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Análise das Técnicas de Construção Pombalina e Apreciação do Estado de Conservação Estrutural do Quarteirão do Martinho da Arcada

Resumo

A Baixa Pombalina representa um conjunto arquitectónico e cultural de elevada importância para Lisboa e para Portugal, que continua, ainda hoje, pouco estudado.

As alterações sucessivas introduzidas nos edifícios que a compõem, têm conduzido a algumas modificações consideráveis que, não provocando grandes modificações nos aspectos arquitectónicos exteriores, podem comprometer o seu comportamento sísmico.

O presente estudo refere-se levantamento estrutural do quarteirão do Martinho da Arcada, no Terreiro do Paço, focando, numa breve análise, alguns pontos críticos do seu estado de conservação.

Introdução Histórica

A localização de Lisboa à beira rio e à beira mar, com fauna e flora ricas, a água em abundância, colinas e vales com excelente exposição solar, são condições que favoreceram, desde sempre, a fixação humana.

Lisboa foi habitada por povos Neolíticos, pelos Celtas (séc. VIII-VII a.C.), pelos Cartagineses (séc. V a.C.), pelos Fenícios e os Romanos (princípios do séc. II a.C.).

Mais tarde vieram os Bárbaros e em 711 chegaram os Mouros que ali permaneceram até 1147 (não esquecendo também os povos que tentaram saquear Lisboa: suevos, alanos, silingos e visigogos).

Em 1147 Lisboa foi tomada por D. Afonso Henriques e as suas tropas. A cidade expandiu-se e D. Afonso III, em 1256, faz de Lisboa a capital do reino.

Em 1775, no dia de todos os Santos, num curto espaço de tempo, um violento terramoto, um maremoto e um incêndio formaram a maior catástrofe que Portugal, e talvez a Europa, conheceram até hoje, capaz de destruir uma cidade.

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O violento sismo que abalou Lisboa, atingindo a intensidade X da escala de Mercalli, Pereira de Sousa (1928), foi difundido por todo mundo, tornou-se o símbolo do poder destruidor dos terramotos e foi o primeiro sismo a ser estudado mais profundamente, do qual existem muitos resultados de observação dos seus efeitos macrossísmicos.

O sismo foi de tal forma violento e extenso que chegou a ser sentido, não só em todo Portugal, como em toda a Europa.

O epicentro do sismo localizou-se no Banco de Gorringe, a uma profundidade de 30 m e muitas réplicas foram sentidas nos dias seguintes, tendo sido registrados mais de 500 abalos até Setembro de 1756, França (1987).

Segundo Moreira de Mendonça, o sismo destruiu 10% dos edifícios, danificou 60% e poupou os restantes 30%, sendo os edifícios de maior altura os mais sacrificados.

Os escombros resultantes dos edifícios caíram para as ruas causando mais vítimas e dificultando a prestação de socorros. Uma enorme poeira levantou-se no ar, tornando-o irrespirável.

Pereira de Sousa (1928) concluiu também que as construções que sofreram maiores danos foram as que se situavam em zonas de aterros, aluviões e areolas, como o edifício da Alfândega, o Palácio da Inquisição ou o Hospital Real de Todos os Santos.

Contrariamente, os edifícios construídos sobre zonas calcárias e basálticas sofreram menores danos resistindo quase intactos aos abalos, como o Palácio das Necessidades, o Convento dos Capelinhos Italianos ou o Aqueduto das Águas Livres.

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De facto, Lisboa situa-se junto à falha do Vale Inferior do Tejo e do Gargalo do Tejo, encontrando-se também dentro da área onde o epicentro dos sismos se encontram nas zonas de grande potencialidade tectónica.

As mesmas zonas de aluviões e terrenos menos consolidados em Lisboa são aquelas que, na ocorrência de um sismo destrutivo, sofrerão intensidades mais elevadas.

Um estudo mais recente, Costa Nunes (1994), prova que no caso de um sismo de magnitude moderada ou forte, com epicentro nas regiões que mais afectam Lisboa, é de esperar um aumento das amplitudes na banda dos 4 a 6 Hz, nas zonas dos aluviões.

O incêndio que se seguiu ao terramoto com a duração de seis dias, destruiu inúmeros bens preciosos e riquezas incalculáveis. A origem do incêndio é incerta.

Alguns escritos atribuem a sua origem ao derrube das chaminés e à dispersão das matérias inflamáveis, outros atribuem-na ao facto do terremoto ter ocorrido no dia de Todos-os-Santos e as igrejas estarem iluminadas com velas de cera.

Os efeitos geológicos do terramoto, segundo Pereira de Sousa (1928), limitaram-se unicamente a quebradas ou aberturas de fendas no solo, algumas vezes com saída de areia e água e por modificações nas nascentes.