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Carta sobre arquitectura vernácula – Realizada entre 17 e 24 de Outubro de 2000, no México

Numa introdução curta e simples a carta resume a importância da arquitectura vernacular e da sua salvaguarda:

  • A arquitectura vernacular tem um lugar central no orgulho e afecto das populações, sendo ao mesmo tempo utilitária, interessante e bela. “Embora seja trabalho do homem é também criação do tempo.”;
    • É a expressão fundamental da cultura de uma comunidade, da sua relação com o território, e simultaneamente, a expressão da diversidade cultural mundial;
  • Há que ter em atenção que este tipo de construção está profundamente ameaçada a nível universal sendo pouco a pouco suplantada por forças económicas, culturais e de
    uniformização arquitectónica;
  • «Devido à tentativa de homogeneização da cultura e das características sócio – económicas, as estruturas vernaculares por todo o mundo tornaram-se extremamente vulneráveis, encarando problemas sérios de consistência, equilíbrio e integridade.»

Considerações gerais

1. O reconhecimento da arquitectura vernacular poderá ser feito através das seguintes características:

  • Uma técnica construtiva utilizada por toda a comunidade;
  • Uma característica regional ou local facilmente reconhecível;
  • Coerência estilística, de aparência e formal, ou o uso de modo construtivos tradicionais;
  • Características específicas no desenho ou na construção transmitidas informalmente;
  • Uma resposta eficaz ás exigências formais, sociais e ecológicas;
  • Uma aplicação eficaz de sistemas de artesanato e de construção tradicional.

2. A preservação e protecção da arquitectura vernacular depende da comunidade e da sua lealdade e continuidade de execução da sua construção.

3. «Governos e autoridades responsáveis deverão reconhecer o direito das comunidades de manterem as suas tradições vivas, de as proteger legalmente, e de incentivar financeiramente a passagem para as futuras gerações.»

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Princípios da conservação:

1. Qualquer intervenção neste tipo de edificado deverá ser realizado por equipas multidisciplinares;

2. As intervenções contemporâneas em peças de arquitectura vernacular, devem respeitar os seus valores culturais e as suas características tradicionais;

3. A obras com estas particularidades identificam-se por serem estruturas particulares e únicas, que deverão ser salvaguardadas pois diferem de região para região;

4. A arquitectura vernacular é parte integrante da paisagem natural e cultural;

5. Não podemos só considerar as aptidões físicas, estruturais e espaciais desta arte. Temos também de ter em conta o seu uso, a sua tradição e outras associações intangíveis.

Linhas orientadoras para a prática interventiva:

1. Pesquisa e documentação

Qualquer intervenção num objecto de arquitectura vernacular, deve ser precedida de uma análise rigorosa e cuidada do estado geral da estrutura, tal como uma avaliação do todo do edifício.

2. Sítios, conjuntos históricos e suas envolventes

Qualquer tipo de intervenção deverá respeitar a integridade do lugar, a relação com a envolvente e as edificações vizinhas.

3. Construção tradicional

É essencial garantir a continuidade da mão-de-obra tradicional, não só ao nível construtivo mas também ao nível artesanal, algo que é fundamental para a preservação e recuperação.

Tais funções deverão ser registradas, em suporte de imagem e gráfico, e leccionadas às novas gerações.

4. Substituição do todo ou de partes dos materiais

Qualquer tipo de alterações que a passagem do tempo possa exigir, poderá ser realizada desde que os novos materiais mantenham a expressão, a aparência, a estrutura e a forma do edificado.

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5. Adaptação

As adaptações ou reutilizações das estruturas vernaculares deverão ser feitas respeitando a integridade destas, as suas características e o seu formato.

6. Transformações e restauros periódicos

Qualquer tipo de intervenções realizadas no objecto posteriores à sua construção deverão ser respeitadas como parte integrante da história da peça.

7. Formação

De modo a conservar os valores culturais identificativos da arquitectura vernacular, as entidades governamentais, as autoridades responsáveis, e outros grupos deverão prever:

a] Cursos de formação sobre arquitectura vernacular, para conservadores e todo o tipo de profissionais que poderão agir nesta área;

b] Programas de acompanhamento à comunidade, facilitando e impulsionando acções de manutenção tanto do edificado, como também de materiais e de especialidades;

c] Programas informativos sensibilizando a população residente, principalmente o público mais jovem;

d] Redes regionais de intercâmbio de experiências e de contacto com especialistas.