor’).
Bem, então podemos dizer que se é verdade que o João deu uma rosa para a Maria, então é verdade que o João deu uma flor para a Maria. Certo? (Porque a rosa que ele deu também é uma flor!).
Podemos também dizer que se é mentira que o João deu uma flor para a Maria, então é também mentira que o João deu uma rosa para a Maria. Concordam? (Porque se ele não deu nenhuma flor, ele não pode ter dado uma rosa.).
Nesse caso, dizemos, então, que a sentença A acarreta a sentença B.
Podemos dizer também que há acarretamento entre as sentenças A e B.
Acarretamento é uma relação semântica que se estabelece entre um par de sentenças, que se verifica nas seguintes condições: quando a sentença A for verdadeira, a sentença B também será verdadeira; e quando a sentença B for falsa, a sentença A também vai ser falsa. Vamos analisar um outro par de sentenças:
A. Eu comi uma fruta hoje de manhã.
B. Eu comi uma banana hoje de manhã.
Será que a sentença A acarreta a sentença B? Vamos ver: se é verdade que eu comi uma fruta hoje de manhã, é necessariamente verdade que eu comi uma banana hoje de manhã? Certamente não! Afinal, eu posso ter comido um mamão, uma maçã, uma laranja, ou qualquer outra fruta.
Também, se é falso que eu comi uma banana hoje de manhã, é necessariamente falso que eu comi uma fruta hoje de manhã? Também não. Se eu tiver comido uma maçã, eu comi uma fruta, não é?
Vejam então que existe acarretamento quando a sentença A contém um hipônimo e a sentença B contém seu hiperônimo. Quando a sentença A contém o hiperônimo e a sentença B contém o hipônimo, não há acarretamento.
Mas, nem sempre a situação é fácil assim. Às vezes, temos que decidir se há ou não acarretamento entre sentenças sem que elas apresentem um par de hipônimo-hiperônimo tão claro como nos exemplos acima. Considerem o seguinte par de sentenças:
A. O João tirou 10 na prova.
B. Alguém tirou 10 na prova.
Será que existe acarretamento entre essas sentenças? Vamos fazer o raciocínio indicado acima: se é verdade que o João tirou 10 na prova, é verdade que alguém tirou 10 na prova, não é? Ao mesmo tempo, se é falso que alguém tirou 10 na prova (ou seja, se ninguém tirou 10 na prova), é igualmente falso que o João tirou 10 na prova.
Podemos então dizer que a sentença A acarreta a sentença B.