Lidando com rebocos exteriores de cimento inadequados
A maior parte do aconselhamento técnico dado pela SPAB através da sua linha telefónica de consulta, respeita ao “que não se deve fazer” a propósito de trabalhos bem intencionados, mas mal concebidos, executados em edifícios históricos durante os últimos 30 anos, ou perto disso.
Tais trabalhos envolvem frequentemente a substituição de rebocos de cal, em paredes exteriores, por revestimentos modernos à base de cimento, extremamente inadequados, que são origem de uma potencial bomba relógio a deflagrar durante as próximas décadas.
P. Porque é que um reboco exterior moderno à base de cimento pode ser inadequado num edifício antigo?
R. Porque é incompatível com a construção da maioria dos edifícios antigos e pode provocar ou acelerar uma séria degradação.
Os edifícios modernos geralmente dependem de uma camada exterior e de cavidades impermeáveis para manterem fora a humidade. Pelo contrário, os edifícios antigos tendem a confiar em materiais naturalmente porosos (“respirabilidade”) para permitir que a água absorvida pela alvenaria se evapore de novo.
O uso de um reboco impermeável de cimento Portland, em vez de um revestimento tradicional à base de cal, restringe a evaporação.
Formam-se fissuras capilares porque o reboco é mais rígido do que a parede. Estas fissuras vão então deixar passar água, a qual fica retida na alvenaria.
Os edifícios estruturados em madeira ou construídos em “terra”, em particular, podem sofrer danos estruturais importantes, se a humidade se acumular atrás de um reboco de cimento.
P. Como é que se consegue ver que foi usado um reboco de cimento inadequado ?
R. Se um edifício for datado anteriormente a 1800, o reboco original é provavelmente de cal vulgar (não hidráulica [N. T. aérea]) ou de cal naturalmente hidráulica, as quais têm uma presa química fraca.
Os rebocos à base de cal proporcionam um efeito estético diferente dos rebocos cimentícios.
Apesar de existir um grande número de acabamentos para cada um deles, os últimos têm uma aparência mais uniforme, e as suas arestas e pormenores são mais definidos.
As suas características de exposição aos elementos também são diferentes. Os rebocos de cimento soltam-se em placas e destacam-se das paredes, enquanto que os revestimentos à base de cal vão sofrendo uma erosão gradual, de forma mais suave.
P. Quer isso dizer que o reboco de cimento da minha casa, anterior ao século XIX, deve ser removido?
R. Não necessariamente. Apesar de que a acção curativa ideal envolveria essa remoção, esta pode causar maiores danos na alvenaria. Deve-se, portanto, remover uma pequena área, para
experiência.
Onde o reboco estiver bem aderido, é provavelmente melhor deixá-lo actuar naturalmente. Por vezes, pode ser possível um compromisso, talvez por remoção do reboco na base das paredes ou dos bocados que soem a oco, onde se tenha verificado uma deterioração localizada.
P. Qual é o melhor método de remoção?
R. Os rebocos de cimento conseguem ser removidos, por vezes, batendo-se na sua superfície com um martelo, auxiliado, onde necessário, por um escopro.
Deve-se usar de muito cuidado. Se forem levantadas grandes placas, os materiais fracos que estão por trás podem ser seriamente danificados.
Existem diversas ferramentas mecânicas que podem ser adequadas, mas apenas em mãos experientes.
P. Depois de removido, o reboco deve ser reposto?
R. Sim, geralmente é um erro não se repor o reboco. Há boas hipóteses de que o edifício fosse originalmente rebocado. Mesmo que não o tivesse sido, a aplicação de um reboco pode ter sido feita numa data longínqua, por se ter tornado necessário como protecção contra o tempo.
Quando se removeu um reboco de cimento, a aplicação do novo reboco deve ser atrasada durante um curto período, para permitir a secagem, caso a camada de base esteja saturada.
Adicionalmente, quaisquer áreas degradadas da camada de base devem ser saneadas antes da aplicação do novo reboco, para evitar uma sua deterioração precoce.
P. Com o que é que devo substituir o reboco inadequado de cimento?
R. Geralmente por um reboco de cal, brando e poroso, sem qualquer adição de cimento. É importante que o reboco seja aplicado por alguém familiarizado com os materiais baseados em
cal. A SPAB está em condições de aconselhar empreiteiros competentes ou cursos.
Enquanto que um reboco não hidráulico pode ser apropriado em certas circunstâncias, em muitos casos pode ser desejável uma composição de presa mais rápida e mais resistente.
Isto pode ser conseguido pela adição de pozolanas (materiais tais como a poeira de tijolo brando e mal cozido) ou pelo uso de cal hidráulica natural sem aditivos (as cales hidráulicas fortes,
contudo, devem ser evitadas).
Podem ser usadas composições que tenham presa hidráulica para remendar paredes onde só se conseguiram remover parcialmente os rebocos de cimento inadequados.
As resinas epoxi devem ser evitadas.
P. Com o que é que devo pintar ou tratar o reboco?
R. Normalmente o mais apropriado é uma caiação tradicional. A sua mais elevada permeabilidade à água irá permitir à parede respirar.
Tal como com os rebocos cimentícios, os sistemas de pintura modernos têm geralmente uma porosidade baixa e existe o risco de que a humidade fique retida atrás deles. Por razão similar, a aplicação de soluções hidro-repelentes incolores também é desaconselhada.
P. Será necessária qualquer acção curativa adicional?
R. Possivelmente. Uma parede previamente coberta com um reboco de cimento, durante algum tempo, provavelmente tem um elevado conteúdo em sais.
Um novo reboco de cal pode remover alguns sais inicialmente. Áreas que tenham uma excessiva carga de sais podem provocar degradações prematuras localizadas (particularmente na base da parede).
Pode ser necessária uma reaplicação curativa de reboco após um par de anos.